Aventuras de João Sem Medo (José Gomes Ferreira)

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Hoje venho falar-vos de uma história repleta de magia e de lições várias. Gomes Ferreira, com as aventuras de um João sem medo, empurra o leitor para mundos desconhecidos mas com lições que deveriam estar frescas na memória de todos, como lembretes recorrentes às práticas do saber estar, do saber ser.

A história começa quando numa terra repleta de tristeza, anseios e medos, chamada «Chora que Logo Bebes», um menino cheio de bravura, João Sem Medo, decide saltar o muro e aventurar-se por novas terras: “É proibida a entrada a quem não andar espantado de existir.”

Estão os dados lançados para o início de uma aventura que parece não ter fim. Confrontado com a escolha entre o caminho belo ou feio, João começa a interiorizar a ideia de que a decisão que tomou será tudo menos fácil, adivinhando-se momentos de verdadeiras desventuras, receios e, acima de tudo, fantasias tais e tamanhas quase incapazes de competir com a sua capacidade de acreditar.

Desde transformar-se em árvore, em fonte, travar conhecimento com gramofones com asas, fadas com varinhas mágicas que o aliciam a desfazer-se do próprio corpo em prol de meros caprichos, são apenas alguns exemplos a que o leitor está destinado, obviamente, se não andar por aí espantado de existir.

Um livro que é uma pequena joia. Quem me disse, um dia, que perdurará na memória, não poderia estar mais certo. Fechei-o há poucos dias e fica a sensação de um pequeno mundo novo e à parte. Onde a magia, as aventuras de João, são bem mais do que isso: há todo um panorama de lição moral, social e política para o qual o autor, magistralmente, aponta, com os fantásticos apêndices que só a magia fortalece e conduz da melhor maneira possível.
 
Não posso deixar de recomendar!
Boas leituras.

 
Mais um desafio superado.
O mês de Setembro será ainda mais especial!
 

Psicologia(s) #4

segunda-feira, 29 de agosto de 2016









Advertência: Caros senhores, é um facto. Não se trata de feminismo assolapado. Isso, não defendo eu.

As Coisas que os Homens me Explicam (Rebecca Solnit)

domingo, 28 de agosto de 2016


O livro de Rebecca Solnit é um agitar de consciências bem premente face à desigualdade de género. O quanto o papel da mulher na sociedade permanece num limbo sombrio cuja definição se encontra ainda a uma grande distância, apesar dos esforços reunidos para se encurtar.
É precisamente sobre os esforços nesse caminho que a autora se debruça.
 
Este livro de ensaios surgiu da situação caricata que foi encarar um homem, presunçoso, ao falar-lhe da história de um livro, - que, na verdade, ainda não havia lido - falar-lhe maravilhas sobre ele, interromper-lhe as suas tentativas vãs de entrar na conversa, assumindo o aparente controlo da situação para, mais tarde, desejar cavar um buraco (terá mesmo desejado?) ao descobrir que a autora do livro era a própria Rebecca Solnit.
 
"Gosto de episódios deste género, em que forças que geralmente são matreiras e furtivas saem do mato onde se escondem e se tornam tão notórias como, sei lá, uma anaconda que comeu uma vaca ou como uma bosta de elefante no tapete." p.13

Com uma escrita muito acessível e bem humorada, a autora vai-nos alertando para aquela que é a grande problemática da desigualdade de género: muitos poderão pensar o quanto já foi feito (e muito sim) e que, atualmente, a mulher detém já uma posição social muito mais segura e assumida, no entanto, os km a percorrer são muitos ainda, com obstáculos, por vezes, inimagináveis.
 
A autora tem um apontar de dedo sublime, que o faz não só pela escrita despretensiosa mas também por uma pesquisa cuidada e muito interessante.
 
Casos alarmantes de violência doméstica, violações constantes, a falta de liberdade de expressão porque se é mulher, pessoalmente ou através das redes sociais, são algumas das situações exploradas pela autora, sob o ponto de vista agressivo por parte de uma mancha masculina. Digo mancha porque a autora, e bem, sublinha a sua ausência de intenção em generalizar condutas face ao género. Um aspeto que, pessoalmente, me agrada imenso pois as generalizações nunca nos levarão a lado nenhum. No entanto, enfatiza a prevalência de um comportamento muito mais prepotente, monopolizador e agressivo face aos homens. Os estudos comprovam, as estatísticas também.
 
"De certeza que a mentalidade de quem pensa que precisa de ganhar, de dominar, de castigar, de ser rei e senhor deve ser horrível e tudo menos livre, e desistir desse objetivo inalcançável seria libertador." p.42

Considero este pequeno livro de ensaios obrigatório. E não apenas por ser mulher e sentir-me enaltecida por muitos trechos aqui explanados.
Sinto que é obrigatória a sua leitura por mulheres e homens. Porque a sua leitura permite refletir sobre uns conjunto de aspectos tão enraizados por diversas culturas que, por vezes, novas abordagens e novos pensamentos nos parecem descabidos.
Quando a autora acede ao exemplo da «Síndrome de Cassandra» e à história do «Menino e o Lobo» são gritantes as divisões de género e a credibilidade dada a cada um: Cassandra era a menina que dizia a verdade mas em quem ninguém acreditava e o menino foi quem contou uma mentira em que toda a gente acreditou. Esse aspeto dá muito que pensar, para nós mulheres. E para os homens?
Sobre esse aspeto em específico a autora anota, ainda:

"Só mais uma coisa sobre Cassandra: a descrença com que as profecias dela eram recebidas resultava de uma maldição que o deus Apolo lhe lançara, quando ela se recusara a ter relações sexuais com ele. A ideia de que a perda de credibilidade está associada à reivindicação de direitos sobre o próprio corpo estava lá desde o início. Mas, no caso das Cassandras da vida real que vivem entre nós, podemos acabar com a maldição decidindo por nós próprios em quem acreditar e porquê." p.120


Este é apenas um exemplo e uma situação entre muitas expostas pela autora. O ensaio apresentado sobre Virginia Woolf é igualmente soberbo e só posso recomendar. Aliás, este livro, como poderão perceber, recomendo com ambas as mãos, da primeira à última página, na certeza de que Rebecca Solnit será uma autora para seguir atentamente.

Boas leituras.


Hakuna Matata

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

 
E o resto, é conversa.
Fonte: Pinterest


Psicologia(s) #3

quinta-feira, 25 de agosto de 2016














Dica: A probabilidade de ela estar apaixonada é muito elevada. Mostre-se digno! ;)

How deep is your love

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

 
Tão bom.

Arde o Musgo Cinzento (Thór Vilhjálmsson)

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Se há medida certa entre expectativa elevada e encantamento puro, este livro conseguiu todas essas proezas. Se eu sempre quis ir à Islândia, com Thór Vilhjálmsson, a certeza consolidou-se ainda mais. Que escrita. Que livro tão bonito.
 
A história centra-se no amor entre dois meios-irmãos e no assassinato de uma criança ou, por outras palavras, em incesto e infanticídio.
 
Mais do que o amor entre os dois e um povo amedrontado, envergonhado e com bocas que preferem calar a mostrar, surge no local de gentes que também são suas, um juiz e poeta, para julgar, pela primeira vez na sua vida, um caso que abalou os corações de todos.
 
São muitas as coisas nas quais me posso centrar neste livro e penso que aquela máxima que defende o quanto o livro é bom pela capacidade de perpetuar, após a sua leitura, se aplica na perfeição com este «Arde o Musgo Cinzento». Passam os dias e mantêm-se frescas as memórias sobre as personagens cativantes, singulares e fortes que Vilhjálmsson criou. Sim. Tenho a certeza essa será a melhor definição de um bom livro: a capacidade de perpetuar.
 
Para mim, há três focos principais nesta história: o amor entre os meios-irmãos, o juiz e poeta e a paisagem islandesa.
 
Se a muitos o amor entre os meios-irmãos poderá chocar, soar a bizarro, pelas leis de uma Natureza, ou o que seja, o autor descreve-o de tal forma que se assume como inevitável, como duas forças que nasceram na mesma direção. O leitor assume aquela união de forma natural, pela mão de um autor que o colocará aqui e, mais tarde, além, quase sem se aperceber. A escrita de Vilhjálmsson é assim: um corrupio de urgências, todas elas com sentido.
 
O juiz e poeta, a personagem principal desta história, cativa pelo cinzento de que é feito. Se o primeiro caso que julga o amedronta, levanta-lhe também um conjunto de recordações e vivências que proclamam respostas. Um trajeto centrado em si mesmo, na sua capacidade questionável de julgar os costumes de uma terra, de um povo, ou de quem for. Um trajeto cravado de autoquestionamentos preponderantes na sua autodescoberta, na sua própria vocação, até então sempre enevoada.
 
Por último, as paisagens islandesas, os mitos, as fábulas que deliciam e cativam todo e qualquer leitor. Ao longo de uma belíssima história, somos acompanhados pela Islândia no seu esplendor, certos de que toda aquela atmosfera é determinante nas ações daquelas gentes, como uma neblina sempre presente, moldando condutas e reafirmando vontades.
 
 
Muito recomendado!
Boas leituras.
 

Confidence, my dear.

domingo, 21 de agosto de 2016

Ilustrações de Sarah Andersen
Adoro isto!
 

Na companhia de Vilhjálmsson

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

 
«Arde o Musgo Cinzento» | Thor Vilhjálmsson
 

Psicologia(s) #2

quarta-feira, 17 de agosto de 2016





Dica: Não se coíba. Lute.

Confissões (Kanae Minato)

terça-feira, 16 de agosto de 2016
















Uma surpresa muito agradável, este livro de Kanae Minato.
Mas primeiro, tenho de partilhar convosco o momento em que o Mirtilo, o meu gato, delira com o livro e cisma em prosperar na foto. Não contente, arregala o olhito para ficar com ainda mais estilo:
 












Brincadeiras à parte, este livro prende, de facto, qualquer um.
Foi Theodore Roosevelt quem um dia disse "Educar uma pessoa no intelecto, mas não na moral, é educar uma ameaça à sociedade."
 
«Confissões» de Kanae Minato é um livro que levanta a cortina para o tema da parentalidade enquanto fator predominante da violência juvenil. Leram bem.
São muitos os artigos na área da Psicologia que defendem a prática de uma parentalidade positiva, no entanto, muitos acabam por não saber ao certo do que se trata, focando-se mais no «positivo», e menos na «psicologia» e, quiçá, misturando tudo num reforço desajustado. Esse mesmo reforço desajustado termina naquilo que chamamos de «papás multibanco» que à falta do tempo de qualidade, compensam com os tais bens materiais que aparentam iludir a criança. Aparentam.
O quadro das relações familiares tem vindo, de facto, a escurecer dramaticamente. Os resultados, obviamente, não poderiam ser melhores.
 
Kanae Minato com uma história que envolve o assassinato de uma criança de 4 anos perpetrado por dois adolescentes, enfatiza sublimemente a gravidade das relações humanas, o amor deslocado e o quanto a parentalidade distorcida - e entenda-se aqui as diversas formas que esta pode tomar - tolhe a oportunidade de se crescer com os alicerces corretos.
 
O livro, narrado sob as perspetivas das diferentes personagens, vai permitir um enfoque mais aprofundado da temática, reforçando os aspetos que aqui invoco sobre os jovens, os pais, a parentalidade e os comportamentos inconsequentes de filhos mimados que parecem não ter adquirido competências pessoais e sociais que lhes permitam introduzir o simples conceito do «Não». Da contrariedade. O problema geral reside aí.
 
O leitor assistirá à ideia geral de que se alguém disser não a uma criança/jovem nos dias de hoje, ocorrerá uma espécie de intolerância emocional. Chamemos-lhe assim, para sermos mais brandos e não me acusarem de extremismos.
 
Ao abordar dois conceitos distintos de parentalidade - uma mãe protetora e a uma mãe ausente - a autora revela os efeitos disso mesmo nos dois adolescentes que, numa aproximação improvável, decidem matar uma menina, filha da sua professora. Só porque sim. Porque um menino precisa de atenção e reconhecimento. O outro, precisa de acreditar que não é um fracassado.
 
Numa jornada de destinos cruzados, de planos meticulosos, engendrados pela astúcia dos que lhe roubaram o sentido da vida, presenciamos as agruras de um castigo que se pretende demorado.
Dizem os estudos que as aprendizagens efetivas, para o serem de facto, requerem hábito e método. Acrescentemos a todo o processo, o tempo. E para quem já nada tem a perder, como a Professora Moriguchi, tempo é um mero pormenor.
 
Pela temática que encerra, «Confissões» de Kanae Minato, é um livro obrigatório. O olhar sobre a problemática da parentalidade interligada à violência cada vez mais gritante dos jovens como chamadas inconsequentes de atenção, força o leitor a uma reflexão sobre um assunto de tamanha relevância.
 
Boas leituras.


 
Obrigada à Penguin Random House por esta fantástica oferta.

 
 

Psicologia(s) #1

segunda-feira, 15 de agosto de 2016




Dica: Use e abuse.

A Peregrinação do Rapaz Sem Cor (Haruki Murakami)

sábado, 13 de agosto de 2016














O mais recente livro de Haruki Murakami reúne em si mesmo doses de nostalgia, arrependimento e esperança. Tudo isto feito da forma magistral e característica do autor. Acrescentaria, também, a ternura e sensibilidade em que tal peregrinação é feita, impossível de fazer esquecer Tsukuru Tasaki, personagem principal desta história.
 
Tudo começa com a vontade de Tsukuru em morrer. Em cair do abismo e terminar com tudo, de uma vez. Há fases da vida em que de tanto de se olhar para o abismo, ele vai-se apoderando e conquista-nos. Já alguém o dizia. Está quase a ser assim com Tsukuru, mas algo parecia estar destinado a mudar a sua jornada, a sua peregrinação.
 
Um rapaz calmo, aparentemente sem preferências que se destacassem, Tsukuru viu sempre no grupo dos seus amigos, (cujos nomes representam uma cor, menos o dele, daí o título da obra) a sua paz e a sua própria salvação. A adolescência foi, assim, pautada por uma amizade inesquecível, de laços destinados à eternidade, numa junção que entrelaçaria a sua própria identidade. Cinco amigos, como o número de dedos de uma mão, indissociáveis. Nem um a mais, nem um a menos. O número perfeito para que possa fazer sentido. Como a mão segura que agarra sonhos determinados.
 
Por pouco ambicioso que Tsukuru fosse, um sonho ele tinha: construir estações de comboio. Tal como o nome que o pai lhe dera, que significa criar, ele sempre desejou criar coisas. Construir essas estações de comboios que sempre admirou. Foi precisamente esse sonho que o fez deixar a sua terra Natal, Nagoia, e partir para Tóquio. Os seus quatro amigos, Aka, Ao, Kuru e Shiro, permaneceram no mesmo lugar. Um dia, porém,  inesperadamente, aqueles decidem cortar relações com ele, sem qualquer explicação. Um penso rápido que se arranca sem pedir, que atordoa, que questiona, mas que não responde.
 
Dezasseis anos passariam.
Inerte, Tsukuru recolheu-se em si mesmo, na dor de quem conhece, em primeira mão, o empurrão seco de quem não nos quer mais.
Dizem que o tempo atenua. Eu acredito que o tempo mói, como a Moulinex. E ele foi vivendo assim, um dia de cada vez, que moeu à força de dias que se repetiam, iguais nas questões que nunca se respondiam a si mesmas.
 
Novas amizades viriam, para desaparecerem na mesma medida. Ensinando-lhe um pouco mais de abandono, mas também de aventuras que lhe dariam um pouco de cor aos dias.
 
Depois, numa lufada de ar fresco, e aí reside a beleza deste livro, surge inesperadamente, um amor fresco e sem aviso. Tal como deve ser, para ser verdadeiro. Um gosto de ti.
É Sara quem desbrava esta peregrinação de Tsukuru que, cansado, não ousou confrontar as suas próprias questões, refugiando-se em si mesmo, nos seus comboios, nas suas sombras. Armazenou dúvidas, anseios, nostalgias fora de validade em pequenas gavetas, como ele próprio refere, bem arrumadas, mas sem qualquer discernimento em ou entre si mesmas.
 
 
"Nesse instante, Tsukuru soube. No mais profundo do seu ser, compreendeu por fim. O que o coração das pessoas não é apenas a harmonia. Os corações humanos unem-se através dos desgostos sofridos. Ferida com ferida. Dor com dor. Fragilidade com fragilidade. Não existe silêncio sem um grito de dor, não existe perdão sem derramamento de sangue, não existe aceitação sem a inevitável passagem pelo sentimento de perda. É aqui que se encontram as raízes da verdadeira harmonia." (p.303)

 
Sara. Ou a esperança.
Com tamanha sensibilidade, acompanhamos a leveza desta personagem no encaminhamento de alguém que se perdeu e, nela mesma, se volta a encontrar.
Chegaria, enfim, um motivo para largar a monotonia dos dias e encontrar as razões de um bloqueio que decidira instaurar na sua própria vida.
Há empurrões que nos lançam escada abaixo. Outros, porém, que nos obrigam a subir.
 
Independentemente da incerteza, da dificuldade de apurar as respostas que mais ambiciona, Tsukuru está pronto, enfim, para enfrentar a vida para lá dos tons neutros a que, teimosamente, se resignou.
 
 
"Nem tudo desaparece com a passagem do tempo. (...) Naquela época, acreditávamos cegamente em qualquer coisa, e, mais do que isso, éramos capazes de acreditar em qualquer coisa. E esse tipo de sentimento não pode desaparecer assim, de um momento para o outro, sem deixar rasto." (p.362)
 

Gostei imenso deste livro, como tem vindo a ser um hábito com todas as histórias do autor que resolvo conhecer. Um livro que nos obriga a refletir no quanto as nossas vivências, em determinados momentos, nos marcam indelevelmente.
Cabe-nos, portanto, determinar o quanto o futuro deve, ou não, prevalecer.
 
 
Boas leituras.
 
 
Ao som de:
Amber Run | I Found
And I found love where it wasn't supposed to be
Right in front of me, talk some sense to me


Habits of the common bookworm

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

 
 
 

(...) in a simple way

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

 


Estante de Serviço #5

quarta-feira, 10 de agosto de 2016




Ganância
_______
 
 A Pérola
John Steinbeck
 
 
O desejo de possuir mais do que realmente precisa - mais dinheiro, mais bens, mais poder - é uma estranha predileção. Porque com que objetivo compramos, colecionamos, juntamos? Se não precisar de uma coisa, como vai usá-la?
Um excesso de bens pode ter a mesma gravidade do que o excesso de peso; e ter mais dinheiro no banco do que aquilo que pode fazer com ele estragará a satisfação de trabalhar e poupar para ter um prazer duramente conquistado. Além disso, quando é que é suficiente? Porque a ganância não conhece fim e, quando a ganância se torna insaciável - conduzindo ao açambarcamento compulsivo, ao roubo e à fraude - sabemos que nos perdemos na sua busca sem sentido.
Steinbeck demonstra o pode que a ganância tem de destruir uma simples família no seu conto alegórico A Pérola. Kino e Juana têm o que ele retrata como uma vida perfeita: vivem numa cabana junto ao mar, onde Kino faz a sua vida mergulhando em busca de pérolas. Um dia, o seu bebé, Coyotito, é mordido por um escorpião e fica perigosamente doente. Incapaz de pagar o tratamento médico, Juana reza para o seu filho poder sobreviver. Milagrosamente, ele encontra exatamente a pérola das suas preces. Não só podem agora pagar a um médico para Coyotito como podem dar-lhe uma educação. Mas, logo que a pérola entra na posse de Kino, o seu mundo começa a desfazer-se. Outras pessoas ouvem falar da pérola e desejam-na para si. Em breve, Kino fará tudo para proteger a pérola. A sua mulher vê o potencial que existe para sarilhos e tenta convencer Kino a lançar de novo a pérola ao mar. Mas ele não quer largar o seu sonho de riqueza. Em pouco tempo são obrigados a deixar a sua aldeia e perderão mais do que imaginam.
 
 
 
Este livro é uma verdadeira pérola para revelar ao leitor o quanto as mais pequenas coisas da vida são, de facto, as mais desprezadas. No fim de contas, são aquelas às quais queremos sempre voltar num remorso envergonhado de quem, agora, fará tudo de uma forma completamente diferente. Como se tal fosse, ainda, possível.
Boas leituras.
 


Psicologia(s)

terça-feira, 9 de agosto de 2016

 
 
 
 
 
Solução: Ler mais.

O Colégio de todos os Segredos (Gail Godwin)

domingo, 7 de agosto de 2016


A minha história com este livro remonta há cerca de 5 anos atrás. Lembro-me de ter lido o resumo e, na altura, me ter transportado um pouco para as histórias da Joanne Harris. Gostei e quis ler de imediato. No momento em que o fiz, não o consegui comprar, e nas fases seguintes em que o tentei fazer, acontecia sempre uma coisa qualquer que me impedia de o adquirir.
 
Tinha mesmo de ler «O Colégio de Todos os Segredos», no entanto, esta não é propriamente uma daquelas histórias felizes do livro que se perde no tempo e encontra o leitor que o adorou, tornando-se num dos livros da sua vida. Não foi, de facto, uma leitura prazerosa.
 
O livro começa, desde logo, por confundir um pouco o leitor pelas inúmeras personagens com que nos confronta. Inicialmente confunde, bastante, e desorienta a leitura do mais destemido. Ultrapassada essa questão, o leitor terá de lidar com alguma lentidão no decorrer da história que, na minha opinião, não traz nada de novo no que poderia ter sido narrado, ao invés das 511 páginas, em cerca de 250 e ganharia muito, muito mais.
 
Esta é a história narrada por uma mulher, a Madre Suzanne Ravenel, no momento em que decide escrever as suas memórias enquanto tal no Colégio Feminino «Mount St. Gabriel's».
 
A partir daqui o leitor terá a oportunidade de conhecer várias gerações de mulheres que frequentaram um espaço repleto de tradições, momentos, memórias e muitos segredos. Segredos esses que moldaram para sempre formas de ser, de estar e encarar as pequenas vidas das meninas que, obrigatoriamente, se tiveram de fazer grandes.
 
Não é um livro que prima pela novidade ou pela surpresa. Fica, no entanto, o contexto do colégio e, sobretudo, a importância e o peso que as amizades nos carregam nos ombros. A forma como prevalecem ao longo dos anos, ao longo da vida, e mesmo depois desta.
 
Penso que sim, que seja precisamente por aí, a pérola que se poderá encontrar neste colégio: as amizades enquanto fios condutores e definidores daquilo que se é, do que se pode ser, de quem se pretende tornar. Desejos, esses, sempre envolvidos em segredos maiores do que a própria sombra.

I Found

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

 

Silly Boys. Books and Girls.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Fonte: Pinterest
 

Sobre quem escreve e nada diz

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Eis que partilho a minha opinião sobre um assunto com o qual me desafiam há muito.
Não tenho, por norma, o hábito de me expressar quanto a essa temática da qualidade da escrita e dos escritores. Tal temática é, hoje em dia, cada vez mais empolgada pela fúria das redes sociais quando, de um momento para o outro, a dita comunidade virtual, decide que o menino de 12 anos que rabiscou numa parede "Gosto muito de ti, mamã linda" tem um potencial sobre-humano para chegar à alma mais recôndita do leitor. Mas adiante. Que seja. Vamos lá falar.
 
A minha vontade, assim de chofre, é perguntar que raio se passa na cabeça das pessoas e as redes sociais. Há quase um paralelismo entre a realidade virtual e a física, com críticas acesas e sentidas quando um utilizador se sente ofendido perante um determinado assunto, seja ele qual for. Chegamos ao cúmulo de sentir primeiro, calar, para mais tarde exorcizar a cena em frente ao computador.
 
Poderão achar que me estou a desviar do assunto, mas não estou. Porque a vida está, tal como um funil, a estreitar a um ridículo tal que as pessoas se tornaram incapazes de integrar o termo «aceitação» nos cérebros. Não lhes passa pela cabeça alguém não simpatizar com o trabalho do Pedro Chagas Freitas, que é assumidamente o meu caso, porque simplesmente... não lhes passa. Passaria mais depressa um camião de censuras ridículas em cima do meu ego. [E este é o momento do meu silêncio desconfortável.]
 
Sabem porquê que não gosto do trabalho do Pedro Chagas Freitas? Porque li. E é precisamente aí que quero chegar. A vida não nos ensina, maioritariamente, com os erros em que caímos?
Então porquê que não podemos ler merda, também? (Não me estou a referir ao senhor Freitas nem a ninguém em particular).
E há mais. Quem sou eu para dizer que tu estás a ler um livro de merda e eu estou a ler um daqueles clássicos brutais? Só porque dizem que é bom?
Leia a história infantil «O Rei vai nu». Pense um pouco sobre isso.
 
Sim, eu sou daquelas pessoas que dizem que o mais importante é ler. Ler aquilo que seja importante para cada um de nós. Seja Pedro Chagas Freitas, seja Nicholas Sparks, seja Thomas Mann ou John Steinbeck. O mais importante é que cada um encontre num texto, num livro, aquilo que procura e que o ajude a evoluir. Se podemos chamar determinados trabalhos de literatura, ou não, porque não deixar para os entendidos na matéria? Eu deixo.
 
Para mim, o que realmente importa é a expectativa de um livro e sei, também, que o gosto pela leitura é uma jornada longa que se desenvolve, que vai crescendo e amadurecendo. Como a vida.
 
No que aos livros diz respeito, deve permanecer, na minha opinião, a oportunidade. A oportunidade de se deixar surpreender. Aceitem isso. A liberdade de se poder escolher, mesmo que uma suposta merda. Há sempre alguma coisa. A máxima de um livro para uma pessoa. Seja lá ele qual for.
As melhores coisas da vida são, 99% das vezes, as inesperadas.
 
 
Fica a opinião, que nada mais é do que isso, sobre quem escreve e, aparentemente, nada diz. Penso que o problema está, precisamente, na distância entre aquilo que são as opiniões e os gostos para a dramatização e o exagero de quem tem de gostar, forçosamente, do que é bom.
Seja lá o que isso for.
 
Muitos livros. Muitas leituras.


 

 

Ler(-te) em Português de Agosto



Agosto acompanhará as aventuras de João sem medo.
Segundo muitos me dizem, um livro que ficará na memória.
Vamos ver. E ler.
 
Boas leituras.
 
 
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Poderão ler mais informações sobre este desafio pessoal, aqui
 
Ler(-te) em Português de Janeiro, aqui
Ler(-te) em Português de Fevereiro, aqui 
Ler(-te) em Português de Março, aqui
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Ler(-te) em Português de Maio, aqui
Ler(-te) em Português de Junho, aqui
Ler(-te) em Português de Julho, aqui
 

A Sylvia é que sabe

segunda-feira, 1 de agosto de 2016










É que por vezes, não é tão óbvio assim.

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