A Queda Dum Anjo (Camilo Castelo Branco)

quinta-feira, 30 de junho de 2016



  Conto mais do que devo, se não quer saber, pondere!
 
Que leitura prazerosa! Um mês de verdadeiro encantamento na companhia deste peculiar e inesquecível Calisto Elói. Camilo Castelo Branco concebeu um anjo impossível de esquecer e, o mais surpreendente de tudo, e que pude constatar nas inúmeras críticas e textos de apoio que fui lendo posteriormente, prende-se com a atualidade deste pequeno livro. Escrito em 1866, tudo o que nele consta, é prato certo dos nossos dias. Sem tirar, nem pôr.
 
Nesta sátira cheia de humor, Camilo Castelo Branco, na personagem de Calisto Elói, traz a lume a figura de um país cheio de manhas e maus costumes. Mas que se mantenham as posturas.
O título é pensado ao pormenor sendo ele mesmo o fio condutor de toda a história, vejamos: Calisto é um homem de costumes e que parece ter estagnado no tempo. Com uma moralidade a tender para excessos desmedidos, tem um apontar de dedo a tudo o que de mal vai na sociedade. Estudioso e muito dedicado às suas leituras, a sua vida transforma-se a partir do momento em que deixa a vida de Trás-os-Montes para viver em Lisboa, no momento em que é eleito Deputado, representando a sua terra.
 
A questão política vem evidenciar a moralidade exacerbada deste anjo, que critica todos os luxos de que Lisboa é feita, num exagero que roça o ridículo. É também nesses acesos debates que Calisto deixará de ocupar tanto do seu precioso tempo nas leituras para, contra a vontade, começar a travar conhecimentos com outras pessoas que se tornarão, igualmente, muito pertinentes nesta história.
 
Um deles será Bruno de Mascarenhas e D. Catarina, personagens fundamentais numa história que é feita, tão somente de duas facetas de um anjo que, afinal, se tornou no mais comum dos mortais.
 
Quando soube da relação adúltera daquela, Calisto não pensou duas vezes em arranjar forma de pôr termo a tal disparate, a tal imoralidade. No entanto, é precisamente neste ponto que o anjo, até então intocado, conhece o poder do amor. E com ele, tal como o vento, tudo leva, pela porta dianteira.
 
Camilo Castelo Branco nesta pequena sátira conseguiu, no conjunto de personagens irrepreensíveis, apontar o dedo a uma série de questões essenciais aos costumes de um país. É a casaca da política que se veste, e se vira, com uma facilidade tal, é o amor que de seguro nada tem e «quanto mais prima mais se lhe arrima», entre uma série de outros desarranjos pessoais e sociais de que só um anjo tentado, disfarçado afinal de homem, se digna a cumprir na perfeição.

 
 
 
Um dos melhores livros deste desafio literário!
Venha o próximo.
 
Boas leituras!

6 comentários:

Beatriz disse...

Denise :)
Sabia que gostarias! Pena que tantas coisas se mantenham iguais.
Gostei muito deste livro.
Camilo é um escritor injustiçado, a meu ver.

Boas leituras.
Beijinhos e que ganhe Portugal (está quase a começar)

Denise disse...

Adorei mesmo, Beatriz!
Um dos aspetos mais impressionantes é mesmo a atualidade da obra. Impressionante. Em tudo!
Um autor muito injustiçado... o eterno rival de Eça :)

Boas leituras!

E eis que GANHOU PORTUGAL! :)
Que euforia!

Carlos Faria disse...

Já há muitos anos que não leio Camilo Castelo Branco e este parece-me ser uma boa escolha para voltar a ele. Curiosamente já nem me lembro do livro que li dele, mas sei que não foi este.

Denise disse...

Olá Carlos :)

Li «Amor de Perdição» em 2008, e gostei muito na altura.
Agora esta «Queda dum Anjo» penso que me arrebatou ainda mais. É genial, recomendo muito para retomar estas maravilhas da Camilo.

Boas leituras!

Su disse...

Olá, Denise,
Ainda não li Camilo Castelo Branco, mas acho que me convenceste a procurar dar-lhe uma oportunidade :D
Que venham mais boas leituras!

bejjinhos

Denise disse...

Su! :)

O nosso Camilo merece toda a atenção e dedicação.
Fica a dica e espero que gostes. Muito!

Beijinhos e muitas leituras.

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