Menina de Ouro (Chris Cleave)

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Se há qualidade que se pode distinguir nas obras de Chris Cleave é, sem pestanejar, a sensibilidade da sua escrita. Em todos os livros que já li do autor, há sempre esse registo que o distingue, feito de muito cuidado na forma como aborda e cria as suas personagens, todas elas, carregadas de segredos, de anseios e de esperança.

Em «Menina de Ouro» o mesmo acontece, nesta que é uma história de profunda amizade entre Kate e Zoe, e também, o reflexo dessa mesma amizade na relação distinta que ambas acabam por tecer com Jack, todos eles ciclistas de alta competição.
 
Nas notas finais do livro, o autor faz questão de frisar a resiliência que os atletas de alta competição precisam de ter. A par da resiliência, há uma mão cheia de características que acabam por distinguir estas pessoas dos comuns mortais. Desde o esforço físico, o foco, a concentração, os planos de ação que devem ser seguidos estritamente, sem falha, leva a que muitos aspectos da personalidade acabem por ficar submersos, como quem sofre em silêncio, não se vá distrair com os barulhos que não se podem encarar de frente.

Cada uma das personagens esconde mazelas de um passado pouco feliz mas é sobretudo o coração partido de Zoe que cria uma estrutura sólida, como a cola que une todas as partes desta amizade. E todos nós sabemos que são sempre os maus momentos aquele que decidem a fortaleza, ou a fragilidade, de uma relação.

Kate e Jack apaixonam-se, casam-se e nasce Sophie. A amizade dos três jovens, ladeada entre as sombras pesadas de Zoe e o cuidado que todos depositam na menina, diagnosticada com leucemia, será o grande mote de uma história de grande superação e a revelação de novos segredos.

A par com o empenho e esforço que as competições exigem, Zoe, Kate e Jack, revezam-se na capacidade que demonstram e no sacrifício que levam a cabo em detrimento de algo maior, o amor à menina e ao seu bem-estar.

Chris Cleave criou personagens de uma enorme complexidade para retratar o poder do amor aos nossos, o poder do foco e dos objectivos que nos define. Uma história que nos mostra o caos da vida, a superação, os resquícios que sempre ficam e que acabam, de uma maneira ou de outra, a imprimir-nos a nossa individualidade e a certeza do nosso papel na história que nos calhou em mãos. 
 
Cabe-nos a nós, sempre, o poder da escolha, o poder de uma decisão.
 
" Era assim o mundo. Havia dois tipos de pessoas quando o semáforo ficava vermelho. Um acelerava, o outro travava."
 💓

Um livro para todos aqueles que se sintam cansados, com tendência à reclamação e que precisam, urgentemente, de olhar a vida com o encantamento que merece.

 

Seja feliz,


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