Seja o que for (Miguel Araújo)

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Miguel Araújo regressa com mais um conjunto de pequenas crónicas em que o olhar atento sobre a forma distraída de levarmos a vida, dá lugar a reflexões necessárias, nem sempre tidas em linha de conta.

A atenção plena, um termo (felizmente) cada vez mais conhecido, atravessa todo o livro do autor, que nos provoca, subtilmente, a pensar a necessidade de estarmos mais atentos, mais conectados a nós mesmos e menos um pouco às tecnologias que nos vão devorando. A pressa dos dias parece prevalecer sobre os ponteiros do relógio, acelerados e convidativos à necessidade de preencher os espaços vazios com mais tarefas, tantas vezes, igualmente vazias.

O que andamos nós a fazer com o nosso tempo? Com os nossos dias? Com as nossas pessoas?

É o ponto de partida para a leitura destas crónicas, leves na forma, profundas na mensagem que deseja transmitir. A ideia romantizada do viver melhor como um eufemismo é, por si só, um erro tremendo. Porquê romantizada? A verdade é que é, sim, possível viver melhor com o tempo que nos é dado mas essa proeza tem água no bico. Viver melhor não passa por ter mais. Pois sim, que seja um cliché, mas a troca dos verbos entre ter e ser é a chave para que saiba que nos breves momentos em que lava a loiça com toda a atenção, aos movimentos, ao som, ao olho, está a viver o melhor que a vida vai trazendo.

Este talvez seja um livro de pequenos nadas que, somados, dão forma a ideias mais completas, com mais sentido. Basta, como se fosse simples, olhar para dentro. Numa era em que o trabalho, o número de tarefas riscadas na agenda, as novas tarefas que se arranjam apenas para nos intitularmos de pessoas altamente apressadas e produtivas (?), esquecemos que o verdadeiro emprego/trabalho que temos de fazer é em nós mesmos. 

Corra um bocadinho na praia, como o Miguel Araújo faz. Medite. Nem que sejam apenas dez minutos mas faça-o, de forma consistente. Lave a loiça à mão e decifre a origem de cada nódoa nos pratos, copos e panelas. Ouça. Veja. E sinta.

Crie raízes em torno de si mesmo porque no fim, será sempre você quem conta a história que os dias foram desenhando. A escolha é sempre sua.

💗

"Eu faço por substituir o mantra em vigor pelo mais maravilhoso dos estribilhos, o do poeta Daniel Faria. Não nos é dado conhecer o rumo deste carrossel desenfreado que é a vida, mas podemos sempre repetir este estribilho até à exaustão: «Seja o que for/ Será bom./ É tudo.»"

 

Boas leituras!

 

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Seja feliz,


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