Os Anões (Harold Pinter)

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

«Os Anões», único romance escrito pelo vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 2005, Harold Pinter, fez correr muita tinta. Há um consenso sobre o quanto este livro desagradou a maioria.

 Porquê? Não sei. 

Pessoalmente, gostei muito desta história peculiar, que nos conduz através de uma escrita pouco esperada, sublinhando a magistralidade dos diálogos. Há muito tempo que não era confrontada com uma série de diálogos tão bem construídos, audazes e repletos de mensagens escondidas.

A vasta experiência (e maioritária) do autor no teatro, está muito presente, também, neste que foi o seu único romance. Talvez por isso o desagrado venha daí, contudo, se o leitor começar a leitura deste livro sem a expectativa de uma história esperada, uma estrutura esperada, lançando-se ao desconhecido como quem caiu de pijama em pleno teatro, asseguro que se vai divertir.

«Os Anões» é a história de uma amizade entre três rapazes e uma rapariga, esta última, o centro (inesperado) de toda esta jornada feito de jovens corações sonhadores (esta frase saiu-me sem pensar e agora dou comigo a pensar no livro de Richard Yates, repleto também ele de personagens tristes e desamparadas), que deambulam pelas ruas soltas e aventureiras de Londres.

Nem sempre um livro tem de ser regido por uma profunda temática para que seja bom. Por vezes, escrever apenas sobre os anseios de quatro jovens, todos eles perdidos em si mesmos, as linhas que cruzam entre um e outro amigo, como quem tente encontrar-se no reflexo do outro, pode ser matéria mais do que suficiente para fazer nascer uma bom livro, uma boa história.

Creio que seja o caso. Harold Pinter escreveu sem pejo, como quem brinca com as personagens, pondo aqui e ali, desviando para acolá, talvez para regressar mais tarde e revelar-se, só no final. Ler este livro permitirá ao leitor mais despojado uma viagem engraçada por Londres e um entreabrir de portas para os segredos destas personagens, sempre imprevisíveis, a cobrirem-nos de ansiedade pelo inesperado, tal e qual como uma peça de teatro.


Já lhe referi que os diálogos são geniais?

Já? 

Queira desculpar-me. É que são mesmo e merecem a sua leitura, atenta, mas igualmente despojada. 

Fica a dica e os meus desejos de ótimas leituras.


Seja feliz,

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