Longe do Paraíso (Sacha Sperling)

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

 

 Hoje falo-lhe de um livro que não gostei mas que, ainda assim, pela temática que traz, acaba por se tornar relevante.

A escrita de Sacha Sperling é pouco desenvolvida, é crua e vai direta ao ponto, por vezes, até de mais. Talvez se possa ajustar mais ao público adolescente, contudo, a estrutura narrativa não me convenceu de todo.

Escrevo sobre ele pela relevância da temática que o autor aqui imprime: o desamparo na adolescência e a pornografia como caminho possível. Falamos aqui de Mona, uma adolescente muito bonita e integrada num contexto familiar de abandono, de descuido e de muitas faltas. Ela rouba, muitas vezes por despeito, sente-se dona de um mundo que sabe que irá conquistar.

Também a personagem não me convenceu mas sei que, creio que tenha sido intencional, a pessoa de Mona é um conjunto trabalhado na sequência de tudo aquilo que lhe vai acontecendo. A adolescência, por si só, uma das fases de desenvolvimento mais difíceis, é terra fértil à sensação de desamparo e de incompreensão.

Assim, Mona começa a perceber o seu corpo como a via para sair de um mundo que não gosta, que repele e rejeita estando para isso preparada para arriscar tudo. Quando digo tudo é o mais fundo dos limites que possamos pensar. A pornografia torna-se o meio para atingir os seus fins distorcidos.

Como já disse, nada me convenceu nesta que considero uma história mal escrita, mal construída e com um desfecho cheio de pontas soltas e muitos milagres de que a boa escrita não é feita, de todo. 

Ainda assim, pesa aqui a reflexão que fiz após a leitura sobre um tema que, nós, adultos, desejamos evitar porque é inconveniente e, acima de tudo, muito triste. Até onde estão quebradas as nossas crianças? Numa época em que mais se registam perturbações mentais nas crianças e nos adolescentes, este mundo retratado pelo autor deveria empurrar-nos para questões que estão tão mal resolvidas e que carecem, urgentemente, de um olhar mais atento.

Falo das famílias disfuncionais, falo de pais e de mães que não estão preparados para o desafio de cuidar de uma criança e orientar-lhe os passos. O resultado só pode ser desastroso e se, também como eu, o leitor não simpatizou com Mona, assim à primeira vista, é precisamente porque ela é o resultado de muitos dias de abandono, de maus tratos que culminam naquele abismo de que, quanto mais se olha, mais depressa se entra nele.

E quando se sai, os danos de um mundo sombrio que nenhuma criança deveria conhecer, ficaram na pele para todo o sempre.


"Pouco me importa quem adormece ao meu lado, acabo sempre por sonhar sozinha."

 

 Boas leituras!

Seja feliz,


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