AVISO DE SPOILER.
NÃO QUER SABER, NÃO LEIA!
Hoje
trago-vos a minha crítica do primeiro livro que li do vencedor do Prémio Nobel
da Literatura de 2010, Mario Vargas Llosa, com “O Herói Discreto”.
Não fiquei
rendida à escrita deste autor. Mais rendida fiquei à sua história de vida,
digna de um livro, e aposto que este em específico espelha um pouco dela, mas
não nos adiantemos.
«Herói
Discreto» é uma
história centrada em Felícito Yanaqué, um homem com perto de 50 anos, muito
respeitado na sociedade, que lutou de pulso firme para conquistar a
estabilidade financeira, e que hoje é gerente de um negócio de transportes, do
qual muito se orgulha. Tenta, a custo, transmitir aos filhos o fruto do esforço
como forma de se conseguir alguma coisa na vida. Que não é com panos quentes,
nem com falas mansas que a coisa lá vai. Não é manso nas palavras nem nos
gestos, mas tem um coração quente, no lugar certo.
Tudo muda
com a chegada de uma carta. Uma carta a extorquir-lhe dinheiro, com ameaças.
É
precisamente nesse momento que Felícito mostra esse herói que há dentro de si,
e nega perentoriamente compactuar com essa gente, denotando aqui o traço
definidor da escrita de Llosa: a ênfase das desigualdades sociais, das
injustiças e das atitudes iniciais, por vezes, quase impensadas, que o ser
humano assume para chegar aos finais desejados.
Sentindo a
injustiça de compactuar com corruptos e sentindo-se duplamente traído ao
descobrir que os seus colegas aceitam ser extorquidos em prol de uma paz
fingida, mais bate o pé nessa recusa fazendo desta uma homenagem e consideração
infinitas ao legado deixado pelo seu pai: “Não te deixes pisar por ninguém.”
A relação
familiar, mais especificamente, a relação entre o pai e o filho, são a marca
notória e presente ao longo deste livro. Apesar de poder o leitor sentir-se
injustiçado ao deparar-se com duas histórias paralelas conhecendo-lhe o fim e o
cruzamento das mesmas, praticamente no fim, há que reconhecer que a mensagem do
autor é pertinente e detentora de uma reflexão profunda para lá da leitura do
livro. A relação entre pai e filho é aqui essencial para que as linhas soltas e
a essência do tema do autor se fundam num só: o amor de sangue, que corre nas
veias, é definidor e é um marco na vida de um homem. O modelo, o exemplo de
alguém na vida, para moldar, orientar, revelar e projetar, é uma nota bonita
que o autor perpetua neste tão discreto herói.
A história
de vida de Mario Vargas Llosa é marcada pela ausência do seu pai até aos 11
anos de idade, que abandonou a mãe após saber da sua gravidez. Pensando que o
pai havia morrido, Llosa vê o pai regressar aos 11 anos, lidando igualmente com
a aceitação do seu regresso por parte da mãe.
Neste
livro podemos perceber a transferência da figura do pai, da importância desse
homem na vida de qualquer pessoa: um filho trai o pai, escrevendo cartas
ameaçadoras e envolvendo-se com a sua própria amante. Llosa nunca revelou
qualquer pudor em se projetar nos seus livros, tendo inclusivamente saido
prejudicado na sua vida política em detrimento das suas obras e em consequência
de um povo tão preconceituoso como o seu (Peru).
É com base
nisto que refiro a interessante história de vida do autor e a minha
incapacidade de me desligar dela ao longo da leitura deste livro onde,
acredito, é fácil perceber certas ligações e transferências à tão imortalizada
figura paterna.
Não é, para mim, uma escrita envolvente, e as histórias paralelas nem sempre me
fascinaram, no entanto, a mensagem que de lá se retira vem connosco, o que me
leva a considerar estar perante um bom livro.
Boas leituras!
2 comentários:
Que história de amor corrosiva, mas vale a pena ler.
Bom fim-de-semana :)
Olá Marta,
Penso que te referes à citação do livro «Monte dos Vendavais» não é?
Concordo. Bela palavra para a descrever. Corrosiva e simultaneamente das mais belas :)
Obrigada pela visita, e boas leituras!
Bom fim-de-semana
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