- Olá. Sou o Frank, queres brincar aos berlindes?
- De onde vens tu, palhaço? Não vês o que estou a fazer?
- O que tens nas mãos?
- (Risos) Isto é um computador, e estou no Facebook, a falar com os meus amigos.
Confuso, o Frank diz:
- Porquê que não falas com os teus amigos, à tarde, depois da escola?
- Aqui é mais giro!? Vê! Já tenho 300 amigos.
- 300 amigos? - pergunta Frank, tão absorto - isso não é possível!
- Estou a dizer-te que é, seu estúpido. Não sabes ver, ler, contar?
- Sim, sei. Realmente está aí... escrito. Ah, os teus amigos são feitos de letras, é isso?
- Vai levar no cu! - e o rapaz foi embora, muito zangado.
Frank ficou surpreso, sem compreender, a contemplar aquela fúria de duas pernas a correr, cada vez mais longe, cada vez mais pequenino.
Oh vida! Confusa por vezes. Cada vez mais entrelaçada, mais ainda que o esparguete cozido tempo demais, e depois disso, incapaz de descolar.
Questiono-me sobre os valores. Questiono-me sobre uma palavra cada vez mais escondida nas gavetas do tempo: a cortesia. Questiono-me sobre a resiliência. Questiono-me sobre a capacidade de amar. Questiono-me sobre a força interior que nos move, e que parece tão adormecida. Questiono o lugar das antigas brincadeiras. Os berlindes. A bola. As bonecas! Terra nos dentes, depois da queda! Risos!
Questiono, também, onde está o cheiro das castanhas? Onde está aquela sensação de mão com mão, boca com boca, e abraço colado a ferros?
Caramba, onde estão as pessoas? Onde está aquela chama que nos aquece?
O Mundo evoluiu, segundo me disseram. Bem, o que sinto poderia resumir-se a: o Mundo aquece nessa evolução, e as pessoas tão loucas, congelam mais e mais!
Congelam na pressa. Congelam, simplesmente.
Onde está aquela chama que nos aquece? Onde está a alma? Onde estão as palavras, aquelas que saem directamente do coração?
Caramba!
Indignada. Cada vez mais indignada.
Brutalmente indignada.
Ao som de: John Mayer "Waiting on the world to change"
Sobre o livro: Nas noites trágicas, geladas, visitadas pelo espectro da fome e arquejantes, sacudidas pela violência da tuberculose, Frank conhece, na intimidade, a impiedade da miséria. Cresce nos bairros pobres, apinhados, de Limerick, na Irlanda dos anos 40, exangue pela guerra civil, carente de sustento material e intelectual; cresce à mercê da crueldade, da insensatez, do adormecimento negligente que transforma cada dia de um quotidiano dramático numa cruzada contra a morte. Frank McCourt revisita a criança que foi com uma vitalidade contangiante, e a sua voz lírica, plena de uma energia rara, de musicalidade, de humor, profere as suas memórias numa prosa impetuosa, pictórica, sagaz, com a graça narrativa dos grandes romances. Uma obra que comove e deslumbra pela sua beleza, pela sensibilidade que supera o sofrimento e o rancor e torna-se matéria-prima de uma narrativa sobre o amor e o crescimento. "Prémio Pulitzer" de 1997.
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