A Mecânica do Coração (Mathias Malzieu)

quarta-feira, 27 de junho de 2012


Dolorosa. Diria que a tua história é na mesma medida belíssima e dolorosa. Usando as tuas palavras não é o amor «um acidente cómico, mas violento»? Se é. Se é.
Por mais violento, por mais acidental que seja, carrega igualmente uma necessidade dolorosa nas pernas: de correr, correr, correr desenfreadamente ao seu encontro, contra tudo e todos, contra aquilo que nos dizem, contra os outros amores que nos criaram, e contra o próprio relógio, os ponteiros que te guiam e suportam o coração!
Mas que interessa, perguntarias tu, little Jack. O amor doce de Madeleine. Essa mãe emprestada e devota. O amor dos amigos que se criaram nessa casa no cimo da colina. Que interessa? Interessa, sim. Mas que interessa, se no Mundo, apenas Miss Acácia, poderá preencher o vazio desse som permanente no teu peito, desse relógio velho que te guia, te faz sonhar e temer, mas que te faz na mesma medida ter uma coragem desconhecida, a coragem de percorrer caminhos e caminhos, acreditar naquilo que ninguém acredita, chorar e rir, cair e levantar, tudo em sopros, num medo que novamente surge quando o som do relógio se eleva na cólera e no ciúme que contorna esse caminho definidor da impossibilidade dos desejos de qualquer pessoa: a plenitude de um sentimento em nada pleno.

O amor é o acto mais violento que conheço.
E na mesma medida, o mais belo.

Ao som de: Frou Frou "HEAR ME OUT"



Nuas Reflexões

quinta-feira, 21 de junho de 2012


Vivemos num presente. Nostálgicos pelo passado feliz. Ansiosos pelo futuro que ainda não chegou.

Nesta sequência, dou comigo a pensar, vivemos apenas num limbo entre o cá e o lá. Entre esse passado feliz, uma saudade que quebra, e esse futuro desconhecido com promessas na algibeira.

Vamos, assim, largando pedaços de nós mesmos num passado de saudade cada vez maior, cada vez mais penoso, num desejo atroz, infantil, de alcançar um futuro promissor.

O presente ficará sempre por desembrulhar.

Eu chamar-lhe-ia a avidez de ser feliz. A avidez é tanta que o tempo passa (passado) por nós, a oportunidade surge (presente) e nós, sem sapatos (olhos), continuamos a correr nessa busca desesperada, e burra, que nunca chegará (futuro). Já passou, afinal.



Ao som de várias saudades presentes.

Invisível (Paul Auster)

terça-feira, 5 de junho de 2012

Posso dedicar-me a explicar todos os traços que definem a história deste brilhante livro de Paul Auster. Mas posso também dizer, especificar, esmiuçar, ampliar, evocar, gritar, lançar emoções que surgem das leituras feitas durante noites perdidas na tua companhia ausente. Posso fazer aquilo que eu quiser. Até porque não estás aqui e se não estás, eu nada te posso pedir. Assim, invisível, vou invocando saudades e perda, que este livro contém na mesma medida. Ao ler(-te), acabei por te sentir na história, como algo que se quebra e pelo som, se detecta. Se denuncia, mesmo sem querer. Exactamente sem querer.
Sensação de falar debaixo de água e bolinhas que dançam à volta do nariz. Nada se diz. E tudo se sente. Uma dor misturada com o som do giz que raspa no quadro, cruamente? É realmente possível riscar, assim, riscar presenças e ausências?
O paradoxo desta minha invisibilidade é tão mais acentuada no momento em que sinto querer riscar essa ausência. Repara! Querer riscar é a lembrança gritante de que apenas vives num pensamento longínquo. Invisível.
Acredito que em qualquer fase da vida nos sintamos assim, invisíveis. Por mais que corras, por mais que lutes, esse desfecho que anseias... não chegará.


Este foi um dos melhores livros que li de Paul Auster.
(Mas são todos bons :) )

Resumo www.wook.pt: Sinuosamente construído em quatro partes entrecruzadas, o décimo quinto romance de Paul Auster começa em Nova Iorque, na Primavera de 1967, quando o jovem aspirante a poeta Adam Walker conhece Rudolf e Margot, um enigmático casal francês. O perverso triângulo amoroso que rapidamente se forma, conduz a um chocante e inesperado acto de violência cujas consequências serão irreversíveis.
Três narradores contam uma história que se desloca no tempo, de 1967 a 2007, e no espaço, à medida que viaja entre Nova Iorque, Paris e uma ilha remota nas Caraíbas. Invisível está imbuído de fúria, de sexualidade desenfreada e de uma busca implacável por justiça. É uma viagem através das fronteiras sombrias entre verdade e memória, criação e identidade. Uma obra inesquecível pela mão de um dos nomes cimeiros da literatura dos nossos dias.
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