À espera de Moby Dick (Nuno Amado)

domingo, 20 de janeiro de 2013

 
Não sei muito bem o que dizer. Li este livro na semana passada e ao longo dos dias continuei a pensar nele. É um bom sinal. Há livros dos quais não queremos pensar que os lemos, há aquela desilusão do tempo perdido numa história muito mal construída.
Depois, há daqueles que nos fazem entrar e não nos deixam sair. A escrita de Nuno Amado não é nada de extraordinário, mas também não posso dizer que é escrita sem calorias intelectuais que nos deixam secos, de uma fome emocional que não se sabe explicar. Não. De todo.
Há uma expressão nítida da dor que é viver o processo de uma perda, sejá lá ela qual for. E com o ligeiro travo de loucura que persiste dar a mão nesses momentos confusos. Uma loucura necessária, diria eu. Muito necessária.
 
Fugir. Esconder o rosto do mundo que nos persegue. O que seja. Escrever, desenfreadamente, cartas com ou sem sentido. O que importa?
 
A forma como lidamos, não interessa. O processo, o caminho, esse sim, interessa. A certeza de que se consegue chegar a algum lado.
 
E não interessa onde chegamos. Mas como chegamos.
 
 
Recomendo.
 
Obrigada, mano :)
 

O Profundo Silêncio das Manhãs de Domingo (Manuel J. Marmelo)

sábado, 12 de janeiro de 2013


Curiosamente li este livro numa manhã de Domingo. Fria. Uma manhã fria mas boa. Falam muito sobre solidão. Em tentar compreender, ou mais ainda, tentar dela fugir. Em ambos os casos, não compreendo. No primeiro não consigo compreender quando é algo que considero perfeito e no segundo, o primeiro responde. Não se foge da perfeição!
Acredito mais na possibilidade do medo em estar só contornado a outro medo: o de encarar o “Eu” escondido na gaveta, mais do que qualquer outra coisa.
Vejamos então, não passaremos de uns meninos, pequeninos, com medo do escuro? Com o eterno desejo de sermos levados no colo de alguém? É humano sim, e os psicólogos, esses palhaços, defendem muito bem essa questão. Concordo. Mas amo esse silêncio. Essas manhãs de Domingo. Esse silêncio que corresponde à liberdade de ninguém depender. Um silêncio de mão dada a um nada doce. Um nada passado a contrato sem termo certo. Um nada possível de encher sempre que se quiser, com outros nadas, que são tudo. Profundo Silêncio. O que seja! Mas que seja meu! Que seja teu!
O que tento dizer é que nos assuntos do coração há a emergência de uma escolha genuína. E que nesse profundo silêncio de uma manhã de domingo, o coração esteja ritmado pelo silêncio certo.
Corri o risco e perdi-me em devaneios. Este é um livro de contos, assim, simples, de pequenos nadas, que são tudo. Numa manhã de domingo, no seu profundo silêncio.
 
Também recomendo.
Ao som de: Muse “Madness”

As Irmãs Brontë (Werner Waldmann)


Há um fascínio em mim por estas três mulheres. A sua biografia retratada neste livro permitiu ampliar ainda mais tal fascínio. Penso que se quisesse, ou tentasse, explicar o porquê do meu fascínio não conseguiria. São coisas simples que acontecem por uma razão, e escolho ficar com essa razão para mim.
Não há finais felizes nas suas vidas. Mas há o sonho em cada uma delas, ora mais ténue, ora mais forte em cada uma das irmãs. Um percurso, uma estrada que se tenta percorrer na medida desse desejo.
Apesar dos seus livros não serem dotados da mais alta qualidade, no seu tempo, sobretudo, Charlotte, alcançaram o reconhecimento público, algo que na época vitoriana, para uma mulher, era considerado algo de grandioso. E foi, de facto.
Quanto a mim, realço as personalidades esmagadoras destas mulheres e a bela sensatez.
 
Ainda hoje, os livros destas três mulheres "não ficam a ganhar pó nas estantes".
 
Recomendo todas as suas obras :)

O Dom de Gabriel (Hanif Kureishi)

 


Este livro acabou por ser uma surpresa, duas vezes. Primeiro, tinha grandes expectativas sobre ele que se foram perdendo à medida que o ia lendo. Segundo, fui ganhando uma nova perspectiva sobre ele, que não deixou de me surpreender. Daí, as duas surpresas.
Esta é a história de Gabriel, um adolescente de 15 anos, envolvido na loucura dos pais acabados de se separar. Nessa sequência, também ele acaba por se perder nos meandros estranhos que só a loucura conhece e vicia, a pouco e pouco. 
Dom. Teremos, de facto, um?
O Gabriel acreditou e nessa estrada ruim em que pais voltam a viver uma adolescência conturbada, ele perdeu-se num sonho e numa procura desenfreada de algo bom. Perdeu-se no poder tão reparador que só a imaginação e o poder de sonhar pode dar às horas mais desesperadas.
O fim da história, esse, depende da crença. Depende da força do sonho. E do nosso dom. Seja lá ele qual for.
 
Por muito que o livro me tenha iludido, acabei por gostar.
 
 
www.wook.pt: "O Dom de Gabriel" recria Londres na sua contemporaneidade através do olhar adolescente de Gabriel, filho de um músico rock decadente (que "observava o mundo através do fundo de um copo de cerveja") e de uma ex-groupie a trabalhar num bar. Os pais separaram-se e Gabriel vê-se um tanto confuso e perdido, como quase todos os seus amigos, a quem chamam filhos pinguepongue, divididos entre duas casas, mimados alternadamente, com meios irmãos e novos "pais" e "mães". No meio de tudo isto, Gabriel tem um dom, um talento, mas não sabe qual é e tenta descobri-lo ao longo do livro.
 

"A Viagem de Felicia" (William Trevor)

domingo, 6 de janeiro de 2013

Apesar de outros livros que gostaria de comentar, o primeiro livro que li de William Trevor arrebatou-me severamente, de tal modo que aqui estou.
Desde as personagens, ao início de uma história contornada pela simplicidade, vai assombrando o leitor pela ingenuidade de Felicia e pelo lado sombrio do Sr Hilditch.
Permite questionar o valor de cada passo dado e a infinidade de caminhos possíveis. A imprudência da adolescência e o fim da inocência, para sempre, em Felicia. E em tantas outras.
Ao longo das ruas, na procura desesperada de um amor que prometeu mundos e fundos, do outro lado da estrada, há outros perigos subtis, mas em nada menos pesados e perigosos. Ocultos. Ansiosos. Loucos.
Cegos à certeza do fim do sonho.
Tenso.
Como alguém disse, magistral.
 
 

Em www.wook.pt: «És linda», disse-lhe Johnny e, então, cheia de esperança e com apenas dezassete anos, Felícia atravessa o Mar da Irlanda para Inglaterra ao encontro do seu amado, para lhe dizer que está grávida. Desesperadamente em busca de Johnny nas desoladoras Midlands pós-industriais, ela é, pelo contrário, encontrada pelo Sr. Hilditch, um estranho e solitário homem, um coleccionador de jovens raparigas perdidas...
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