Nô e eu (Delphine de Vigan)

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

«Nô e eu», de Delphine De Vigan, conta-nos a história de amizade improvável entre Lou e Nô. Lou é uma adolescente de 14 anos, sobredotada e com alguma dificuldade ao nível das competências sociais, isolando-se no seu próprio mundo. Nô é uma rapariga sem-abrigo, de 18 anos de idade.  

Dizem muitas vezes que a beleza da vida é a sua imprevisibilidade. Dizem que a vida pode mudar de um momento para o outro e mesmo sabendo disso tão bem, a nossa tendência é desacreditar. Mas quando esses momentos despertam, levando-nos a rotina dos dias, então sim, sabemos que a vida nos quer mostrar alguma coisa. 

É o que acontece quando o professor a relembra de um trabalho de investigação e ela, do nada, aponta o tema dos sem-abrigo, tentando levar à turma um conhecimento mais alargado daquela realidade. É também num desses acasos que nunca o são, que conhecerá Nô, perdida na estação de comboio, com uma bagagem que não a leva a lado nenhum a não ser a um canto qualquer reservado da rua onde possa viver os dias.

Assim nasce uma amizade feita de contrastes, revelando aqui a fase da adolescência como a única em que somos capazes de nos sentirmos heróis, o sangue que pulsa agitado nas veias e nos assegura que podemos mudar o mundo, que podemos mudar tudo aquilo que, aos nossos olhos, está errado.

A personagem Lou é memorável. É uma adolescente que caminha com um sonho em cada pé, firme na  certeza de ter um lugar no mundo que faça a diferença, que se importe, que lute, seja lá o que isso for.

Ao longo desta belíssima e comovente história, o leitor terá a oportunidade de olhar mais de perto para as agruras de não ter onde viver, da bondade, do poder da família, da amizade e do amor.

No fim, Lou aprenderá a sua lição de vida. Porque é muito isto o que acontece nestas páginas: uma jornada de auto descoberta no reflexo do outro, pois será sempre no contraste de não nos sabermos sós, que podemos crescer entre semelhanças e diferenças daqueles que nos rodeiam.

Nas suas muitas reflexões filosóficas e crises existenciais, Lou, ponderando sobre o «Principezinho» chega a uma conclusão que retrata, na perfeição, a lição de vida que Nô lhe deixou:

 ⃟

"Se calhar é só isto que conta, se calhar basta-nos encontrar alguém que possamos guardar no coração."

  ⃟

Há pessoas que são lições. Assim é a amizade de Nô, uma espécie de bagagem que enche a mala de Lou, como quem a prepara para esse mundo dos adultos, em que nada é feito desse preto e branco tão tranquilizador. Que a vida é tudo menos essa conta certa, antes um mar de eternos cinzentos, uns mais claros, outros menos.


Um livro indicado para todos, não apenas para os adolescentes. Um livro que é um lembrete sobre o poder de alguém na nossa vida, como um marco que nos divide a sua chegada entre o «antes» e o «depois» de nós mesmos.


Com o apoio:


Seja feliz,


Sem comentários:

CopyRight © | Theme Designed By Hello Manhattan