Cinco Esquinas (Mario Vargas Llosa)

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

«Cinco Esquinas» do Nobel Mario Vargas Llosa fez correr muita tinta, pelos piores motivos. Não conheço ninguém que tenha gostado deste livro ou que, no mínimo, se desse ao trabalho de ler as entrelinhas.

Não vou estar com rodeios. Para ler este livro de Llosa só tem duas opções:  1) encarar a história como uma fincada crítica social, uma comédia, uma paródia gigantesca ou, no melhor remédio de quem depressa se satura, 2) fechá-lo.

Não há forma de conhecer este livro sem que para isso de despoje do trabalho conhecido do autor, claramente distinto mas que, na minha opinião, serve um propósito maior. «Cinco Esquinas» é a crítica escrita e viva de Llosa contra Alberto Fujimori que o derrotou na corrida eleitoral à Presidência do Peru no ano de 1990. É conhecido o autoritarismo de Fujimori e as inúmeras críticas em torno do seu papel.

É importante entender este contexto para que, só depois, se abra o livro e possa, (porque não?), divertir-se com uma panóplia de personagens sem carácter, dúbias, vazias e quase cómicas por si mesmas.

Acontece um pouco de tudo na história de dois homens, ricos e bem sucedidos e, supostamente, bem casados. As mulheres, melhores amigas, levam a sua amizade a um ponto de rebuçado, estreitando uma forte relação sexual que é, também, outro lado da crítica que Llosa decidiu fazer.

Neste que é um livro transformado em crítica e dedos apontados, não deixa de lado a podridão da comunicação social, como abutres que não olham a meios para atingir os fins. Tudo acontece aqui. Em «Cinco Esquinas» temos personagens (intencionalmente) ridículas, temos uma escrita (intencionalmente) desprezada para que, na soma, se veja a verdadeira intenção do autor: ridicularizar para sensibilizar. Consegue-o. 

Não entro no grupo de pessoas que não gostaram do livro porque vejo nele uma intencionalidade muito evidente. Leia este livro despojado das anteriores ideias que possa ter da escrita de Llosa. Acredita que esta é uma dica valiosa para que possa apreciar uma história, não propriamente pela qualidade literária em si, mas pelo propósito (muito aceso) de um autor que decidiu escrever zangado, muito zangado.

O resultado só poderia ser uma comédia de dentes, muito, afiados.

 

 

Seja feliz,


1 comentário:

Carlos Faria disse...

Não sei se fiquei motivado ou assustado, sou um dos que admira o Llosa escritor, conheço-o na crítica a ditaduras como na obra sobre o Chibo, conheço a relatar genocício na guerra do fim do mundo, conheço-o a falar do seu país no café da Catedral e até na Amazónia com o seu falador (talvez o que menos me marcou) e até andei pela sua casa verde. Este talvez seja o mais pessoal, mas deixou-me com alguma curiosade.

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