O Filho de Mil Homens (Valter Hugo Mãe)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014


 
Há momentos na vida em que um homem é assolado, na alma e no corpo, pela ansiedade urgente de algo. Algo que sozinho é incapaz de trazer à luz do seu dia. A vida exige mais da sua individualidade e é agora urgente a determinação de mostrar a si, e aos outros, a sua capacidade, a sua coragem, de ser esse alguém que se perpetuará nos muitos amanhãs que virão.
Surge, assim, nessa ansiedade urgente a resposta de tudo isso. Ser pai. Ser pai de um filho que lhe acalme as dores de ser um ninguém que não representa nada nem nada tratará a uma casa vazia, construída sem pensar numa altura em que os dias corriam apenas porque sim. Sem pensar.
Mas o apelo do coração chega sempre. Sabem, como aqueles que falam do relógio que a mulher tem na barriga, um despertador, que lhe exige um semente, para mais tarde um acordar de um novo ser? Também um homem tem direito a esse apelo. Mas... um apelo do coração. No caso daquele homem já com 40, o coração apelou com tal violência, como as ondas do mar. Levou tudo pela dianteira, e assim, abarcou também o coração de um grupo de pessoas perdidas nos seus corações magoados, já conscientes de uma perda que não teria retorno.
Assim nos encontramos neste livro de Valter Hugo Mãe. Envoltos num grupo de personagens muito característico. A mágoa de cada um, a dor de não ser aceite e amado, a dor de ter errado no passo dado de encontro a esse amor, à esperança do que poderia ter acontecido e, o mais sublime de tudo isso, à mistura soberba que envolve a vida: a mágoa do que aconteceu e a esperança nebulosa do que ainda poderá vir a acontecer.
Numa espécie de família inventada, é agora possível exorcizar antigos e conhecidos fantasmas, confrontar antigos e conhecidos medos, e por fim, dar a conhecer essas vontades a que o coração tanto apela dando início a uma nova jornada...
 
 
Boas leituras.
 
 
 
 


escrever enquanto todos dormem (joão do-Nascimento)

sábado, 15 de fevereiro de 2014


 
Este livro é feito de poesia. Tem poesia lá dentro. Tem romance. Com poesia lá dentro. Poesia e romance. E os dias. Feitos de momentos. Dias feitos de meros minutos, horas, fugazes, assim. De varandas, cigarros que se querem largar. Porque sim. De cafés. De pés colados a velhos chãos. Porque são confortáveis. Antigos. E quentes. Como os sofás. Que gulosos nos engolem no esquecimento do tempo, dessas horas que permitem passar e passar. Passar a ferro as mágoas de um tempo que continua a passar, quer queiramos quer não. Uma ilusão, uma batota. Uma quase anedota.
É assim, este livro. Palavras que saltam sem líder, quase. Quase. Mas juntas formam essa linda história que a soma dos dias clandestinos, traduz. Assim é a vida.
Ainda há uns dias eu mesma dizia, que a beleza das coisas, da própria vida, é de ser imensa na sua pequenez. Pois é assim esta poesia, este retrato, este quadro, este livro de joão-do-Nascimento: uma celebração plena à vivência humana.

O Professor (Charlotte Brontë)

«O Professor» é o primeiro romance da conhecida autora Charlotte Bronte, publicado postumamente, em 1857, sob o pseudónimo de Currell Bell. Um pseudónimo usado no início da sua carreira literária e numa época em que as letras se destinavam, parecia assim, meramente ao género masculino.
Naquela época o livro foi pouco aclamado pela crítica, não sendo dos mais destacados de toda a sua obra.
Após a leitura de «O Professor» penso que, de facto, não consigo eleger este livro como um dos melhores de Charlotte Bronte. Estamos perante uma singela história de amor, sobre um jovem e promissor professor que, não só centrado na profissão e vincar-se enquanto homem honrado de valores e certezas, quer igualmente afirmar-se de alma e coração. Quer amar de alma e coração. Todas estas ambições, genuínas, traçadas numa jornada que deverá ser alcançada não só com força de espírito mas igualmente com uma honestidade sem par.
Penso que é aqui, com base nestes sentimentos, nestas emoções vincadas do personagem, horrorizado com certas características mais mesquinhas de outros ou, ainda, a hipocrisia noutros, que demarca aquela que se viria a tornar a autora do clássico da literatura «Jane Eyre».
Desta forma, se não estamos perante um grande livro, estamos pois, se assim posso dizer, perante uma excelente promessa. A atmosfera envolvente deste contexto narrativo  permite antever toda a obra que Charlotte viria a criar.
Para os leitores que apreciam a maioria das obras de Charlotte Bronte, acredito que vale a pena conhecer este «Professor».
Boas leituras.

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