Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll)

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013


De um momento para o outro, uma porta abre-se e um coelho passa por nós, a correr. Uma porta do tamanho de um sapato provoca-nos a vontade de por lá entrar e descobrir aquele que se adivinha ser um belo jardim. Existem animais que falam, existem cartas, soldados, rainhas cujo maior castigo é o extremo de um pescoço cortado, existe o gato com um sorriso XXL e que desaparece por medidas, na medida do seu desejo. Há cogumelos que nos permitem crescer ou diminuir o nosso tamanho, de acordo com a necessidade do desafio que agora enfrentamos. Há lebres, há histórias, há quadras para recitar, jogos que parecem não querer acabar.

Entrem neste livro e sonhem um pouco. Polvilhem a alma com o melhor ingrediente ;)

 
Maravilhas a todos!

 

A ti, mano!
Às tardes de Sábado. E o bolo de chocolate J
Um tempo que soubemos fotografar com o coração.

Um lugar chamado aqui (Cecelia Ahern)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Apesar de já ter lido este livro há uns tempos (2009), o tema em si sempre me surpreendeu. Não raras vezes, dou comigo a pensar para onde irão as coisas que desaparecem das nossas vidas. Eis o tema deste livro. Um livro leve, sem grandes adornos literários, mas cuja temática me deixa a pensar, num sentido figurado.

Lembro-me de um casaco, branco e de lã, da minha Barbie e que misteriosamente desapareceu. Como eu adorava aquele casaco. Ainda pequena, perdia largas horas dos meus dias, envolvida numa busca determinada desse casaco minúsculo, mas bonito, e merecedor de ser encontrado. Mas nunca foi. Como esse casaco, muitas outras coisas vi desaparecerem, para um lugar desconhecido. Como aquele gancho branco com um laço lilás, e bolinhas brancas, perdido na praia. Até hoje.

Penso nisso. E penso também nas pessoas que desapareceram da minha vida, sem deixar rasto. Para um lugar não chamado aqui, mas ali, ali além, bem além, pois não as consigo ver em lado nenhum. E tenho a certeza que se gritar, terei meramente o eco da minha própria voz.

As coisas desaparecem. Causa-nos uma dor estranha, movida pela incerteza e pela raiva do eterno desconhecimento.
 

As pessoas desaparecem. Porquê?

Sobre essa questão, pondero, pondero, pondero…

 

E acabo eu por me perder, no lugar certo da incerteza.

 
 
 
 
 
 
www.wook.pt: Depois do bestseller internacional P.S. Eu Amo-te com 40.000 cópias vendidas só em Portugal que deu origem ao filme homónimo, a célebre Cecelia Ahern regressa com um conto ambicioso, absorvente e romântico sobre coisas e pessoas perdidas. Cecelia impôs-se no meio literário principalmente pelo seu talento e não somente pela ligação familiar que muito embora lhe tenha aberto algumas portas não se constituiu em si mesmo como a chave para o sucesso. Cecelia, filha do primeiro-ministro irlandês, confessa que gosta de escrever sobre acontecimentos que irão ajudar as pessoas e que «a infelicidade e a luta fazem as pessoas olhar à volta. Procurar e não desistir, dá-nos esperança». E é precisamente imbuídos de esperança que os protagonistas deste belo conto de fadas para adultos desenvolvem o seu percurso. Sandy, a protagonista, tornou-se obsessiva desde que uma colega de turma desapareceu há vinte anos. Desde então tenta encontrar pessoas que desaparecem, restituindo-lhes alguma esperança. Jack Rutle é uma dessas pessoas desesperadas e procura Sandy para ela o ajudar a encontrar o rasto do irmão. Porém, um dia é a própria Sally que desaparece…O quarto livro de uma autora que está a dar cartas na cena internacional.

A Mesa Limão (Julian Barnes)

domingo, 24 de fevereiro de 2013


 
Há algo que se agita no ar. Algo que está na casa, no ar, sem se identificar. Acredito que se pudesse dar uma forma, uma matéria, a isso que chamam de saudade diria, tão simplesmente, serapilheira. Pois! Serapilheira. Perguntar-me-iam: "Então, velhote, que dizes tu?"
Digo serapilheira. E penso serapilheira.
Penso nos fios que dela se desprendem, quando velha. Como os sacos da serapilheira, velhos, depois de usados. Fio de angústia, de agonia, de pânico, de nostalgia, de dor, de um sorriso escondido, de memórias, de passados, de gestos ultrapassados, de um nada que foi tudo, tarde demais descoberto. Fios. Tantos fios que dão matéria a esta saudade que me contorna o peito!
Tempo. Silêncio. Gaiolas de fruta. Fortaleza. Medos. Corpo que não cede. Sexo desregulado. Famílias infelizes no seu segredo. E o espelho, que me mostra tudo, de forma crua e fria, como aquele congelador agora desligado.
Assim é. Assim tem de ser.
Mas os fios de serapilheira, esses, estendem-se em mim, no corpo e alma. Alguma coisa poderei fazer face à voracidade do tempo, mais que não seja… lamentá-la.
 
 
 
www.wook.pt: Todos somos mortais. Entre os chineses, o símbolo da morte é o limão.
Os personagens de A Mesa Limão estão a envelhecer. Entre si, somam memórias felizes, mas também palavras que ficaram por dizer, sonhos não concretizados, amores não vividos, pequenas traições… À sua maneira, todos convivem com as emoções subjacentes às suas decisões. Felizmente, a idade traz, não só sabedoria, mas também paz e serenidade, certo? Errado. Nestas onze histórias, a idade traz simultaneamente paixão, subversão, arrependimento e resignação. Em comum há a percepção de que o tempo está a chegar ao fim, e a irónica consciência de que a eterna questão sobre o sentido da vida continuará sempre por responder.
Um livro notável, de um dos mais consagrados autores ingleses.

Lolita (Vladimir Nabokov)

sábado, 23 de fevereiro de 2013


Existem livros. E existem livros que são obras de arte. Existem livros que conseguem aterrorizar-nos. Assustam. Permanecem na mente. Na alma. Não permitem esquecer. Exactamente por essa razão são obras de arte no seu expoente máximo. Assim é Lolita.
Se o motivo é o recheio de imoralidade que transborda em toda a obra, não sei. Se é o amor doentio, a perversidade reconhecida de Humbert Humbert, não sei. Se é a fragilidade e necessidade de querer proteger Lolita, não sei. Tudo? Possivelmente.
Há uma imensidão de questões que afloram à medida que a leitura, igualmente, se arrasta juntamente com os dedos nas páginas, com os olhos em cada palavra, a mente cada vez mais intrincada e um coração cada vez mais aflito. Uma imensidão de questões, mas uma delas que me persiste e não conseguirei dela escapar é as pessoas que desistiram deste livro. Ele exige. Ele revoga. E ele pede. Há, assim, uma exigência, um sentido de moralidade intrínseco no livro, e em cada pessoa que decidiu abri-lo: de perceber qual o fim de Lolita.
Poderia continuar a discorrer sobre este livro sem parar, horas a fio, mas a questão que mais toca, que mais urge é, sem sombra de dúvida, a dor que o livro me conseguiu provocar. Há de facto uma dor pungente quando um homem se apaixona por uma criança e após uma catadupa de situações, que correm umas atrás das outras, partem numa viagem, numa lua-de-mel idealizada por uma mente doente, acabando numa espécie de policial ou, diria, num duelo à antiga em medições onde se procura saber quem mais amou, essas mentes doentes. Conspurcadas. Mentes dignas da morte, num relógio há muito atrasado…

Vladimir Nabokov viu o seu livro ser censurado e negado por inúmeras editoras. Felizmente viu a luz das folhas, e do cinema. Hoje é um dos grandes clássicos da literatura. Depois da sua leitura, é muito fácil perceber porquê.


 
Se recomendo? É preciso dizer?


Ao som de: Ennio Morricone “Love in the morning”
 
 
www.wook.pt: Humbert Humbert, a European intellectual adrift in America, is a middle-aged college professor. Haunted by memories of a lost adolescent love, he falls outrageously (and illegally) in lust with his landlady's twelve-year-old daughter Dolores Haze. Obsessed, he'll do anything, will commit any crime, to possess his Lolita.

Citação

domingo, 3 de fevereiro de 2013













"Para tornar a realidade suportável, todos temos de cultivar em nós certas pequenas loucuras."
 
Marcel Proust
 
 
 

O Coração é um Caçador Solitário (Carson McCullers)

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Todos nós falamos em objectivos de vida. Todos nós falamos nessa palavra que contém faíscas de magia. Sonho. Todos nós falamos na magia de sonhar. Todos nós falamos. Oh! Como nós falamos. Vomitamos palavras à velocidade do vento em dias de tempestade. E vivemos, assim, em dias de tempestade, com o coração num alvoroço. Um alvoroço solitário. Apelos solitários. Sonhos solitários, carregados de uma força invísivel, sem crença, apenas iludida pela força dos dias, por rasgos de esperança que desaparecem e que retornam pela certeza do sorriso de quem julgamos que nos ouve, que nos ouve com o coração. Apenas com o coração, já que a verdadeira capacidade de ouvir está perdida nas leis de um Deus desconhecido. Oh! Como nós falamos sem nos cansarmos, sem olhar, sem pensar, com e sem vontade. Cegos ao mundo. Cegos a nós. Cegos a tudo aquilo que nos rodeia. Cegos aos nossos próprios demónios.
E no meio de tantas palavras, vivemos uma solidão digna de dó. Vivemos um sonho digno de dó. Vivemos um caminho iludido. Vivemos com o coração cheio de crenças igualmente iludidas e no fim, no fim, todos os sonhos acabam exactamente onde começaram.
Ouvidos de sentido único. Olhos de sentido único. Sonhos iludidos.
Uma solidão em estado bruto.
 
Somos nós os demónios dos nossos próprios sonhos?
Um livro brilhante.
 
 
 
www.wook.pt: No Sul profundo dos Estados Unidos, em plena década da Grande Depressão, num cenário desolado, de pobreza, intolerância e isolamento, John Singer, um mudo, torna-se de súbito confidente de um grupo de personagens desenquadradas da sociedade. Todos procuram à sua maneira preencher o vazio deixado pelos sonhos perdidos - e todos, por algum motivo, acham que Singer os compreende. Mas Singer, impassível na sua mudez, não tenta alcançar nada senão a atenção de um amigo que não manifesta mais que indiferença… Uma obra expressiva e poderosa que permanece actual na sua projecção de uma realidade intrínseca à condição humana.
 
 
Ao som de: Imagine Dragons "Demons"
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