A invenção do amor (José Ovejero)

domingo, 22 de julho de 2018


O que levará uma pessoa a optar, deliberadamente, por viver a vida de uma outra pessoa? O que fará com que decida viver uma vida que não a sua?
 
Após a leitura de «A invenção do amor», do espanhol José Ovejero, vencedor do Prémio Alfaguara do ano de 2013, são essas as questões vivas, pulsantes, que me acompanham. O que levará, então, uma pessoa a esquecer-se de si mesma para, de um momento para o outro, assumir uma nova identidade?
 
Porque é disto que nos fala José Ovejero. «A invenção do amor» conta-nos a história de Samuel, homem que acaba de completar 40 anos, uma idade psicologicamente difícil de se integrar, seja pela vida construída até então, que não satisfaz, seja pelos sonhos tardios, fora da suposta validade.
É nesse mar de dúvidas, anseios, mas também de alguma resignação, que encontramos Samuel. Um homem que se apaixona na mesma medida em que respira. Mas amar, segundo diz, nunca amou.
 
Tudo começa com um estranho telefonema. Já a noite ia avançada quando uma pessoa, do outro lado da linha, lhe comunica que Clara morreu. Por muito que faça uso das suas reminiscências ao longo daqueles segundos, Samuel sabe que não conhece nenhuma Clara. E muito menos, namorara alguém com esse nome.
 
Há momentos na vida que não se explicam. São mais esses os momentos do que aqueles que se conseguem explicar com detalhe. Foi assim que, sem nada prever, Samuel assume-se como o ex-namorado de Clara, falecida após um acidente de aviação.
 
Aceita ser esse Samuel casado, amante de Clara. Após a decisão impensada, o leitor acompanha o resvalar de uma história, toda ela, baseada numa mentira. A aproximação de Carina, irmã de Clara, impulsiona-o a entrar numa mentira cada vez maior. A questão que impera é: porquê?
Será solidão? Medo? Resignação? Desistência? É o quê?

É sobre esse desejo de se reinventar que José Ovejero nos consegue prender até ao fim desta peculiar história. Sentimos que na incapacidade de amar reside, afinal, um desejo de reverter essa tendência. Sentimos que independentemente das resistências impostas a um coração desordeiro, no final, surge sempre a constatação de que o amor impera. Mais que não seja, inventado.
 
 
 Seja feliz,

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