A ler José Ovejero

segunda-feira, 16 de julho de 2018

"Nunca gostei de álbuns de fotografias: neles, as pessoas têm tendência a parecer mais felizes do que na realidade são, porque só fotografamos as festas, as celebrações, as ocasiões em que estamos com os amigos, as viagens, e até nos momentos em que não estamos de todo felizes, quando nos pomos diante de uma câmara, temos tendência a sorrir, a abraçar o corpo que temos a nosso lado com mais força ou emoção do que na verdade sentimos. Deviam tirar-se fotografias dos momentos tristes, dizer: «Espera, não te mexas» à mulher que chora por nossa culpa ou que nos insulta porque não lhe damos aquilo que acha que tem direito, auto-retratarmo-nos no momento em que estamos a mentir, ou a cerrar os maxilares para não dizermos o que pensamos, ou quando nos sai um gesto de desprezo no qual custaria imenso reconhecer-nos. Suponho que os álbuns ou as coleções de fotografias que guardamos no computador servem de compensação ao trabalho injusto da nossa memória, pois ela, pelo contrário, costuma guardar os momentos dolorosos, os traumas e as frustrações, aquilo em que falhámos, as situações em que não reagimos como era nosso desejo."

José Ovejero in "A Invenção do Amor"
 
 
 
Boa semana,

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