«Coelho em Paz» é o último livro da tetralogia de John Updike sobre o peculiar personagem Harry Angstrom, mais conhecido por Coelho.
Dez anos volvidos, e a vida de Coelho sofre mais mudanças a que o tempo assim parece estar destinado: a alterar, a modificar, a avançar. Nem sempre para melhor. O coração de Coelho, outrora vigoroso, está a dar sinais de cansaço. Está doente. As dores no peito, repentinas, são os primeiros sinais, ingratos, do tempo que passa sem cerimónia.
O tempo passa e muda. Mas Coelho envelhece igual a si mesmo: "Cada vez que alguém me diz que faça qualquer coisa, o meu instinto indica-me que faça o contrário. Isso causa-me muitos problemas, mas também me tem divertido muito." (p.28).
E o instinto de Coelho é bem vincado. Um homem difícil de esquecer.
Neste último livro, continua a relação difícil entre pai e filho. Nelson parece nunca tomar as decisões mais acertadas, aos olhos de Coelho, e nessa sequência, o vício das drogas vem dar a este a certeza da razão.
"Há dois caminhos que conduzem à felicidade (...). Trabalhar por ela, dia a dia, como tu e eu fizemos, ou tomar um atalho químico. O caminho parece demasiado longo." (p.65)
Uma avalanche de novas situações acentuam a necessidade de virar a página, uma vez mais. Coelho nunca se sente feliz onde está, nem para onde decide ir.
O caminho que traçou deixou para trás uma série de outros caminhos, ramificações, que lhe ficarão, para sempre, na garganta. Por definir. Por engolir. Por solucionar.
É essa angústia global que define esta história de vida escrita por John Updike, num retrato das últimas quatro décadas da vida americana.
Coelho quer sempre mais. Corre em frente, esquecendo-se que aquilo que mais desejou, e ambicionou, ficou para trás.
E é assim que tudo termina. Tal qual como começou.
Um dia parece que temos a vida tão definida, tão perfeitamente arquitetada para ser o que era para ser mas, de um momento para o outro, algo decide não ser bem assim.
É precisamente esse algo que assombra Coelho. Ao longo de 30 anos corre desesperado por esse algo, que de tão profundo em si mesmo, não consegue encontrar. Talvez saiba a resposta, mas a procura é árdua demais. Arriscada demais.
"O conselho é interessar-se mas, na verdade, cada vez se interessa menos. A natureza é assim." (p.503)
A natureza é assim.
E o Coelho é assim.
O eterno mimado, que correu sempre na direção contrária.
Por preguiça. Por desleixo. Por egoísmo.
Ou simplesmente porque sim.
Agora, o coração cansado decidirá por ele.
Enfim, em paz.
Muito bom!
Inesquecível.
www.wook.pt Coelho em Paz, o encantador último livro da série Coelho, é simultaneamente divertido e comovente. Estamos em 1989 e Harry "Coelho" Angstrom está longe de ter paz. Aos cinquenta e cinco anos e com excesso de peso, vê-se a braços com um negócio em crise e um coração que começa a falhar. Também a família é causa de preocupações. O filho, Nelson, é um homem arruinado, viciado em cocaína e com a auto-estima destruída. A mulher, Janice, decide voltar a trabalhar. A nora, Pru, aparentemente está a insinuar-se a Coelho e este, apesar de saber que deve ignorar, dá por si a não conseguir fazê-lo. Afinal, há que aproveitar a vida ao máximo. E já não lhe resta assim tanto tempo.
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