paz traz paz (Afonso Cruz)

segunda-feira, 25 de novembro de 2019


Afonso Cruz é o escritor que trata as palavras por tu. Sabemos muito bem que nas relações mais próximas, em que podemos tratar o outro por tu, a proximidade fala mais alto e as palavras são sempre certeiras.

Afonso Cruz, cá para mim, deve ser o melhor amigo das palavras. Nas mãos do escritor, as palavras derretem e alastram-se em novos significados. Talvez, ainda mais poderosos. Na sua escrita, a palavra lágrima acaba num mar de sonhos e a tristeza, essa, pode ser travada por um canteiro de flores.

Serão palavras assim, aparentemente soltas, que fazem nascer poemas dos lugares mais improváveis. Sabemos também que a vida nos traz, sempre, as melhores surpresas vindas desses lugares que, por muito que se dê corda à imaginação, jamais lá chegaríamos. 


A imprevisibilidade da vida num poema, em muitos poemas, conduzem o leitor - atento ou desatento - a caminhos que se querem revisitados. Falo daquelas estradas repletas de encruzilhadas que, na pressa dos dias, já ninguém perde tempo para explorar. Falo do amor, da saudade e da esperança. 

Talvez a pressa dos dias seja tão grande que nos estreita a capacidade de enxergar. Só em frente, tamanha a pressa que nos faz esquecer de respirar, de parar, de acalmar e só assim, nessa tal imprevisibilidade, tocarmos a clareza das coisas. A clareza da vida.

Da mesma narradora de "O livro do ano", este pequeno livro, ilustrado magistralmente pelo autor, vem repleto de pensamentos soltos, cheios de sentido, por muito inusitados que possam parecer à primeira vista.
"Páginas feitas de inusitada poesia, para leitores de todos os feitios. Até os normais."

Um pequeno livro que é um exercício aplicado ao verbo viver: para ter sentido, exige uma repetição insistente. A repetição de quem aprende e desaprende, todos os dias.
Se isto não é viver, o que será?


Esta leitura contou com o apoio:
megustaleer - COMPANHIA DAS LETRAS


Seja feliz,

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