Citação do dia

domingo, 28 de fevereiro de 2021

 

"(...) E a ignorância gera ignorância; um corpo e um espírito não despertados dormem através de acontecimentos que a consciência cataloga automaticamente."

 (Colleen McCullough)

 💖

 

Seja feliz,

 

Alice eu fui (Melanie Benjamin)

sábado, 27 de fevereiro de 2021

A vida de Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido por Lewis Carroll, foi pautada pela peculiaridade. Em quase tudo. Era Professor de Matemática e também Reverendo, duas áreas díspares e distantes. A somar a isto, adorava contar e escrever histórias cheias dos mais intrincados pormenores. Assim nasceu "Alice no País das Maravilhas", uma aparente história para crianças, mas não só. Carroll foi exímio, numa das histórias mais célebres de sempre, a criticar, à laia da fantasia, uma sociedade inglesa dominada pelo poder do tempo e pela mão pesada (da suposta) moralidade. Uma história muito rica para quem ousar ver mais além.
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" - Em que é que estava a pensar, Alice? - interpelou-me Mr. Dodgson delicadamente. - Estava com um ar tão sonhador.
- Oh, só... estava só a reflectir na tragédia que é a infância ter de chegar ao fim."

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"Alice eu fui", de Melanie Benjamin, é uma biografia romanceada de Alice Liddell, a menina (de três irmãs) que inspirou o grande clássico da literatura infantojuvenil. Nesta história reconhecemos muitos dos traços do grande clássico infantil, contudo, numa perspectiva mais próxima da própria Alice.
Aqui conhecemos uma menina com um temperamento muito singular, muito vincado, prevendo uma mulher madura, consciente mas, na mesma medida, sonhadora.

Uma das grandes intenções da autora, mais do que os cuidadosos dados biográficos da narrativa, passa pela necessidade de questionar o quanto uma criança, que inspira um livro que todas as outras crianças vão desejar ser, pode ser influenciada para toda a sua vida. Alice foi a menina de um livro mas fora dele havia toda uma vida feita de muitas peripécias e desafios que teve de enfrentar na sua própria solidão.

Não é novidade, creio, do quanto se falou sobre a suposta pedofilia em torno de Lewis Carroll. Apesar dos estudos mais avançados da obra, nunca se chegou a um consenso sobre a veracidade da suspeita. As clássicas fotografias que tirava de meninas em poses mais sedutoras, é igualmente anotado na história condicionando, largamente, a infância de uma menina que nunca quis crescer.
 
A verdade é que «Alice no País das Maravilhas», num paralelismo com o «Peter Pan», é uma história sobre o desejo de permanecer, para sempre, no lugar quente da infância. Mas a vida vai passando, tantas vezes repleta de crueldades inesperadas, e o crescimento é a consequência da soma de dias que nunca se espelharam na ilusão dos sonhos das histórias de encantar.

Alice foi uma mulher plena, completa. A vida foi-lhe mostrando desafios aos quais, de forma mais ou menos evidente, superou e com eles, foi crescendo. Nesta obra, Melanie Benjamin oferece ao leitor uma visão mais ampla, que distancia a ideia programada de um livro que dispensa apresentações para, num cuidado profundo, nos colocar o olhar mais a nu sobre quem foi, realmente, Alice.

Mais do que uma personagem, Alice foi uma menina cheia de vida, cheia de sonhos e cheia de aventuras, para lá daquelas que a sua personagem viveu à força da imaginação de um homem que é, igualmente, personagem real na vida dela.

Entre realidade e ficção, «Alice eu fui» é um livro bonito pela porta que nos abre à imaginação de quem Alice poderia, realmente, ter sido para lá do imaginário de todos nós. Faz-nos questionar sobre o poder de uma história que quase se sobrepõe à vida tal como ela foi.

Uma bonita surpresa, sobretudo, para quem (como eu) é fã deste grande clássico da «Alice no País das Maravilhas».

Boas leituras.


Seja (muito!) feliz,


Sejamos e estejamos *presentes*

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Seja feliz!


Os Buddenbrook (Thomas Mann)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

O próprio Thomas Mann considerou o seu primeiro livro, escrito aos 26 anos de idade, como "saga familiar", sendo esta uma das classificações tipológicas mais aceite, assim como "romance de família" ou "romance de gerações". A acção do livro decorre em Lubeck, terra natal de Thomas Mann e vem contar-nos a história de uma família burguesa afetada por um declínio progressivo. Ao longo de quatro gerações, a decadência familiar vai-se sentindo de mais forma evidente, iludida apenas por breves momentos de suposta estabilidade.

Thomas Mann escreveu, num reflexo muito realista, o perfil psicológico e o estatuto social burguês, assim como uma aprimorada construção da mentalidade burguesa, incluindo um conjunto de traços comportamentais muito específicos, e peculiares, além da nítida superioridade daquela classe e sua mentalidade.

Desta forma, ao longo das referidas gerações, a narrativa incidirá como maior nitidez na quarta geração e a regressão às anteriores, como um fluxo de tempo e a decadência iminente ao leitor mas, até então, desconhecida ou não aceite pelos mais novos Buddenbrook.

 

Um dos aspetos mais pertinentes ao longo da história é a própria casa de família, uma quase personagem em si mesma. Há uma relação muito estreita entre o espaço em que a história é narrada e a própria temática de falência, de decadência familiar. De forma linear, e resumida, enquanto o patriarca Johann Buddenbrook se esmera em fazer crescer a firma homónima de cereais, contribuindo para uma imagem social da família alto-burguesa tida em conta por toda a sociedade, o seu filho Jean acaba por contribuir para a redução moderada do capital da empresa, independentemente dos seus esforços contrários, assim como os netos Thomas, Tony e Christian (geração na qual o enredo se foca), acabam por realizar a alienação do património da família sendo, por fim, o bisneto Hanno a ditar, pela força de um destino talvez, a extinção completa da estirpe Buddenbrook. 

Mas acredite o leitor que nem tudo é negativo à medida que vamos conhecendo o declínio desta família. Na mesma medida da queda do património, da falência familiar, há na mesma medida um crescimento emocional e intelectual dos homens da família. Se até então os temas empresariais e económicos giravam, forçosamente, em torno da família inteira, eis que se assiste a uma nova tendência de vislumbrar e desbravar assuntos relacionados com a religião, com a filosofia, teatro e música, quase como muletas que justificariam a queda fatídica e, paralelamente, a mentalidade burguesa muito tacanha e restrita.

O autor, muito novo no momento em que criou a obra, confessou-se fortemente influenciado pelos trabalhos de Tolstoi e Turguenev. Apesar do enorme sucesso que viria a ter, «Os Buddenbrook» não teve grande aceitação inicial por parte do público da terra natal do autor e isto porque a maioria dos familiares e amigos conseguiram rever-se em muitos momentos da história, sentindo-se ridicularizadas. Há quem defenda que surgiu, na altura, uma lista com os nomes das figuras romanescas aludindo às supostas pessoais que estiveram na base criativa do autor.

O subtítulo não dá azo a grandes erros. Esta é a história de uma família e sua decadência financeira, pessoal e, até, moral. Ler «Os Buddenbrook» pode, facilmente, assemelhar-se ao ritmo de um pêndulo. Se a festa de inauguração da casa assume o ponto máximo do sucesso, felicidade e ascenção da família, rapidamente o pêndulo assume o movimento contrário que, ao longo das gerações, acaba por eclodir com a mesma força, derrubando tudo o que fora antes construído. 

Se inicialmente as festas eram rituais quase sagrados, dando-se igual importância ao entretenimento musical, à confecção da comida e ao sabor da mesma, gradualmente, a necessidade de cada personagem parece impor-se.

Johann, casado com Antoinette, é um dos membros mais dedicados ao crescimento da empresa. Thomas, Christian e Tony são três dos filhos nos quais se reflete todos os desenvolvimentos da história. Nascerá ainda Clara, num nítido paralelismo dessa decadência,quando nasce precocemente, num dia de Primavera, fora de tempo, quase destinada a um fim igualmente prematuro. Há muita simbologia na obra de Mann o que, na minha opinião, só o eleva ainda mais a um dos melhores clássicos de sempre. 

As personagens são feitas de uma riquíssima complexidade e igual humanismo sendo, tantas vezes, impossível ao leitor não se emocionar com os azares de algumas personagens, particularmente, de Tony, a irmã mais velha e a que deposita na firma e na família as respostas a todos os seus sacrifícios e, acredite, esta será uma das personagens que Deus colocará, constantemente, à prova.

O irmão mais velho, Thomas, acabará a liderar a empresa e a família. Também esta personagem será dedicada ao nome e estatuto social que a família deposita, numa ansiedade crescente em não desonrar a imagem dos antepassados. Já Christian, irmão mais novo, é a personagem sempre doente, adivinhando um TOC profundo e uma quase hipocondria como resposta do seu eterno desejo ao ócio.

Gradualmente percebemos que, à semelhança do pai, também Thomas tem uma saúde precária. Assumindo as rédeas da empresa até à exaustão, adivinhamos que o declínio está próximo, independentemente de todos os seus esforços mentais para reverter a situação. O seu casamento, também ele pensado de forma estratégica, não só nos relembra o seu amor por Anna e tudo o que desistiu em prol do nome «Buddenbrook». O mesmo se vive, até de forma mais intensa, com a história inesquecível de Tony, junto ao mar. E seu Morten que "ficou nas pedras."

Esse é registo principal: o sacrifício da maioria das personagens em nome da família, da empresa e de tudo o que isso implica. O momento do centenário da firma é o ponto máximo que prediz o declínio total, de tudo e de todas. Nesta fase, também a casa assume, uma vez mais, o poder enquanto personagem. Após a morte da mãe, a venda da casa é inevitável. Este é o princípio do fim.

Se para Thomas, cada vez mais débil e cansado, a esperança residia em Hanno, o seu filho ainda pequeno e feito de uma sensibilidade enorme, também essa ideia sai completamente fora dos seus intentos mas, para o saber, o leitor terá de ler uma obra muito profunda sobre a importância da família e a necessidade de olhar para dentro colocada, quase sempre, em segundo plano. 


Apesar de«A Montanha Mágica» ser considerado o melhor livro do autor, e mesmo sendo um livro num tom totalmente diferente, «Os Buddenbrook» entrou, rapidamente, na lista das minhas melhores leituras. É um livro sobre uma época e é também um livro sobre questões imutáveis, transversais a todas as gerações e, talvez por isso mesmo, nos invoque tanta empatia e o desejo de que as personagens que por ali vivem, fossem um pouco mais felizes.


Seja feliz,

A ler Kundera

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

"Mas, na verdade, será o peso atroz e a leveza bela?
O fardo mais pesado esmaga-nos, verga-nos, comprime-nos contra o solo. Mas, na poesia amorosa de todos os séculos, a mulher sempre desejou receber o fardo do corpo masculino. Portanto, o fardo mais pesado é também, ao mesmo tempo, a imagem do momento mais intenso de realização de uma vida. Quanto mais pesado for o fardo, mais próxima da terra se encontra a nossa vida e mais real e verdadeira é. Em contrapartida, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, fá-lo voar, afastar-se da terra, do ser terrestre, torna-o semi-real e os seus movimentos tão livres quanto insignificantes. Que escolher, então? O peso ou a leveza?"

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"A Insustentável leveza do ser", de Milan Kundera, é a minha leitura do momento e está a ser uma agradável surpresa. Já leu? O que me diz?

 

Seja feliz,


Sobre a leitura do momento

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021


 A lady in a garden by moonlight - John Atkinson Grimshaw

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Sabe aqueles livros que nos aparecem na hora certa, como verdadeiros amigos? Aqueles amigos que nunca chegam de mãos a abanar, trazendo-nos dois dedos de conversa, um bom vinho e uns chocolates?

Pois bem, tenho vivido momentos de excelente companhia e o responsável é o Wilkie Collins com o seu «A mulher de branco».

Conto os minutos para voltar a esta leitura sempre que posso. Estou a adorar e deixo-lhe, ainda antes de terminar a leitura,  a dica para o ler. Já!


Seja feliz, em boa companhia!

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