... completamente livres

quinta-feira, 28 de maio de 2020

 
"O sexo nunca será nada de bom até sermos completamente livres. Pelo menos, o suficientemente livres para sermos capazes de nos centrarmos em Deus enquanto o fazemos."

Paul Bowles | "Por cima do mundo" 



Seja feliz,

Manual de sobrevivência de um escritor (João Tordo)

terça-feira, 26 de maio de 2020


«Manual de sobrevivência de um escritor  ou o pouco que sei sobre aquilo que faço» marca o regresso de João Tordo num registo diferente. O autor traz-nos um ensaio literário muito cuidado em que a humildade assume lugar de destaque neste que é um alinhavar profundo de ideias e conceitos sobre a arte da escrita, sempre envolta numa aura de mistério e fascínio.

É um livro dedicado, principalmente, a todos aqueles que aspiram à mesma arte, contudo, o autor sublinha que o mesmo se estende também a todos os curiosos em torno da temática da literatura e do processo criativo.

Reforço a humildade como nota presente em todo este ensaio literário. O autor vai direto ao ponto, sem espaço para entusiasmos fora da caixa, é honesto, por vezes incisivo e, outras tantas, tem um dedo que pressiona a ferida dos sonhadores sem arnês.

Não há receitas mágicas e quando o assunto é viver da escrita, é necessário um banho de realidade face aos enormes desafios que um futuro escritor tem, forçosamente, pela frente. A definição, sempre pouco clara, do que é um escritor, a importância exagerada do enredo de um livro, a suposta técnica, o amor como temática tantas vezes abordada, as manias e a necessidade de lidar com o fracasso, são alguns dos assuntos desenvolvidos por um autor muito consciente e bondoso. João Tordo trata os futuros escritores com uma bondade admirável, como quem previne sem assustar demasiado mas, também, sem castelos construídos no ar.

Entre a humildade e o equilíbrio que até os sonhos exigem, João Tordo desafia-nos a conhecer os bastidores de quem escreve não esquecendo a partilha de algumas receitas conscientes para quem aspira a fazê-lo no futuro.

Gostei imenso e deixo aqui a minha enorme recomendação para futuros escritores e, na mesma medida, a todos os bons leitores.





CHEGA HOJE ÀS LIVRARIAS.


Com o apoio,


💓

Seja feliz,

Todas as almas (Javier Marías)

segunda-feira, 25 de maio de 2020


Em «Todas as almas», Javier Marías empurra-nos para uma história contada por um homem sem nome. E não é por acaso que isso acontece. Pondera-se a possibilidade do romance ser autobiográfico. As notas finais do autor (Conferência lida a 7 de Novembro de 1989 no âmbito do seminário A Personagem romanesca, em Madrid.) apontam para um não. Ainda assim, o leitor tem um espaço feliz para duvidar das palavras do autor. Bem ao seu jeito irrepreensível de quem conta, sem contar.

São muitas as definições que podemos encontrar para a palavra «alma». De todas elas, escolhi esta: "Pedaço de sola que fortalece o enfranque do calçado». Mais tarde, explico-lhe o porquê.

Aqui se escreve sobre um professor espanhol, sem nome, durante a sua estadia académica na cidade de Oxford. Perdido numa espécie de vida nova, com pessoas novas e a necessidade de um encaixe que se impõe, vamos acompanhando os seus passos tímidos naqueles que serão dois dos anos mais marcantes da sua vida.

Todo o livro parece ser criado na sombra da solidão deste homem e nos esforços para lhe fugir, mesmo que subtilmente. Conhecerá a jovem professora Clare Bayes, casada, e com quem manterá um romance secreto.
A narrativa acontece muito depois do professor ter estado em Oxford. Agora é casado e pai de um filho ainda pequeno. Serão as reminiscências em torno daquele lugar e da aventura proibida que o fará entrar num rodopio de pensamentos sobre si mesmo, sobre Clare naquele passado, sobre a vida, sobre os autores que estudou e, acima de tudo, sobre todos aqueles com quem travou contacto, a maioria, já falecidos.

Esta é uma história feita de reminiscências, como quem precisa de voltar a um passado particular para engrandecer as perspectivas do presente que agora vive, a exigência da responsabilidade de ser pai. É também uma história de pessoas perdidas, a solidão como ponto comum e o amor como destino sonhado. A certeza de que todas as almas aspiram ao mesmo acalma e conforta, tal e qual como o pedaço de sola que fortalece o enfranque de um sapato.
Há lugares comuns ao desamparo e é a certeza de não estarmos sós que nos sustenta a alma agitada e perdida naquilo que foi e, muito provavelmente, não voltará.

Com o apoio:
 
Pedaço de sola que fortalece o enfranque do calçado.

"alma", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/alma [consultado em 24-05-2020

Seja feliz,

Javier Marías disse

domingo, 24 de maio de 2020

 

  
   "Por vezes, o verdadeiro saber é indiferente, e então podemos inventar."
Javier Marías em " Todas as Almas"



Seja feliz,

O Macaco Rabugento (Suzanne Lang)

sábado, 23 de maio de 2020

Livro infantil

Hoje é um dia em que o Quim Panzé, o chimpanzé, está de péssimo humor. Está rabugento e a cada passo que dá, todos na floresta o questionam, indignados, como é possível estar ele assim num dia tão bonito?
"Não estou rabugento!", gritou e sentenciou muitas vezes. Mas na verdade, o Quim Panzé está muito rabugento e quanto mais o contrariam, pior se sente.

Há uma grande verdade num livro tão pequeno. São muitas as vezes que nos confundem as emoções com botões. Houvesse um sistema de boa disposição para ativar nos dias maus. Mas não há tal coisa, e que bom que assim é.
Alguém disse que é nos momentos em que nos viramos para dentro que aquilo que realmente importa, acontece. E se essa solitude findar na companhia de um amigo que entende o que não se diz, a história certamente terá um final feliz.
Que o diga o Quim Panzé.

Suzanne Lang escreveu um livro que rapidamente se poderia tornar num valioso instrumento de intervenção direta com os mais pequenos. Esta é uma pequena pérola, um poderoso veículo, que levará os mais pequenos a entender, finalmente (!), que estar zangado não é sinónimo de incapacidade ou de que algo de errado se passa com eles. Há que aceitar, acolher e resignificar o que se sente no peito. 
E assim, amadurecer.

Um belíssimo livro,  disponível nas livrarias já na próxima Terça-feira!




Com o apoio,





Seja feliz,

Conversas com a minha gata (Eduardo Jáuregui)

sexta-feira, 22 de maio de 2020


Eduardo Jáuregui é psicólogo e o seu primeiro romance, «Conversas com a minha gata», é uma verdadeira jornada de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. A bagagem teórica, fruto da sua formação, contribui de forma muito credível no desenvolvimento da personagem e nas aventuras que lhe estão reservadas.

Sarah é uma jovem mulher natural de Espanha, a viver em Londres, onde trabalha há cerca de 10 anos na área da publicidade que muito a desafiava no início, contudo, o entusiasmo decresceu na mesma medida dos anos. Sente-se exausta, desmotivada e um pouco perdida ao ponto de desmaiar em pleno trabalho e ser diagnosticada com uma depressão. No embalo, começa, aos poucos, a perceber que a sua relação amorosa como Joáquin já conheceu melhores dias, entregue a uma rotina cansada e sem precedentes. 

Tudo na vida de Sarah parece ter estagnado, parado no tempo. Tudo, menos a sua idade, cada vez mais distante da possibilidade, um dia cobiçada, de ser mãe. O sentimento de que tudo à sua volta congelou só aumenta na mesma medida de uma desconfiança persistente: haverá algo de errado na atitude de Joáquin, cada vez mais distante?

Este é o começar de uma viragem na sua vida, mas que não surge desamparada. Numa manhã, como tantas outras e sempre apressada, é confrontada com uma pequena gata a cravar-lhe o focinho na janela da cozinha. Até aqui tudo estaria bem não fosse Sarah ouvir a bichana a conversar com ela na maior das naturalidades. Rapidamente pensa estar a desenvolver uma psicopatologia, deixando-a ainda mais virada do avesso, obrigando-se a dar razão à médica e aos comprimidos que lhe empurrou.

Na verdade, aquilo que poderíamos ter em conta como o maior declínio na vida de alguém, é só um despertar necessário da dormência dos dias, nesta que é uma narrativa muito feliz, um livro aparentemente leve na sua forma escrita mas em nada leve nas lições de vida que nos oferece.

Todos nós parecemos saber aquilo que é realmente preciso para sermos felizes, contudo, a distância que vai do saber ao agir é tão grande, que só o facto de encararmos a realidade que não nos satisfaz mas que conhecemos tão bem, nos cansa e nos ativa a vontade de dormir e acordar dois anos depois, no mínimo. Mas a vida continua a passar e, a bem da verdade, que bom que assim é porque só a urgência do tempo, ali a apertar-nos como se estivéssemos dentro de um par de calças dois números abaixo do nosso, nos obriga a dar um salto.

É isso que acontece com a Sarah e a boa notícia é que não está sozinha. A mediar todo um processo de renascimento, está a Sibila, a gata que não só fala com ela, como estabelece um laço de amizade vitalício. O autor, através desta fantasia subtil, faz-nos refletir no quanto precisamos de um amparo para as dores de crescimento. E sim, é possível sair do charco em que tantas as vezes a vida se torna, recorrendo a um santo e curioso remédio que não se vê: a concentração.

Surpreso? Eu sei.

"Não faças juízos de valor. Não avalies. Observa simplesmente. Se alguma sensação te agrada ou desagrada, observa a tua reação como mais uma sensação. Se aquilo que observas te faz disparar um pensamento, observa o pensamento como uma nuvem que passa no fundo da tua consciência."

Há neste livro uma feliz tendência, que deveria ser alastrada a todas as pessoas do mundo, vinte vezes ao dia, que é a prática da meditação. Muito estigmatizada, é de lamentar a falta de informação e os mitos estúpidos em torno de algo que é essencial ao nosso bem-estar físico e mental.  Eduardo Jauregui explica-o muito bem e espero que consiga atingir a consciência de muitas pessoas para a sua prática, com método e consistência.

Esta é uma bela história que irá agitar o coração dos mais ansiosos e enternecer o coração daqueles que já iniciaram o seu novo trajeto. Seja qual for a sua situação, acredite, é sempre bom revisitar o lugar onde tudo acontece, onde tudo pode desmoronar e renascer simultaneamente. E ess lugar é, adivinhe só, você mesmo!

Não deixe de acreditar, não deixe de sonhar. O melhor da sua vida pode estar a dois passos, logo ali, naquela esquina. Se parar agora, jamais saberá o que pode acontecer.

Desejo-lhe um m mundo de coisas boas, a si que me lê neste momento.
E, já agora, medite muito. Nunca é tarde.


" - Isso é o mais maravilhoso do mundo. - (...) Não saber o que vai acontecer! Só por causa disso, já vale a pena uma pessoa levantar-se todas as manhãs."

💓


Seja feliz,

Por cima do mundo (Paul Bowles)

segunda-feira, 18 de maio de 2020


Esta foi a minha primeira experiência de leitura de Paul Bowles. Conhecido, acima de tudo, como viajante, senti que «Por cima do mundo» poderia ser, também, uma viagem ao interior de cada uma das personagens que aqui vivem.
A história começa com a jornada de um casal de turistas em viagem. Para lá das atribulações que vivem entre as más condições físicas, e alguns visitantes inesperados e intrometidos, será no terraço de um apartamento muito sofisticado, pertencente a um jovem e peculiar casal, os Slade, que tudo acontece. 
A estranheza dos convidados perante o grande à vontade do casal, bem como a familiaridade com que são tratados, rapidamente se entranha e as conversas fluem, apesar de muito díspares entre si. A dado momento, entre desmaios e achaques, o leitor viaja também até ao âmago das incertezas de cada um a viver aquela histórias e as dúvidas ganham raízes, mais e mais consistentes.
Na sinopse podemos ler aquela que considero a melhor expressão para definir este livro na totalidade: «(...) um tortuoso labirinto de relações humanas (...)». Ao longo da leitura, vamos sendo guiados pelas incertezas, medos e receios deste grupo de pessoas sem, em momento algum, encontrar respostas concretas para um cenário que se, inicialmente, nos é pintado como um paraíso, rapidamente a relação destas quatro personagens, os donos da casa e o casal turista, termina numa realidade muito mais assustadora.




Seja feliz,

Before the coffee gets cold (Toshikazu Kawaguchi)

domingo, 10 de maio de 2020


Imagine a possibilidade de regressar ao passado. Gostaria? Aceitaria? E se sim, o que faria?
O livro de Toshikazu Kawaguchi é uma bonita história de fantasia que nos deixa a importante lição de abrir bem os olhos enquanto a vida passa por nós. 
São muitos os dias em que a maioria de nós passa numa espécie de inconsciência, permitir-se deixar a vida correr sem questionar o andamento da mesma.A roldana vai andando, os dias vão passando, os desafios vão surgindo e, com eles, a nossa capacidade para fazer alguma coisa. Olhamos para o lado, distraídos, na esperança de que ninguém nos esteja a ver a passividade nas entranhas.
Surge o terreno fértil ao arrependimento, depois. O tempo que já não volta e aquilo que, afinal, poderíamos ter feito de forma diferente. 
É neste contexto que as personagens deste livro nos entram porta adentro em direção a um café peculiar onde circula a lenda de que ali é possível regressar ao passado. Mas não é tão simples como parece. A lenda é uma verdade, sim é, mas existem regras para que o desejo se materialize: há um lugar específico do café para tal, ocupado por uma mulher fantasma que por ali passa o tempo a ler; não se pode alterar o que aconteceu no passado; há o tempo limite após um café ser servido e o momento em que arrefece. Quem arriscar o café frio poderá, também, ver-se transformado em fantasma. Será um preço demasiado alto a pagar pela visita a um tempo que já foi e que, pior ainda, não é susceptível de qualquer mudança?
É aqui que vive a beleza deste livro. A necessidade de controlo corre-nos no sangue. A busca por respostas apaga-nos a capacidade de enxergar todo o processo que nos leva a um destino sonhado. É essa desatenção, muitas vezes, que não nos permite a ação no tempo certo. E tempo certo, só mesmo o presente. 
Ainda assim, permanece o desejo de voltar ao lugar das coisas vividas. O centro de uma oportunidade torna-se maior do que qualquer desconfiança e tudo isso, apenas e só, para viver uma vez mais o que poderia ter sido, por breves minutos, a vontade impera sempre nesse sentido.

Este é um livro escrito à mão da nostalgia, dos tempos perdidos, do arrependimento dos dias traçados a caneta permanente. O autor, de forma delicada, conduz-nos ao âmago da fragilidade humana, dos medos, dos anseios e das esperanças. É como um mapa desenhado sem atenção, uma rota que se cria ao sabor dos dias sempre tão iguais até que, quase por magia, algo de drástico acontece e um empurrão faz-se firme e ruidoso no pedido, urgente, de redesenhar caminhos.

Não é isto, viver? Desenhar. Apagar. Voltar a desenhar e encontrar, esperançosamente, a rota que nos leva adiante, a um futuro promissor de quem ousou olhar mais além. 

Uma delicada história, feita de personagens igualmente delicadas e frágeis, todas elas, no ponto comum dos que desejam mudar alguma coisa fazendo as pazes com o passado que já foi, e pasme-se, jamais voltará.

Recomendo.






Seja feliz,

Arte de ler. Arte de ser.

quinta-feira, 7 de maio de 2020


Seja feliz,

Boa Sorte (Álex Rovira Celma e Fernando Trías de Bes)

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Leitura no Kindle
Pablo Neruda disse "A sorte é a desculpa dos fracassados". E sobre sorte há muito a dizer mas, mais ainda, a pensar. São sempre esses os momentos em que recorro ao dicionário, contudo, nem o dicionário me ajudou desta vez. Passo a citar o que por lá li, entre muitas definições:
"Combinação de circunstâncias ou de acontecimentos que influem de um modo inelutável."
Não me convenceu, de todo. E a si, deixou-se levar pela onda dos acontecimentos que se fabricam com a cabeça nas nuvens e que, de rabo alapado, lhe chega a encomenda de um sonho fabricado?

A sorte dá trabalho. Quando penso nisso as palavras de Stephen Leacock ajudam-me a certificar-me disso mesmo:
"Acredito muito na sorte e descubro que, quanto mais trabalho, mais sorte tenho."
«Boa Sorte» de Álex Rovira Celma e Fernando Trías de Bes, um pequeno livro em jeito de parábola vem mostrar-lhe a verdade em torno dessa ideia de sorte. O que é? Compra-se? Onde se vende? Nasce connosco? É uma questão de genética? Há medicamentos?

E se eu lhe disser que é, tão somente, uma questão de trabalho e propósito?

Talvez lhe doa um pouco perceber que entre magia e sorte vai a distância do trabalho árduo, do método, e também, do sonho de quem sabe estar a trilhar o caminho certo.

Nesta pequena história encontraremos um mago e vários cavaleiros que serão, todos eles, desafiados a encontrar um trevo de quatro folhas, o símbolo inequívoco da boa sorte. Perante as inúmeras dificuldades, inúmeros serão também os cavaleiros a desistir. Restarão dois cavaleiros concentrados naquela tarefa mas apenas um chegará lá. O primeiro, depois de tanto tentar, assume uma postura derrotista, fica zangado e insiste na impossibilidade do desafio. Contudo, o segundo cavaleiro não crê na impossibilidade e encontra, não a sorte, mas a jornada que o levará até ela.

Pergunte-me: então e essa jornada é feita como?
Com trabalho e certeza de que as condições da sorte não nascem da terra, são criadas por aquele que decidiu, um dia, virar a sorte pré-estabelecida em algo vivo, que lhe pulsa por dentro, que o define e que, todos os dias, o deslumbra.


Recomendo vivamente esta leitura.
Aquece corações e faz saltar rabos do sofá.



Seja feliz,

O ensaio esperado

segunda-feira, 4 de maio de 2020


O esperado ensaio do João Tordo chega às livrarias dia 26. 
Será a minha próxima leitura. Muito curiosa com este livro.





Leitura com o apoio:




Seja feliz,
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