Contos de Assis #1

sábado, 15 de abril de 2017

O «Alienista» é um dos contos, ou o conto, mais conhecido de Machado de Assis. Muitos acabaram por o enquadrar na novela, no entanto, conto ou novela, a verdade é que estamos perante uma história que o irá cativar não só pela comédia que lhe assiste mas, também, pela crítica social, pelo egoísmo e pela mancha humana impregnada e assumida em primeira mão pela personagem do Dr. Simão Bacamarte.

É a história do Dr. Bacamarte, médico dedicado, que ao focar-se na Psiquiatria, abrirá um manicómio para o efeito, conhecido então pela «Casa Verde».
Começará então uma espécie de internamento em série pois, prepare-se leitor, em cada detalhe, em cada frase ou trejeito dos moradores, inclusivamente da própria esposa, o Dr. Bacamarte, fará um diagnóstico diferenciado no quadro das doenças mentais.
 
Toda a população passará alguns dias na «Casa Verde», uns mais, outros menos. Nenhum, ou quase nenhum, perceberá o motivo do internamento. Aparentemente, apenas o Doutor saberá. Ou não.
 
A azáfama que se viverá naquele lugar, as fúrias que se acenderão em torno daquela Casa, em torno daquele médico e em torno das aparentes doenças mentais terminarão, afinal da maneira menos pensada inicialmente.
 
Cansado de, afinal, errar diagnósticos, decide que a loucura reside do seu próprio lado, internando-se a ele próprio na Casa Verde, vivendo os seus últimos dias entregue àquela que fora, sempre, a sua grande causa.
 
 
O conto de Machado de Assis, em certas passagens, relembrou-me «A Montanha Mágica» de Thomas Mann, pelo receio dos moradores, pelo tempo que ali parecia não passar, bem como aquela passividade que ninguém parecia, aparentemente, controlar. Paralelamente, o conto de Pirandello, «As Sete Casas», num confronto direto com a morte, surgiu-me também ao longo da leitura de Assis. Juntam-se assim dois temas que considero essenciais na história do Dr. Simão: o tempo enquanto matéria prima para fazer dele o ouro que brilhará diretamente do seu umbigo, enquanto médico conceituado, que tudo sabe e nada permite questionar. E a morte: depois de uma jornada meritória de pesquisas, de diagnósticos, de loucuras distorcidas, o que seja, houve todo um percurso que se colou, inegavelmente na memória dos moradores e por isso mesmo, a morte na Casa Verde será um mero acessório a uma vida que foi, e teimará em ser, para sempre, vaidosa e tão dona de si.
 
Muito bom!
Boas leituras.

2 comentários:

Carlos Faria disse...

Ao nível de contos, O Alienista é o único que conheço de Assis, mas continua a ser a minha obra predileta das várias que já li dele.

Denise disse...

Olá Carlos :)

Gostei imenso, e estou a gostar muito de continuar a ler os restantes contos.
Promete!

Beijinhos

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