Seriam inúmeras as definições que poderíamos encontrar para definir a «família». Do dicionário, destaco esta, em específico:
"Conjunto de todos os parentes de uma pessoa e, principalmente, dos que moram com ela."
É que, para mim, família é casa. «Casa» torna-se o sinónimo único de uma palavra que se ramifica nos dias rotineiros (e tão cheios) de quem vive numa casa partilhada. De quem partilha a memória de ter visto os primeiros passos daquele bebé, mais tarde, o primeiro dente. O irmão mais velho que nasce. O avô que morre. A mãe que, mesmo cansada, espalha o sorriso que tranquiliza.
Thi Bui, nesta que é uma autobiografia, desenha e escreve na perfeição o verdadeiro significado da palavra «família» que, associada a essa ideia de casa que conforta, nos transporta também para a ideia de alicerce. Se uma casa jamais poderia ser construída pelo telhado, também a família jamais poderia ser construída por nada que não seja o amor de quem ali vive. O afeto como alicerce, como a memória que perdura, independentemente dos maus momentos que a vida, tão prontamente, nos ensina que sempre haverá. Resta aprender a dar a esses momentos novos significados, aprender, perdoar e crescer para lá dos traços da infância, sempre mais marcados que todos os outros.
Este livro começa no momento em que a jovem Thi Bui dá à luz o seu primeiro filho. A entrada na maternidade, que nunca se prepara na plenitude, acaba por a afogar numa nostalgia quente do amor da sua mãe, agora melhor compreendido. Totalmente compreendido, agora.
É a partir dessa nostalgia e do receio esperado de ter um bebé nos braços, que as reminiscências sobre a sua família tomam lugar. Esta é a sua história, a história de uma família vietnamita e todas as aventuras e desventuras a que se sujeitou por um lugar ao sol. Desde abandonar a sua terra, partir para os Estados Unidos, viver de perto a guerra, a fome e o desespero, são apenas alguns dos marcos que o leitor visitará.
Há uma constatação do verbo chorar neste livro. É uma constatação, até para os corações mais seguros, que chorar é verbo que se aplica e mistura por parte do leitor, na história de Thi. É impossível, repito, mesmo que tenha um coração mais seguro, não chorar perante crianças que viveram (e infelizmente um cenário que ainda hoje se vive) a fome de perto, o medo incessante e o desespero da separação.
E tal como a manhã precisa da noite para ganhar forma, também será através do desespero desta família e, na mesma medida, a força intrínseca de um casal em superar tudo pelo bem-estar dos filhos, que a luz da esperança surge no momento em que fechamos o livro.
É um livro emocionalmente (e historicamente) carregado e que, paralelamente, nos liberta do fardo de quem ousou refletir sobre a dor para, naquele momento desejado, sentir a esperança de que também as coisas más passarão. A História sangrenta que viveram. As guerras. As dores.
É verdade quando lemos que este livro tem o poder de nos partir o coração e, ao mesmo tempo, curá-lo. Essa cura é feita de esperança e dores transformadas.
Belíssimo, para ler e reler.
Conjunto de todos os parentes de uma pessoa,
e,
principalmente,
dos que moram com ela.
Conjunto de todos os parentes de uma pessoa,
e,
principalmente,
dos que moram com ela.
Conjunto de todos os parentes de uma pessoa,
e,
principalmente,
dos que moram com ela.
Seja feliz,