Victoria (Knut Hamsun)

quarta-feira, 25 de julho de 2018


 
Knut Hamsun nasceu em 1859 em Gudbrandsdalen (Noruega) e foi vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 1920. Sempre isolado, com parcas relações com outras crianças, Hamsun viu nos livros o seu refúgio, lendo muito e desde cedo.
 
O livro «Victoria», cujo nome remete para a sua primeira filha, fruto do seu casamento com Bergljot Gopfertin, conta-nos a história de um amor impossível e todas as amarguras que essa mesma impossibilidade impõe a Johannes e a Victoria.
 
Johannes é filho de um moleiro. É reservado, muito tímido, virado para si mesmo e para os seus poemas. Victoria é a menina rica, contudo, a família vive momentos de grave fragilidade económica. Na sequência da pobreza iminente, a jovem terá de casar com Otto.

O início desta história, aquando a infância de ambos, é um levantar de cortina de uma realidade que se manterá bem acesa, já eles adultos:  enquanto Johannes conduz a jovem Victoria e os outros rapazes num passeio, incluindo Otto, sentimos desde logo a diferença de tratamento entre os rapazes. Otto deseja-o afastado. Victoria, desde logo, deseja-o perto.
 
É um amor que nasce e cresce na medida dos anos, intensificando-se. Um amor que se instalou, sem pedir, numa época em que a inocência o torna mais destemido para, mais tarde, com o peso da idade, se sentir a vergonha, o embaraço e a constatação de que exige ser escondido.
 
São as circunstâncias familiares e sociais que lhes dão essa certeza penosa. O avançar dos anos transforma Johannes num conceituado escritor e Victoria vive a sua vida entregue às vontades de um pai orgulhoso. Otto é visto por aquele como a solução dos problemas da família, traduzindo-se no casamento que a jovem teme, mas aceita.
 
Já se disse que as melhores histórias de amor são aquelas que nunca chegam a acontecer ou, ainda, que as melhores histórias de amor são aquelas que têm um fim. Depois de conhecer este casal, o leitor certamente refletirá sobre isso mesmo, essa impossibilidade de amar, os sentimentos bipolares que emergem em cada um, ora um entusiasmo febril, ora um abatimento descarado.
 
A narrativa surpreende pelos rasgos criativos do próprio Johannes. São muitas as vezes em que o leitor para e pensa no que está ali. Será a realidade plasmada ou uma das suas histórias criadas? Esse aspeto abre portas escancaradas ao leitor, que imagina, que supõe e que também ele deseja que alguma daquelas histórias possa ser feliz, possa ir finalmente de encontro a um casal que rebenta de amores.

Não será assim. O final de «Victoria» é trágico, deixando o leitor à deriva entre aquilo que poderia ter sido, aquilo que não foi, e o que ficará para sempre. Independentemente de nunca ter visto a luz do dia, o amor a Johannes ficará para sempre, assim como aquela carta que lhe perpetuará uma certeza dolorosa, de quem nada pode fazer para alterar um destino de saudade e resignação.



 
 
Nesta estreia com o autor, fica a vontade e a certeza de ler e conhecer mais.
Sem sombra de dúvida.
 
 
Seja feliz,

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