Texto de J. Rentes de Carvalho
Retirado do Blogue "Tempo Contado"
(infelizmente já encerrado por falta de disponibilidade do autor)
"O emigrante perde sempre. Pode ter sido intensa a esperança com que partiu, grande a sua vontade de vencer, digna de respeito a perseverança com que fez frente às dificuldades, admirável o que alcançou. Podem, aqueles entre quem vive, reconhecer-lhe valia, chamá-lo um dos seus, passar por alto o que lhe encontram de exótico ou diferente. Pode ele sentir-se salvo, realizado, sabe o que aprendeu, julga os outros por si, mas no regresso não vai encontrar entusiasmo nem boas-vindas.
Às vezes pequenas, subtis, nalgumas ocasiões inesperadamente grosseiras, desdenhosas, da menina do balcão ao guarda-republicano, do burocrata ao empregado do café, do taxista à enfermeira, mesmo de amigos e conhecidos não vai faltar quem lhe aponte erros e diferenças. Olhe que não se diz assim! Então não sabe o que é uma francesinha? Disso já cá não há! Tivemos o multibanco antes do estrangeiro!
De nada lhe servirá esforçar-se, insistir, dar prova de que pertence: o ninho rejeita-o. Mas a ninguém dará conta da sua tristeza e desespero: afivela a máscara do sorriso, finge boa vontade, cegueira, entra no coro, diz que sim, realmente: cá é que é, cá é que temos o solzinho, as praias, a boa comida."
De nada lhe servirá esforçar-se, insistir, dar prova de que pertence: o ninho rejeita-o. Mas a ninguém dará conta da sua tristeza e desespero: afivela a máscara do sorriso, finge boa vontade, cegueira, entra no coro, diz que sim, realmente: cá é que é, cá é que temos o solzinho, as praias, a boa comida."
Gostei imenso deste texto. Basta ser de quem é.
Nada tenho contra os emigrantes, nem tão pouco é essa a intenção do texto. Pelo contrário.
É antes evidenciada a mágoa pelos que vão e retornam, sabendo que nada, jamais, será como antes.
Boas leituras.
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