Com saudades da Joyce

segunda-feira, 31 de julho de 2017

 

Estante de Serviço #9

terça-feira, 25 de julho de 2017


Ler O Jardim Secreto serve para nos lembrar de forma delicada que muitas das nossas queixas de saúde são, na verdade, fictícias.
O jovem Collin, confinado ao seu quarto desde que nasceu, está convencido de que tem um alto nas costas que se vai transformar numa corcunda e levá-lo a uma morte prematura. Evidentemente não existe alto nenhum, a não ser as suas vértebras. Os seus cuidadores fizeram-no acreditar que é uma criança deformada, condenada a nunca chegar à idade adulta e que o ar fresco é venenoso para o seu sangue. Mary, a sua prima mimada, tão capaz de fazer birras e de dar ordens a toda a gente como ele, não consente nada disto. Sendo a única pessoa com coragem suficiente para dizer a Collin que não tem nada de mal, consegue enfrentar a raiva que ele tem pelo seu presumível destino usando a sua própria fúria perante tanta inércia. Só uma rapariguinha valente e obstinada em dar vida ao seu Jardim Secreto pode picar a bolha do terror de Collin e mostrar-lhe a verdade.
A paixão de Mary pelo Jardim atrai Collin para fora do seu quarto, para o mundo das flores em botão e dos pássaros - um mundo também habitado pelo sardento e irresistível Dickon, a quintessência da saúde. Deixe que este romance o tire da cama para encontrar o seu jardim secreto, quem sabe o seu Dickon, e um regresso vigoroso a uma excelente saúde.
 
Das autoras Ella Berthoud e Susan Elderkin
«Remédios Literários»
 
 
 
A «Estante de Serviço» está de volta.
Nada melhor do que arejar ideias, pensar por si mesmo e criar um jardim só seu, quais ervas daninhas.
Acredite. Seja feliz.
 

Tempos Líquidos

 
"Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar."

Zygmunt Bauman
 
[Assustador]







O Castelo de Vidro (Jeannette Walls)

terça-feira, 18 de julho de 2017

Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras mas, para Tolstoi, as famílias infelizes são-no cada uma à sua maneira.
Em «O Castelo de Vidro», Jeannette Walls declara o seu amor a uma família despreocupada, com o coração inflamado por aventuras mas, ainda assim, a sua família.
Com base na sua própria vida, a autora partilha com o leitor, num tom intimista e numa escrita que flui sem artefactos alheios, toda a jornada que a tornou na mulher (lindíssima) que é hoje.
 
 
Jeannette Walls | Ilustração de Jillian Tamaki

 
- Para onde vamos, papá? - perguntei.
- Para onde formos - disse ele.
 
Sem destino. Sem hora marcada. Sem planos de ação de qualquer tipo, os pais de Jeannette deambulam ao sabor do vento, de coração cheio pela aventura somada aos seus dias de eterna ilusão.
Nessa jornada que durou até à adolescência, os filhos seguiam a direito os passos tortos dos seus pais. A infância, de tão pura e inocente, permitiu-lhes a felicidade de receber estrelas e planetas, só seus, pelo Natal. E a infância, de tão pura e inocente, encarou a vida errante junto de dois pais irresponsáveis como a maior aventura das suas vidas. Mas o tempo, esse, desfez as raízes tenras da infância para as substituir pelo peso não só da idade mas, acima de tudo, da fome, do frio, dos abusos, da crueldade dos outros. Uma consciência pesada começava, por fim, a agitar-se em cada um deles.
 
"Andar de volta das crianças que choram só as encoraja, dizia-nos. É um reforço positivo para um comportamento negativo."
 
Entregues à sua própria sorte, os quatro irmãos vivem momentos de constante dificuldade em prol da cegueira de uma mãe artista e de um pai que, apesar de inteligente, opta pela bebida como escapismo à vida que não consegue alterar e ao «Castelo de Vidro», casa dos sonhos, que nunca cresceu para lá de um esquisso velho e sujo.
 
Tudo na vida destas crianças fora pautado por agruras, faltas de bom senso e constância. Se numa escola eles eram dotados, noutra, tinham dificuldades de aprendizagem. E assim, ao sabor do vento dos outros, eles aprenderam a escapar de «comportamentos impróprios», a poupar e criar um orçamento, a trabalhar afincadamente, a sonhar para lá de uma casa só pela metade, com direito a chuva na cozinha, buracos no alpendre e comida estragada.
 
"Se não te queres afogar, tens mesmo de perceber como se nada."
 
Desde pequena, com as queimaduras de último grau pelo corpo, a autora revela-nos o seu esforço, a sua capacidade de resistir a adversidades diárias para, não só aprender a nadar, como aprender a andar pelo seu próprio pé.
 
Uma história capaz de agitar os corações mais indiferentes.
Uma história capaz de nos mostrar de que quando o sonho prevalece e o esforço se desenvolve, a possibilidade de se tornar real cresce na mesma medida da vontade.
Muito bom.
 
 
 
 
Com o estimado apoio:
 


Contos de Assis #3

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Seremos nós preenchidos por duas almas distintas?
Quem nos disse, afinal, que em assuntos de alma impera a singularidade?
Assis acorda o leitor para esta questão no seu conto «O Espelho». A partir do momento em que Jacobina, homem de 25 anos, sobe na vida após conquistar um novo posto militar, tudo o que até então conhecia de si mesmo, e dos outros, será cruelmente colocado em causa.
De origem humilde, educado e homem prestável, Jacobina começa a perceber que a distinção militar tem um peso que até então não acontecia.
A sua tia Marcolina, sempre amável, deixara o tratamento especial de «Joãozinho» para o rebatizar, agora, de "Sr. Alferes", estando completamente fora de questão qualquer outra forma de a ele se lhe dirigir.  Um dia, como prova do seu amor, a tia oferece-lhe um espelho pertencente à Família Real Portuguesa. O sobrinho merecia isso e muito, muito mais.
Se inicialmente quase aflição lhe causava todos aqueles formalismos, com o tempo integrou essa nova alma que não sabia ter: a alma que lhe permitia definir-se através da visão dos outros.
Por motivos de saúde do seu filho, a tia Marcolina vira-se obrigada a abandonar a quinta. Com a sua saída apressada, também os escravos aproveitaram a sua ausência para dali fugirem o quanto antes.
Restou Joãozinho, desculpem, o Sr. Alferes, só e abandonado naquela casa.
A solidão pesada que começara por sentir através do silêncio de toda a casa, de dia e de noite, suscitou nele um mal-estar e uma névoa constante. E já que falamos em névoa, espante-se o leitor porque quando o nosso Sr. Alferes se contemplava no tal espelho, nada via. Um borrão, talvez. Mas nada via de claro, de si mesmo, no reflexo de um objeto tão requintado. Ironias.
Passara os dias a evitar o reflexo do espelho. De esguelha, aos poucos, enchia-se de coragem contemplando-o, apenas mais uma vez, para confirmar num desânimo de que, afinal, todo aquele borrão se mantinha em si mesmo.
No dia em que decide vestir a farda, descobre a solução para tal enigma. O borrão até então teimoso, desaparecera dando, finalmente, a clareza que este homem tanto precisava.
 
Com «O Espelho» Machado de Assis enfatiza essa importância, tão vital, do ser e do parecer. O espelho não é mais do que, em sentido figurado, todas as pessoas quem apontam dedos, opinam, cochicham e definem essa tal alma nova.
Priorizando a opinião alheia e os traços com que os outros o definem, enquanto nova pessoa, a tendência do comportamento é anular a alma interior para, resignado, renascer bem longe daquilo que sempre o definira.
 
Recomendo.
 
 
Com o apoio:

Café com Livros

domingo, 16 de julho de 2017

 
Fonte: Pinterest
 


Palavras mal colocadas #10

sexta-feira, 14 de julho de 2017


 
 Acho que tenho ali uma maçã ansiosa de tão podre...
(Valha-me Deus!)

 

O Deus das Pequenas Coisas (Arundhati Roy)

quinta-feira, 13 de julho de 2017

«O Deus das Pequenas Coisas» é o primeiro romance da indiana Arundhati Roy, tendo sido reconhecido com o prémio Booker Prize 1997.
 
Esta história, precisamente pela simplicidade aparente, prova-nos a magia vitalícia que só a literatura nos oferece, quase de mão beijada.
 
Como só quem escreve com o coração na garganta, Arundhati Roy tece linhas marcadas pelo tempo que vai oscilando na vida de uma família para, numa escrita singular, nos fazer tremer o chão e refletir no quanto a vida é esse sopro. O quanto somos todos fruto dessa teoria do caos. A borboleta que voa lá além e que, por isso mesmo, provocará um tornado sabe lá Deus onde.
 
Em «O Deus das Pequenas Coisas» o leitor acompanhará a  história de três diferentes gerações de uma família de Kerala (Índia). Tudo começa com a chegada de Rahel já mulher, da América, pronta a mergulhar no passado da família e no confronto com tudo o que ali aconteceu.
Ela espera por Estha, o seu irmão gémeo, adormecido num passado que lhes mudou o ritmo aparente das suas vidas simples, pequenas, de quem sabe ler ao contrário e viver contra as marés. Sem nunca esquecer Sophie Mol. Terá, de facto, a sua história começado e terminado com a chegada da prima?
 
Um livro que exige leitura sem arnês. Para muitos trata-se de uma saga familiar, e é. Mas, na mesma medida, «O Deus das Pequenas Coisas» é uma das histórias de amor mais bonitas que alguma vez conhecerá.

Falo da fragilidade das coisas. Do mundo. Das pessoas. Dos laços que se criam para, mais tarde e com conhecimento de causa, estrangularem todos os sonhos. É isso e muito mais que fez da história de Arundhati Roy uma quase obrigatoriedade, demarcada também por um período político difícil, a espelhar as tristezas e dramas de uma família condenada em si mesma.

Fica o amor, independentemente das suas leis e ditames fáceis, de quem não lhe conhece os movimentos e o tenta aniquilar. Dizem, e tão bem, que uma verdadeira história de amor é aquela condenada desde o início.

 
Se é daqueles que, como eu, demorei tanto a conhecer esta história, corra depressa.
Recomendo. Muito.

Humidade (Reinaldo Moraes)

segunda-feira, 10 de julho de 2017

O livro de contos de Reinaldo Moraes é uma promessa que se cumpre para o leitor que deseja desprender-se de assuntos mais sérios e seguir, sem freio, por uma estrada de histórias hilariantes, repletas de bom humor, sexo à mistura e um pouco de amor.
 
Numa escrita despretensiosa, leve e muito arejada, o autor apresenta-nos personagens muito próprias, no entanto, comuns pela partilha de um vazio, estranho, que se sente mas não se toca.
 
O leitor que se atrever a entrar na «Humidade» de Moraes, conhecerá a mulher que reivindica, ferozmente, as funções do seu marido na cama, o homem capaz de se casar para, finalmente, conhecer os prazeres do corpo da mulher, linda de mais, púdica de mais, santa de mais.
Conhecerá, também, a história de um homem, duplamente traído, mas com uma história para contar aos amigos e às amigas. Conto-lhe, apenas, que essa história tem duas assaltantes como personagens principais.
Inclusivamente, entrará numa espécie de mundo novo, para lá do espaço, onde as aventuras se desenrolam sem hora, apenas acontecem pelo bem comum de um desejo partilhado. Eu diria, um senhor desejo.
 
«Humidade» do conceituado autor Reinaldo Moraes é garantia de descontração mas, também, de um retrato sobre a complexidade humana que procura, nos prazeres mais leves, uma fuga sem destino.
 
 
Recomendo!

 
Com o apoio:

O próximo a ler

domingo, 9 de julho de 2017


... está aqui.
Qual será?

Ops. Em 2018, talvez?

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Quantas resoluções já foram ao ar este ano?
(Risos)

Palavras mal colocadas #9

terça-feira, 4 de julho de 2017

A Banda (Chico Buarque) #Coleção Afonso Cruz

segunda-feira, 3 de julho de 2017



A Alfaguara (Penguin Random House) acaba de lançar um projeto com a capacidade de surpreender os mais pequenos e os mais graúdos.
A culpa é toda de Afonso Cruz, que decidiu partilhar com os leitores as suas maiores fontes de inspiração. Fontes essas, agora, transportadas para a magia e eternidade que só um livro lhe assegura.
Nada como eternizar memórias, momentos e inspirações de forma tão enternecedora como poderá constatar neste primeiro livro «A Banda», música tão conhecida (e bonita) de Chico Buarque.
Com ilustrações lindíssimas de Nádia e Tiago Albuquerque, o leitor não só terá a oportunidade de conhecer mais sobre um dos nossos escritores contemporâneos mais influentes como pode, também, imiscuir-se na letra de uma música que, assim e do nada, se transforma numa história para contar a quem quiser.
Através da música de Chico Buarque o autor partilha connosco a ideia de celebração da vida . Na mesma medida em que a banda passa, os corações vão deixando entrar o poder redentor da música, capaz de curar, de reafirmar e se extrapolar novas formas de sentir. De viver.
Sem formato fixo, esta coleção terá a periocidade de dois títulos por ano, sendo que o próximo tem já publicação prevista para Outubro de 2017.
 
A curiosidade, por estes lados, já abunda.
Recomendo vivamente.
 
 
 
Sobre o Afonso Cruz:
 
 
 
 
 
Sempre grata. Sempre honrada.
 

As crianças é que sabem

             Para quê complicar?
                    Perfeito.

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