A Bofetada (Christos Tsiolkas)

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Hector e a esposa, Aisha, convidam os amigos para um churrasco na sua casa. Até aqui, tudo bem. Não fosse o primo Harry dar uma bofetada a Hugo, um menino de três anos de idade. Ah! Hugo não é seu filho. Está assim criada a premissa de uma história que, acredite, tem muito para contar.

Após o incidente, que assume proporções gigantescas, o leitor conhecerá a versão daquele acontecimento à luz de diferentes personagens. Desde Hector, dono da casa, primo de Harry, marido de Aisha que, por sua vez, é a melhor amiga de Rosie, a mãe de Hugo.

As opiniões são, forçosamente, diferentes. Em cada relato é possível o vislumbre de percepções distintas e estas são sempre marcadas pelas experiências de vida de cada um. Christos Tsiolkas escreve um livro original que, a partir de uma bofetada, nos leva a questionar assuntos como a parentalidade, o poder do legado familiar, o peso do passado e uma sociedade que muda cada vez mais rápido, num abrir e fechar de olhos.

Ao longo da leitura, o leitor perceberá que cada personagem carrega em si mesma alguma espécie de violência, seja ela física ou psicológica. Esta questão permite-nos, também, refletir sobre o poder das nossas experiências na infância como alavanca aos comportamentos que viremos a ter, quando adultos.

Harry aprendeu a ver a agressividade do seu pai e a violência deste sobre a sua mãe, como a resposta possível que traz paz - e silêncio - aos conflitos que não se resolvem. Também Rosie, mãe de Hugo, que vê no menino a sua única razão de existir, viveu ao lado de um pai entregue à bebida e a uma mãe ausente.

Este é um pequeno exemplo das muitas histórias de violência e abandono que encontrará neste livro. É também uma história de traições e a capacidade, que vai crescendo na medida da idade, para perdoar e seguir em frente.

 💓

Um livro que foi uma boa surpresa, que nos suscita uma infinidade de temas para refletir sobre a complexidade que tanto nos caracteriza e, simultaneamente, as semelhanças que acabam por se refletir numa conduta tão previsível. Tão humana. 

 

 

 Seja feliz, 


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