Unless (Carol Shields)

quinta-feira, 25 de junho de 2020


Li Carol Shields pela primeira vez em 2019. Rapidamente se tornou um dos melhores livros lidos, somando também uma estima muito grande pela autora, que escreve daquela forma limpa, em que a simplicidade que impõe nas pequenas coisas da vida, as embeleza e engrandece de um modo singular. A autora, nesse jeito limpo e poético de escrever, atira-nos não areia, mas muita água límpida no rosto, faz-nos enxergar com os olhos de dentro. Carol Shields mostra a beleza das vidas simples, sempre tão cheias.

Essa essência de uma escrita bela em torno de uma história aparentemente simples volta a acontecer em «Unless». (Infelizmente, em Portugal, temos apenas editado «A Memória das Pedras», Editorial Presença.)

Esta é a história de uma mulher, editora, mãe de três filhas, um bom relacionamento com o companheiro, amor aos livros, ao seu trabalho na área da literatura e uma paixão tímida pela escrita. Passará a timidez e tornar-se-á uma escritora de relativo sucesso.

Até aqui a vida corria-lhe de feição, dias certos, algumas boas esperanças, a excitação do ofício que tanto gosta, cafés e conversas animadas com as amigas. E lá vai a vida, arrumada, numa orquestra ritmada, sem interferências. 

Como todas as histórias, também a dela anunciou uma reviravolta. Se nos dizem que a felicidade não é um estado, mas sim um processo, Reta Winters está prestes a interiorizar a ideia que é, na mesma medida, o arnês que nos salva das sombras.

Sem nada prever, a sua filha mais velha, Norah, larga os estudos, o namorado, a sua casa, e decide viver nas ruas. Passa os dias sentada numa esquina fria com um cartaz na mão. O seu ato é simultaneamente de revolta e de sensibilização para o verdadeiro significado da bondade.

Para Reta, nada justifica o comportamento da filha e se, num primeiro momento, a negação toma lugar, rapidamente, a mãe começa a tentar compreender as motivações da filha, num paralelismo interessante com a própria obra que está a escrever.

Carol Shields escreveu um livro sobre mulheres, sobre a maternidade e num campo mais amplo, sobre o lugar confortável que só encontramos na família, nunca perfeita, mas sempre munida de novas possibilidades.






Ao som de: Angus & Julia Stone

Seja feliz,

Série Napolitana "A amiga genial" (Elena Ferrante)

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Contém spoilers

Elena Ferrante escreveu a história de uma amizade entre duas meninas, Lila e Lénu, e que cresce ao longo de toda a vida, na sombra de um bairro pobre de Nápoles. Aparentemente, esta poderia ser uma história como tantas outras. Um romance de formação, sobre pessoas e sobre um lugar, mas é muito mais do que isso e creio que talvez seja esse o motivo do enorme sucesso que granjeou. Elena Ferrante transforma cada personagem numa história em si mesma e isso, na minha opinião, é escrever com mestria. Escreveu pessoas tão vivas que o leitor mais desatento pode cair na ideia de que, mais dia menos dia, cruzará com Lila ou Lénu na rua.
Tudo é vivo e muito nítido na história que criou, como um mundo paralelo feito de pessoas que podiam ser reais, mas não são. De pessoas que nos contam segredos que acreditamos serem reais, mas não são. Tudo neste livro é real, sem ser. Quem o lê, dá consigo mesmo a irritar-se, a exercer compaixão, mais acessos de raiva à mistura e, por fim, uma redenção de que nada poderia ter acontecido de outra forma. Imagine um armário de camisolas imaculadamente dobradas, arrumadas por textura e por cor. Assim é esta história: não falha nada, mas isso não significa que toda essa mestria organizada, não exija da parte do leitor uma boa dose de paciência. Acredite, vai precisar de ajustar os níveis não só de ansiedade como, também, de uma certa impotência face à complexidade da vida, como quem entra num mundo cheio de reflexos que nos cabem também a nós, simples leitores.

«A Amiga Genial» faz-nos começar pelo fim, narrando o desaparecimento de Lila, já idosa. O seu filho Rino procura desesperadamente a mãe e para isso recorre a Lénu, mas também ela desconhece o paradeiro da amiga. O fim desta história acaba por ser um lembrete do que sempre foi o laço dominante nesta amizade: uma espécie de retaliação constante entre as duas mulheres.

Se Lila, no final da sua vida, deseja mais do que tudo desaparecer por completo, Lénu numa tentativa de contrariar a sua vontade, decide escrever a história das suas vidas fazendo perpetuar a amiga para todo o sempre. Será através da voz de Lénu que conheceremos as peculiaridades de uma amizade que, também ela, parece ganhar vida paralela, condicionando ambos as mulheres de uma forma quase sobrenatural.

A escola primária marcará o encontro destas duas meninas tão diferentes entre si. Lila é dominante, Lénu é insegura procurando subestimar-se como forma de agradar aos outros.

"Não a conhecia bem, nunca tínhamos trocado uma palavra, apesar de estarmos sempre a competir uma com a outra, na aula e fora dela. Mas tinha a vaga sensação de que se fugisse, como as outras, deixaria com ela algo de meu que ela nunca me restituiria."
É a competição que marca e que sustém a amizade de ambas. Lénu sentia que o vazio dentro de si só poderia ser preenchido por Lila, sempre tão segura, tão inteligente e indomável. Lila, por outro lado, precisava do reflexo da admiração e (aparente) inferioridade da outra. Não são, claramente, os princípios mais promissores de uma boa amizade, antes uma amizade que suga, que converte e que prende ambas as mulheres. Será sempre esse o fio a ligar os seus dias, numa dependência que oscila entre o aparente poder de uma, rapidamente transposto na mão da outra, um jogo de vontades que corre veloz ao longo de todo o tempo.

O primeiro volume revela-nos o desenvolvimento desta amizade e o tempo que vai passando até se tornarem duas belas adolescentes, mas sempre com o pano de fundo da infância que nunca abandonarão verdadeiramente. Os tempos de adolescência são marcados pelos passeios, pelos seus amigos do bairro, pelas paixões que começam a despontar. A quebra entre as duas acontece a partir do momento em que Lila não poderá prosseguir os estudos, ao passo que Lénu, sim. Será o primeiro rasgão num laço, ainda assim, sempre muito forte. Um laço que ora se vai alargando na medida de uma competição que chega a ser cruel, ora se estreita nas horas de maior angústia de cada uma delas.
Ao passo que a vida de Lénu se transforma, centrada nos estudos, na cultura e na vontade de saber sempre mais, a vida de Lila passa a concentrar-se nos cuidados prestados à sua família e a um desejo secreto em vingar na vida. Começa por desenhar sapatos, a ideia vincada de crescer, acabando por materializar o sonho de menina. Com esse sonho, surgem cada vez mais pretendentes mas o coração de Lila parece não se querer dar a ninguém. Até Marcello Solara, da família rica e poderosa daquele lugar, se apaixona perdidamente por ela. O bairro que vê nisso a porta de entrada ao melhor dos mundos. Mas ela não o quer. Casa com outro, Stefano, promissor aspirante a empresário. A vida de Lila jamais será a mesma, contraindo um casamento que mais parece uma dívida para a vida inteira.

Quando lemos «A história do novo nome», o segundo volume da história, temos a certeza de que aquele é um casamento destinado a um mau fim. Nesta fase das suas vidas, as amigas estão cada vez mais distantes, pesa-lhes a vida diferente, os costumes e expectativas também diferentes. No entanto, os dias parecem sempre encontrar uma forma de as aproximar, normalmente, movidos por uma desgraça iminente. A amizade das duas parece feita de água e azeite, impossíveis de misturar, e ainda assim, há uma força que as vai puxando, mesmo quando não querem, a entrar no mundo uma da outra. Como se um sofrimento fosse sempre mais leve quando compartilhado ou, sinistramente, combatido num confronto de forças. É isso que acontece neste que considero o livro que mais gostei. Se Lila não está feliz, Lénu também não ficará. Esta é a parte da história marcada por traições de toda a ordem, ficando uma vontade sem prazo para retaliar, de um ajuste de contas. Lila trai Lénu da pior maneira, roubando-lhe o seu amor de infância, de adolescência, da vida toda: Nino Sarratore. Não só lhe rouba o único amor, como lhe rouba também a capacidade de tomar decisões sensatas. Uma noite na praia assombrará, para sempre, aquela época.

Se «A História de quem vai e de quem fica» não é, na sua quase totalidade, um grande ajuste de contas movido pelo coração birrento de Lénu, não conheço melhor forma de o definir. Também ela casará, será mãe, tornar-se-á numa escritora reconhecida. E como nesta história há sempre um mar agitado que lhe traz o passado pronto a servir, também assim será com aquele ajuste de contas que sempre lhe ficou encravado sabe Deus onde. Nino volta para lhe desgraçar a vida, e ela vai sem pensar duas vezes. Esta será uma fase da história que mais paciência exigirá ao leitor. Será penoso ver Lénu entregue a pensamentos mesquinhos, apaixonados e cegos. Lila, longe, é como um espelho que lhe reflete os próprios erros e a previsão de novas desgraças. São erros atrás de erros, seja de Lénu, seja de Lila. Erros que precisam de cometer para que a vida continue a avançar. Acredito que o poder desta história, mais do que as vidas cruzadas das inúmeras personagens, é o desenvolvimento destas mulheres que nunca, em momento algum, abandonaram verdadeiramente a infância. A beleza desta história reside aí. São duas mulheres, uma vida pela frente, mas foi a infância que sempre lhes moldou os sonhos e lhe condicionou o futuro. A ligação entre si é essa certeza de que não estão sozinhas na vida que desenharam, Lila nos sapatos em papel quadriculado, Lénu pela força da primeira leitura de «Mulherzinhas», tornando-se também ela escritora.

O último livro, «História da menina perdida», vem confirmar o elo destas duas mulheres nas piores fases de cada uma. Ambas destroçadas, ambas tentando reerguer-se, evitando-se mutuamente até à iminência do esperado, essa proximidade surge sempre, como uma inevitabilidade nas suas vidas. Ambas ficarão grávidas, resignando-se uma à outra na partilha das suas dores e da sempre retaliação, do combate entre ambas que as mantém de pé. Este livro abre portas a uma tragédia que lhes moldará a vida para sempre, recorrendo ao passado como quem tenta aliviar as dores do que não pode ser desfeito. 

Ficará para sempre a amizade, ainda que toldada pelos erros do passado e pela constante necessidade de afirmação, quer de Lila, quer de Lénu. A série «A Amiga Genial» faz-nos recuar no tempo, refletir sobre o poder que a infância nos imprime, como o primeiro capítulo de uma história que determina todos os acontecimentos vindouros. Faz-nos refletir, igualmente, no poder das pessoas nas nossas vidas e o quanto, quebrados na procura de nós mesmos, cedemos o lugar do medo ao outro, numa leve esperança que nos resolvam as dores, nos aplaudam o caminho ainda que, tantas vezes, não saibamos bem quantos passos diferentes deveríamos ter dado.





Uma grande história.
Recomendo.



Seja feliz,

A importância dos livros infantis e a leitura dinâmica

quinta-feira, 18 de junho de 2020



A importância da leitura é, quase sempre, reconhecida pela maioria. Contudo, do reconhecimento à prática efetiva, assim como uma consciência mais desenvolvida sobre os ganhos imensos e subdivididos numa enormidade de áreas, vai - infelizmente - uma larga distância.
Já lá vai o tempo em que a atenção ao desenvolvimento da inteligência de uma criança se centrava, apenas e só, no QI. O que quero dizer é que, felizmente, o avanço nos estudos científicos na área da psicologia apontam para diferentes tipos de inteligência que, além quociente prático (o tão conhecido QI), são determinantes para um desenvolvimento pleno e melhor sustentado da criança. Daniel Goleman é um dos estudiosos pioneiros na área da «inteligência emocional», dando provas claras do quanto este tipo de inteligência é determinante na tomada consciente de decisões, no desenvolvimento pessoal que será sempre de «dentro para fora» e nunca ao contrário. Sublinho este ponto no sentido em que a sociedade tal como tem vindo a ser desenhada ao longo do tempo, imprime em todos nós, e nas crianças desde logo, a tendência a olhar o outro e no jeito da comparação, fazer porque viu sem antes pensar no que vai fazer.
Toda esta minha introdução surge para destacar a importância que a leitura infantil detém no desenvolvimento de uma criança em todas as áreas, não apenas para assegurar aos papás que lendo muito, a criança será tão inteligente que governará o mundo com toque de ouro. Não é assim que todo o processo acontece e é bom que se alerte para a urgência de um desenvolvimento pleno, que abarque todas as áreas de desenvolvimento da criança, incluindo uma mais recente descoberta neste campo: «a inteligência espiritual». Um bom desenvolvimento nesta área é determinante para uma criança mais consciente de si mas, também, mais consciente dos outros. A empatia é um dos grandes potenciais benefícios neste processo e é aqui que a leitura dinâmica com as crianças poderá revestir-se como um valioso recurso. 
Não basta ler, por ler. É importante saber como ler, pois será esse caminho, percorrido por toda a família, que irá determinar o amor às histórias. Para muitas crianças de pouco valerá oferecermos um livro e dizer-lhes "espero que gostes, e lê depressa!". Nos dias que correm, em que a tecnologia tem um encanto incomparável aos olhos dos mais pequenos, é necessário que pais, avós, tios, primos, TODA a família, se arme com poderosos recursos capazes de derrubar, por pouco que seja, o estigma de que ler é enfadonho e cansativo. 
São muitos os pais que me dizem que, por mais que tentem, não conseguem fazer a criança gostar de ler. Muito disto acontece porque muitos pais, na mesma medida, não gostam de ler. Esse é um dos muitos cenários em que estratégias específicas devem ser adotadas e desenvolvidas. Comecemos pelo exemplo: sendo o pai e a mãe os primeiros modelos de regulação na vida da criança, não espere e mostre à criança que tem o hábito de ler o jornal, pegue em livros à sua frente, elogie uma história, diga como se sentiu quando descobriu o final deste ou daquele livro. Do exemplo passará à curiosidade que, acredite, é abundante e admirável em toda e qualquer criança.
A partir do momento que no seio familiar foi passado o exemplo do livro enquanto objeto valioso, é hora de estimular mais de perto: faça sessões de leitura conjunta com os mais pequenos. Se ainda não aprenderam a ler, leia você, entusiasme-se, mostre o que sente ao ler aquele pequeno livro e, por fim, faça muitas questões. Dessa forma, estará a promover o pensamento crítico da criança, a empatia e a concentração. São muitos ganhos, não me dirá?
Se a criança já sabe ler mas é preguiçosa, crie a "a hora da leitura em palco". O que é isto? Um termo criado por mim para uma ação facilitadora das relações familiares em que o livro, e o seu leitor, ganha destaque. Na sala ou onde se sentirem mais confortáveis, a criança (e o irmão, se for o caso) é desafiada a ler um pequeno trecho (que poderá ser aumentado com o tempo) em voz alta. Depois de fortemente elogiada pelos pais, será novamente desafiada a responder a algumas questões, como por exemplo: 

1) O que sentiste quando estavas a ler?
2) Se fosses a personagem do livro, o que farias de diferente?
3) A personagem tem alguma característica com a qual te identifiques?

Este é um pequeno exemplo do quanto podemos ser criativos quando o assunto é promover o amor dos mais pequeninos aos livros. Através deste tipo de atividade, a criança perceberá o livro como mais do que aquele objeto enfadonho, sem luzes ou botões. Gradualmente, e na medida da dedicação e empenho de toda a família, a criança viverá as histórias escritas como mensagens importantes (e divertidas!) que a ajudarão a enfrentar os seus maiores desafios. É nesse momento que nasce a esperança de que o livro se tornará o seu melhor amigo.

Haja esperança e determinação nesta que é a maior conquista que um pai e uma mãe podem abraçar pela felicidade dos seus pequenos.



Com o apoio:
Penguin random house Logos
Seja feliz, leia muito e conquiste o amor dos pequeninos à leitura!

O rabo do passado

terça-feira, 16 de junho de 2020

"Sabe o que deveria ser o psicanalista? Uma tesoura. Uma tesoura afiada, zás, zás nesse passado... Ah! O passado (...) um diabo sentado. Nesse caso, uma tesoura, zás, zás. Cortamos-lhe o rabo..."

Em "Combateremos a sombra" | Lídia Jorge 


Uma senhora nunca (Patrícia Müller)

domingo, 14 de junho de 2020


Se fosse possível encontrar um objecto sinónimo para esta história, o primeiro que me ocorre é o espelho. Sabemos bem o quanto a família se imprime em nós no tempo, oscilando entre o passado, pesando o presente e ansiando que o futuro se afaste de tudo, uma impossibilidade que preferimos ignorar.

Patricia Müller escreve com a mestria dos espelhos, não se limita a contar-nos uma história fiel ao tempo, no compasso certo dos dias, uns atrás dos outros. Fá-lo muito melhor, trocando-nos as voltas com um tempo que já foi, que volta mais tarde para assombrar os tempos correntes e sonhar com as infinitas possibilidades do que poderia ter sido.

Maria Laura cresce no seio de uma família rica, é senhora desde sempre. Nunca trabalhou no estatuto pronto de uma profissão mas geriu com mão firme o casamento que lhe calhou, os filhos que teve, à luz de um país quase criado por ela também. O leitor terá a oportunidade de conhecer uma senhora fora do seu tempo, admirável pelos sentimentos que carrega e que a distinguem. Tudo o que faz não tem de ser necessariamente bom e é precisamente a clareza nos gestos, sejam eles movidos pelos pratos justos da balança ou comandados pelo demónio que tantas vezes a confronta, que dá um poder enorme à voz desta história e a todos os que a vivem. 

Entre passado, presente e futuro, os espelhos refletem, acusadores, o poder que só a família consegue ter sobre nós, ontem, hoje e amanhã. Por muito que lhe queiramos fugir há todo um passado feito de memórias, nossas e dos outros, que misturadas, resultam em novos moldes, novas vidas condicionadas e aparentemente livres.

À luz dos outros Maria Laura foi sempre exemplar, mas na sombra nascem-lhe segredos só seus. Quis a doença ser a liberdade mais profunda de todas, o balão que carregou a vida inteira ameaça-lhe no peito e rebenta-lhe na boca, desnorteada. Está doente da cabeça, coitada, não sabe o que diz. 
Será que não sabe?  
Para sempre, e desde sempre, uma senhora.
Uma senhora feita de segredos vivos que lhe pulsam até à hora da morte. 



«Uma Senhora Nunca» é já presença certa na minha lista de «Memoráveis de 2020»

💓

Seja feliz,

Coração a contra-relógio

terça-feira, 9 de junho de 2020


Parece que alguém vai fazer asneira. Ou será que já fez?

Estas são boas notícias.
Celebremos. Compremos!


Relógio D'Água


Seja feliz,

Salvar o planeta começa ao pequeno-almoço (Jonathan Safran Foer)

segunda-feira, 8 de junho de 2020


Jonathan Safran Foer surpreende-nos com um ensaio muito íntimo sobre este que é um dos grandes problemas da atualidade: as alterações climáticas.
Nesse seguimento, muito se poderia dizer e opinar. Mas a verdade, nua e crua, é que de teorias já estamos nós bem cheios e talvez, por isso, a postura do autor prevaleça sobre todas as coisas. Vou explicar-lhe porquê: mais do que uma explicação científica, detalhada, dos problemas que vivemos e da urgência de ações concretas, o leitor contará com a sinceridade do autor que lhe confessa, sem falsos pudores, a dificuldade que também ele sente em pôr mãos à obra, em agir de forma concreta, uma partilha de desamparo que, atrevo-me a considerar, seja sentida pela maioria de nós.

"Tendo em conta os mecanismos que influenciam o clima, a atividade humana é responsável por 100% do aquecimento global que ocorreu desde o início da Revolução Industrial, por volta de 1750."

Dados como estes são abundantes ao longo de todo o ensaio. A ideia, mais do que alertar, é consciencializar - cada vez mais - para o impacto da indústria agropecuária e a urgência de um novo olhar, mais limpo e consciente, no que à alimentação diz respeito.

Os números são assustadores. Quando, mais de perto, percebemos os números gigantescos que contornam um consumismo alarmante, pesa a necessidade de puxar o freio a uma gula desmedida e trabalhar mais em prol de uma (esperemos que não utópica) consciência coletiva.

"(...) só a dieta vegetariana limita de imediato o metano e o óxido nitroso, os gases com efeito de estufa mais importantes. (...) Não comer alimentos de origem animal ao pequeno-almoço tem uma pegada de CO2 menor do que a dieta vegetariana média a tempo inteiro."

É assim que o título deste brilhante ensaio dá lugar as reflexões pertinentes e muito necessárias. Não será, com toda a certeza, uma leitura fácil e é precisamente por isso mesmo que urge uma consciência mais alargada. Uma consciência feita de mãos e de pés firmes de quem decide, um por um, fazer a diferença, por mais pequena que seja. Até porque, como tão bem diz Soer:

"Estamos ligados a nós e aos outros através do espaço e do tempo, pelo que temos obrigações para connosco e para com os outros, quaisquer que sejam as distâncias."


Recomendo sem reservas. Obrigatório.



Esta leitura contou com o apoio,






Seja feliz, seja consciente,

A ler Elena Ferrante

domingo, 7 de junho de 2020


"Tudo nela era fruto da desordem do momento?"



Comprei a série Napolitana em 2016. Esperei a poeira assentar mas, 
inevitavelmente, fui atingida pela febre Ferrante. Eu não consigo largar a Lila e a Lénu.
É um desassossego ter de fechar o livro.
 Estou numa espécie de bom calvário, seja lá o que isso signifique.



Seja feliz,

Longe da multidão (Thomas Hardy)

sábado, 6 de junho de 2020


O livro de Thomas Hardy poderia ser sobre tantas e tantas coisas. Sobre amor, sobre trabalho, sobre resistência e resiliência. Poderia ser sobre tudo isto, que o é, mas sobretudo, é uma história que exalta grandemente o poder do destino.
Em «Longe da Multidão», um dos romances mais aclamados e conhecidos do autor, conheceremos a história do pastor Gabriel Oak e a paixão desmedida que nutriu durante toda a sua vida por Bathsheba Everdene, uma das personagens - na minha opinião - mais interessantes da literatura clássica (e não apenas a inglesa). Ela é enigmática, bela, conhecedora dessa mesma beleza que usa em proveito próprio, é astuta, determinada e consciente do poder que alastra por onde passa. É também a herdeira de uma vasta propriedade rural que rapidamente lhe calhará em gestão, fruto da morte de seu tio e dono daquela propriedade, agora plenamente sua.
Se Gabriel Oak se perde de amores, também o respeitável agricultor (mais velho) Boldwood se perderá. Como se não bastasse, o sargento Troy, recentemente de regresso a Weatherbury, desejará desposá-la. 
Se inicialmente o leitor será compelido a entender uma história de amor entre Bathsheba e Gabriel, que logo se apronta a lançar-lhe um inesperado pedido de casamento, muitas serão as voltas que o farão mudar de ideias. Afinal, Bathsheba parece antes apaixonada apenas por si mesma. Mais tarde, a mulher parece afinal ser capaz de desejar o desejo de um homem, brincando infantilmente com o coração de Boldwood nunca prevendo, na verdade, as consequências desastrosas que daí virão.
Mais tarde, o leitor pensará que Bathsheba se apaixonou de vez, pelo homem mais inesperado. Sentirá no coração o ímpeto exacerbado de a alertar. Bathsheba, não faça isso. Tenha tento na língua mas, mais ainda, cuidado com as ações desenfreadas que só as paixões tolas provocam.
Caro leitor, acredite-me: vai viver um alvoroço à medida que toda esta empolgante história é narrada. Vai sentir-se triste, nervoso, torcerá pelo amor tão visível a si, leitor atento, mas tão sombrio e despercebido aos olhos de todos. 
É isto que Thomas Hardy nos faz neste livro e cai-me a suspeita que assim será em todos os que escreveu: mergulha-nos à força no mundo que criou pelo seu próprio punho e faz-nos sentir a participação clara numa história frenética, magistralmente bem escrita e orientada numa catadupa de acontecimentos que o deixará quase à beira do desespero. Não estou a exagerar. Olhe que não estou mesmo a exagerar!

Lembra-se quando referi que, independentemente de todos os temas que o livro encerra, é sobre o poder do destino que se extrai toda a sua essência? Ah, pois. É que no meandro de tantos jogos levados a cabo pelo coração tumultuoso de Bathsheba, os dias aproximam-se, somam-se e ensinam-lhe que a dor sentida e o lamento da má sorte, tinham um propósito maior. A prova de que a dor e os problemas são portas que se fecham para abismos maiores. A dor como resposta necessária a quem, por fim, encontra a resposta certa, sempre ali tão à mão de semear.

"O afecto que os unia era aquele que nasce entre duas pessoas que começam por conhecer os piores aspectos da personalidade uma da outra e só ao fim de algum tempo descobrem os melhores, o romance crescendo nos interstícios de uma realidade muito prosaica. (...). Quando, porém, circunstâncias felizes permitem que se desenvolva, este sentimento duplo vem a revelar-se o único amor que é tão forte como a morte - esse amor que nenhum dilúvio saberia extinguir ou afogar, e ao lado do qual aquilo a que chamamos «paixão» é evanescente como o vapor."
💓

Adorei conhecer Thomas Hardy e estou plenamente certa do meu desejo em comprar cada livro seu e morrer para o mundo a partir do momento em que a primeira página se me afigure aos olhos.
Até agora, uma das descobertas mais felizes do ano.




Seja feliz,

A ideia constante de produtividade

terça-feira, 2 de junho de 2020



Seja feliz, boa Terça-feira!
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