Uma terra distante (Daniel Mason)

domingo, 20 de setembro de 2020

Se aquando a leitura de «O Afinador de Pianos» percebi a beleza e sensibilidade da escrita de Daniel Mason, agora, com este seu «Uma Terra Distante», solidifiquei essa certeza. O autor escreve com o coração nas mãos e engane-se o leitor que isso signifique uma escrita cheia de floreados. É o contrário, é uma escrita tão limpa e verdadeira que não precisa de mais nada para emocionar.

Em «Uma Terra Distante» conheceremos a história da inesquecível Isabel, uma menina com uma intuição muito afiada, uma consciência expandida para lá daquilo que (ainda) consideramos anormal:


"(...) a mãe explicou-lhe que havia certas pessoas para as quais não era tão grande a barreira entre este mundo e o outro."

⃟ 

E assim é Isabel, com os sentidos à flor da pele e um coração que lhe orienta os passos. Aqui conheceremos a história de vida desta menina de 9 anos de idade e acompanharemos o seu crescimento até se tornar numa adolescente mais espigada. A família, assim como todos os vizinhos, vivendo numa região muito sacrificada e castigada por grandes secas e pela miséria que daí resulta.

Quando o irmão, um sonhador e apaixonado por música, decide largar tudo e viver na cidade, Isabel sente-se perdida. A relação que tem com o irmão transcende todas as coisas e por isso mesmo, talvez na força do destino que só Deus conhece, mais tarde, os pais cada vez mais fragilizados pela pobreza, mandam também a menina para a cidade, para viver com a prima Manuela e, assim ajudar a família e salvar-se também a ela.

Nesta jornada acompanharemos as agruras, os desafios que uma menina pequena como Isabel terá de atravessar. E fá-lo com a determinação dos que têm fé. Dizem que a fé é a crença naquilo que não se vê e não há exemplo melhor que caracteriza essa proeza como esta caminhada de Isabel na busca incessante pelo seu irmão, entretanto desaparecido.

São muitos os que falam nas coincidências para justificar ou explicar trechos da vida que não se explicam. Assim é o reencontro lindo de Isabel com o seu irmão. Poderia contar-lhe tal qual como foi mas, acredite, este é um dos finais de um livro mais bonitos que alguma vez tive a oportunidade de ler.

Um livro sobre o poder da dor na mistura da fé que nem sempre se encontrar e, por fim, o sonho nas mãos como resposta, como uma promessa.

 

"É assim que as coisas são? Sempre, toda a vida, um mundo de pessoas a quererem saber o que vais ser, qual é o teu ofício e qual é o teu objectivo? (...) eu rir-me-ia desse género de pessoa que viva sempre no futuro." 

⃟ 

 

Tenho sido feliz nas leituras. Mais um livro de enorme sensibilidade que hoje lhe recomendo, e sem reservas.

 

💗

Seja feliz,


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