O Ar Que Tu Respiras (Melissa P.)

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Há muito ar lá fora. E aqui dentro, também. Mas nesse ar, não te encontro. Procuro, respiro. Uma tentativa rídicula, obscura de te respirar, de me entranhar nesse oxigénio já lançado ao ar, mas que entrou em ti, percorreu cada pensamento, conheceu um canto qualquer dessa alma estranha, que eu tanto desconheço, e na mesma medida, anseio perdidamente.
Nessa loucura, vou-me perdendo. Vou enlouquencendo numa fuga com cheiro de algodão doce, e promessas de quem apenas as faz nas encruzilhadas com cheiro a Diabo.
Adormeço num comboio iludido dos meus desejos, dos meus sonhos do teu ar. Sonhos de ar.
Sim, sonhos de ar. Onde tu estás, em cada parte. E onde cada parte é ausente.
O comboio parte comigo, nessa tentativa de uma fuga tão esperada, que deixa, deixa, deixa para trás um ar tóxico demais.
Adorava dizer-te o que fazeres com esse ar tão mágico, que respiras.
 
Ao som de: Somebody That I Used to Know (Gotye)
 
 
www.wook.pt: "Um bilhete só de ida", pede ela ao empregado da agência de viagens. Melissa é uma jovem em fuga. Da terra que lhe deu a vida e que agora lha quer roubar. De uma família terna e desumana. De um homem que deixou cair a máscara. De um jogo que lhe era impossível vencer. Para um futuro que promete acolhê-la sem fazer demasiadas perguntas, chamá-la pelo seu nome. Nos primeiros tempos Melissa parece ter conseguido fechar a sete chaves o demónio que havia dentro de si e que dominava as suas palavras, os seus gestos, os seus pensamentos, desde menina. Mas rapidamente se dá conta de ter vencido apenas uma de muitas batalhas contra a sua metade obscura. A guerra será longa. Em pouco tempo, uma simples suspeita transforma-se numa obsessão de ciúme auto-destruidor que corre o risco de destruir tudo aquilo por que combateu tão duramente.
Este é um romance visceral e romântico, onírico e sensual, impiedoso e tocante, em que fronteira entre a realidade e a fantasia se alarga, página após página.



"Não te mexas" (Margaret Mazzantini)

domingo, 11 de novembro de 2012



Este livro, apesar do sublinhado de "bestseller" (para mim, infeliz) não deixou de me impressionar muito. E bem. A escrita, apesar de simples, contém metáforas muito lindas, que encantam de vez enquando.
A história, essa, começa por um horror estranho e acaba numa ternura igualmente estranha. Possível? Quando se fala em amor, penso que nunca imaginamos uma história iniciar com uma violação. Mas é assim que acontece na história de Margaret Mazzantini.
O que me deixa a pensar mais sobre as várias questões de emoções, amores e desamores é o seguinte: sonhamos com a perfeição, com o amor encantado, onde nele tudo respira uma limpeza feita de sonho e quando se alcança, entramos num elevador sempre, sempre a subir.
Esqueçam lá isso.
O amor é um tudo inesperado. E por vezes, é exactamente o haver muitas gavetas arrumadas, essa limpeza feita de sonho, que nos empurra numa procura de lugares mais incapazes: e afinal, um lugar mais forte, o único e esquecido lugar capaz de nos fazer feliz.
Com todas as consequências que daí advêm.

Gostei. Recomendo.
Para os mais preguiçosos, vejam o filme. No entanto, vi o trailer e em nada me prendeu como o livro.
 
Ao som de: K's Choice "Believe"
 
 
www.wook.pt:Escrito na primeira pessoa, Não te Mexas é um pungente monólogo de um homem, um cirurgião, falando com a sua filha de quinze anos. Depois de um acidente de mota, ela é levada para o mesmo hospital onde o pai trabalha. Agora, numa sala adjacente ao bloco operatório, ele espera enquanto um amigo a opera ao cérebro. Ela está gravemente ferida e pode morrer. Enquanto espera, petrificado pelo terror e pela dor, ele começa um diálogo interior com a filha, revelando o seu segredo mais íntimo. Subitamente, o respeitado profissional, o tépido marido de uma brilhante e lindíssima jornalista, o distraído pai de uma adolescente como tantas outras, é forçado a por a nu, perante a filha e ele próprio, uma verdade há muito omitida. Há muitos anos, o cirurgião violou uma mulher, uma imigrante miserável que vivia numa das zonas mais degradadas da cidade. A partir deste episódio, desenvolve-se a mais estranha das histórias de amor, porque ele apaixona-se perdidamente por esta mulher pobre, nada atraente, sem educação, e passa a viver a sua "vida verdadeira" com ela. Até que um trágico acontecimento vem mudar tudo.

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