Arte de questionar

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020


"Provavelmente, os humanos serão infinitamente superiores a todas as outras criaturas nessa nobre arte de questionar o que somos realmente."


Em: "O velho e o gato - uma história de amor" de Nils Uddenberg





Seja feliz, sem grandes questões

109 livros

terça-feira, 14 de janeiro de 2020


Gosto muito deste livro do Peter Boxall. A cada fim de ano, ao jeito de uma tradição que gradualmente se foi impondo, folheio a enorme lista e atualizo o meu número de leituras que a integram. 109 é o número atual e as surpresas têm sido muitas.

Vamos continuar, pois claro.


Seja feliz,

Uma palavra

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020


"Uma palavra faz um mundo de diferença."
Joanne Harris | "A menina que roubava morangos" 


Seja feliz,

A vida sonhada das boas esposas (Possidónio Cachapa)

terça-feira, 7 de janeiro de 2020


Em «A Vida Sonhada das Boas Esposas», Possidónio Cachapa dá-nos a conhecer a muito peculiar trajetória de vida de Madalena.

Com 60 anos, recentemente viúva, Madalena é invadida por um abismo de questões sem resposta. Creio que, em algum momento da nossa vida, seremos abordados por uma voz que nos transcende, como quem pede ou ajusta contas, sobre o que temos andado a fazer com o tempo que Deus nos deu.

A morte do seu bom e modesto marido foi o abismo no qual caiu, envolta em questões sem aparente resposta, pois o tempo avançado parece dizer-lhe que pouco mais há a fazer do que olhar as necessidades dos filhos, dos netos e da casa, que acumula pó sem lhe pedirem.

O tempo parece-nos sempre esse armário arrumado, de inúmeras gavetas, umas mais pequenas, outras maiores. Todas elas a requererem uma determinada ordem, as cuecas que se arrumam ali, meias acolá, calças ali além. Na nossa mente, a ordem imposta pelo tempo parece lei, que se lhe fugirmos, há um risco (aparente) de morrermos perante uma sociedade passada a ferro, engomada numa névoa rotineira.

Será num dos irritantes telefonemas da igualmente irritante filha, Cátia, que Madalena descobrirá que o seu cinzento, mas bom e modesto marido, a traíra anos a fio com uma brasileira.

Imagine uma panela de pressão. Agora imagine a panela a ferver sem que lhe acudam. Eis o que acontece no coração desta mulher sempre dedicada aos outros, a viver num segundo plano de quem se assume como cuidadora de um amor maior, para lá de si mesma. Dedicada desde sempre ao marido e aos filhos, Madalena sente ter cumprido a missão da sua vida. Contudo, o tempo passou e as respostas que desejou ter em mãos, voaram para longe na indignação de quem é traído à falsa fé.

Este é um livro tipicamente português, que só poderia ser escrito por um português com justa causa. A nossa cultura do fado, a tristeza cantada e enaltecida como bom costume, é descrita na perfeição no papel de uma mulher cansada, mas não morta. Madalena parecia ter alcançado a perfeição na luz de quem sofre, de quem canta um fado pesado e sombrio. Era enaltecida pelo seu espírito de sacríficio, pelo tempo roubado a cuidar dos netos como quem faz um favor aos filhos.

Eis que, num vislumbre magistral de revolta, esta mulher acorda e manda o sacríficio dar uma volta ao bilhar grande. A vida não é esse sacríficio que todos parecem gostar de pensar. A vida não é, nem tem de ser, uma catadupa de dores caladas e engolidas por quem se resigna.

Madalena, personagem que se lhe tornará inesquecível - eu aposto -, vem mostrar que a vida tem, sim, essa tal segunda oportunidade. Esta mulher vem mostrar a magnificiência de Deus que, numa primeira abordagem, nos desenha em esquisso para depois, na derradeira oportunidade, nos mostrar o material de que realmente somos feitos.

Não lhe contarei tudo, pois as aventuras hilariantes desta mulher merecem ser lidas sem qualquer conhecimento de causa. Permita-se à diversão e à liberdade de quem ousa viver. Madalena fê-lo, e numa inesquecível jornada, percebeu que o amor existe, que o sexo é mais do que deitar-se de costas e esperar um breve abanão, que a mulher que a define depende, apenas e só, de si mesma. Como quem mergulha sem medo.

Gostei imenso e recomendo com ambas as mãos!


 megustaleer - COMPANHIA DAS LETRAS


Seja feliz,

Uma família quase normal (Mattias Edvardsson)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020


Mattias Edvardsson é escritor e professor na Suécia. O seu romance de suspense psicológico, Uma Família Quase Normal, publicado em mais de 30 línguas, é um grande sucesso de vendas e da crítica em todos os países onde já foi pulicado. Thriller recomendado pelo The New York Times. (Fonte: Wook)

«Uma família quase normal» é um daqueles livros em que, à partida, assumimos estar perante mais uma história de suspense em que há um crime, um vilão, um santo mascarado e um final aparentemente previsível. Mas não é este o caso, tornando-se numa história não só surpreendente, ao nível do suspense psicológico, mas também, e sobretudo, pela temática que aborda: a parentalidade.

Se considerarmos a parentalidade como apenas o ato de se ser mãe ou pai, estamos muito longe do peso de tal condição. O autor mostra-nos isso mesmo através de uma história que nos devia fazer pensar no malabarismo que define, realmente, um casal que decidiu ter um filho.

Ao longo do livro conheceremos a família Sandell através dos olhos do pai, Adam (pastor da Igreja da Suécia), da filha Stella e da mãe, Ulrika, advogada de profissão.

A vida desta família ameaça ruir quando Stella, uma adolescente, é detida por suspeita de homicídio. Será nessa sequência que a família, através das observações de cada personagem, é descortinada por aparentes segredos que vão de encontro à máxima de que famílias normais não existem. Perfeitas? Muito menos.

O confronto com uma nova realidade, em que a filha é detida por aparente homicídio de um homem mais velho, é o ponto central da história criada por Mattias Advardsson. É toda uma nova realidade transposta a uma espécie de jogo de cartas, que desmorona inexplicavelmente.

A família é um sistema. E já defende a «teoria sistémica familiar» que se um elemento colapsa, assim como os castelos de cartas, toda a dinâmica familiar sofre um reajuste. É o que acontece, inevitavelmente, perante a notícia de que a nossa filha pode ser uma assassina.

Para lá do suspense psicológico, a história criada pelo autor aborda o conceito de família na sua plenitude. Até onde estão estes pais dispostos a ir pela segurança da sua filha? Até ao fim, independentemente das consequências. O drama familiar é, ao longo da história, muito bem construído e como um som agudo que tende a aumentar, assim aumenta este drama, envolto em surpresas, em segredos e, por fim, o inesperado como solução.

«Uma família quase normal» é um livro em que a família se assume como escudo contra quem ousar ameaçar a paz sombria da casa, a relação problemática inerente à convivência com adolescentes, o medo da perda, o estatuto social e, num plano paralelo, o papel da amizade nesta faixa etária.

Se me pedirem para, numa só frase, descrever a essência deste livro, dir-lhe-ia que mais do que o suspense em torno de um crime e os seus motivos, esta é a história do poder daqueles que se despem de todas as convenções sociais, arriscando tudo, em prol de um legado capaz de derrubar toda e qualquer barreira. Um legado chamado família.


Chega amanhã às livrarias.

Uma leitura com o apoio:


Seja feliz,

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