Blankets (Craig Thompson)

sexta-feira, 30 de agosto de 2019


São muitas as definições, umas mais científicas do que outras, sobre a fase da adolescência. Seja o sistema endócrino que acorda agitado e lança hormonas, maioritariamente zangadas ou, simplesmente, uma fase mais sensível do desenvolvimento humano. Seja como for, nada define melhor a adolescência como a época dos despertares. 

A minha especialidade de formação académica (Psicologia Educacional) é a fase da adolescência. Foram muitos os miúdos que conheci/trabalhei e em todos eles (e elas) podia perceber um ponto comum: desamparo. São os pais que deixam de ser os ídolos a seguir para, também a seguir, passarem a bestas que os impedem de fazer aquilo que os corações - tão cheios de si - teimam como o irrevogavelmente certo. Há um mundo a salvar, ninguém o consegue entender. E isso é revoltante.

Todas as alterações físicas vividas na adolescência trazem, na mesma medida, novos processos ao nível do pensamento, novas aquisições que lhes permitem criar novos conceitos, mas acima de tudo, a capacidade de análise de uma determinada realidade sob inúmeras perspectivas (aquisição ao nível do pensamento abstrato).

Toda esta introdução, à qual não consegui abster-me, tem como propósito garantir-lhe, a si leitor, que a obra de que hoje lhe falo (uma graphic novel), não poderia descrever melhor essa conturbada fase que é a adolescência.

Craig Thompson inspirou-se na sua própria história para, magistralmente (e repito quantas vezes forem necessárias!), nos oferecer uma linda história sobre o primeiro amor e as aflições que se plantam, desde logo profundamente enraizadas, nos corações.

Por ser uma história comum, capaz de se rever em tantas outras, criamos à partida um elo de ligação a Craig e, no balanço, regredimos para aquele tempo adolescente em que as pernas e os braços não se adequavam ao resto do corpo, em que as borbulhas eram confrontos diretos a uma autoestima tão frágil, ao corpo que parecia inflamar-se contra a própria vontade. É assim, quase contra a própria vontade, que o autor nos desafia a isso mesmo, a regredir à nossa própria história para, em espelho, empatizarmos e torcermos (ferozmente!) por este ternurento jovem casal.

Poderia ser, apenas e só, mais uma história de amor mas, a verdade, é que em todas elas há o cunho da singularidade. Em «Blankets» percebemos a grande máxima do agora. Esta emocionante história vem provar verdades que nós, adultos complexos, tanto desejamos ignorar: a vida vale pelo momento pleno, por esse agora que em breve deixará de o ser. Só assim a vida faz real sentido, pelo presente que é, em todas as suas formas.

Se o amanhã lhe apresentar uma realidade diferente saberá, conscientemente, que soube viver cada minuto, cada hora, cada instante com a entrega que o amor sempre nos pede.


"How satisfying it is to leave a mark on a blank surface. To make a map of my movement - no matter how temporary."

Seja feliz,

Nostalgias

quinta-feira, 29 de agosto de 2019



Tão bom.

Seja feliz, seja você mesmo.

De amor e de sombra (Isabel Allende)

terça-feira, 27 de agosto de 2019


«De amor e de sombra», o segundo livro de Isabel Allende, retrata a história de um grande amor entre Irene e Francisco ladeado pelas sombras da ditatura chilena de Augusto Pinochet.

Irene foi criada com muitas condições, apesar de posteriormente o seu pai ter abandonado a mãe e ambas, de certa forma, à sua sorte. Já Francisco conheceu sempre a miséria e o estatuto que sempre desejou alcançar foi fruto de um árduo esforço.

Um mulher e um homem de esferas sociais completamente distintas que se apaixonam. Tudo isto poderia definir muitas outras histórias, contudo, Isabel Allende escreve uma história de amor intemporal de tão bonita, nessa sombra política encabeçada por Pinochet que, segundo pesquisas dos número oficiais, cerca de três mil pessoas foram assassinadas durante a sua governação.

A história deste livro marca esse tempo de ditadura através da escrita limpa, direta e tantas vezes incisiva de Allende. O simbolismo e o misticismo encontram-se, igualmente, lado a lado, nesta que é uma característica marcante da autora.

Francisco estudou Psicologia mas não consegue trabalhar na área de forma sustentável. Acaba por concorrer a um trabalho de fotografia numa redação, local esse onde conheceu Irene. A amizade entre os dois cresceu depressa. Para Francisco, o amor explodiu-lhe na cara pela impossibilidade de se materializar: Irene está noiva desde adolescente.

Isabell Allende é exímia a escrever amores. A forma como o faz separa-nos facilmente da consciência pesada para nos focarmos, apenas e só, na alma dos personagens. Isso é muito bonito e nada fácil de ser feito.

Após um trabalho de investigação sobre a jovem Evangelina, tida pela povoação como uma Santa capaz de grandes milagres, a união de Francisco e Irene cresce ainda mais. A cena de amor entre os dois é, talvez, uma das mais bonitas que já li. Porque sim, caro leitor, o amor de ambos materializa-se, não o vou esconder e espero que não se importe com o atrevimento de quem já conta de mais. A descrição deste amor assemelha-se às frutas maduras, que de tanto terem esperado, caem rendidas aos pés da árvore. O tempo e a espera como certezas de um amor que tinha de crescer, forçosamente.

O leitor acompanhará as desafiantes aventuras deste casal em busca de uma dura verdade. Falo de verdades ocultas por um governo muito sombrio, capaz das maiores atrocidades.

«De amor e de sombra», mais do que uma linda história de amor, é também a história de um país, de um governo e, por fim, de sobrevivência.



Seja feliz,

Um Sábado com os amigos (Andrea Camilleri)

quarta-feira, 21 de agosto de 2019



Andrea Camilleri nasceu em Porto Empedocle, na Sicília (Itália), em 1925. O autor, falecido recentemente (Julho, 2019) ficou celebremente conhecido com os seus romances policiais particularmente naqueles que acompanham a personagem Montalbano. Além dos seus livros, o autor dedicou grande parte da sua como professor, diretor de teatro e guionista.

Hoje não lhe vou falar de um livro policial mas quase o poderia ser. «Um sábado com os amigos» não é um sábado qualquer e, muito menos, um livro banal para aqueles que se possam iludir com a aparente simplicidade deste título. 

Da sinopse podemos ler o seguinte:
"Seis antigos amigos de escola, bem sucedidos na vida, encontram-se num habitual jantar de sábado à noite. Uma refeição à qual se associa um sétimo amigo que introduz uma inesperada dimensão. Um jantar do qual ninguém sai ileso."

Andrea Camilleri, em pouco mais de 100 páginas, escreve uma história sobre a amizade, os pontos comuns que a fazem nascer e, num último traço, sobre essa complexidade humana tão presente em cada um de nós.

Vejamos o significado de amizade, segundo o Dicionário:

"Relação de entendimento, concordância, afinidade (...)".
Afinidade é a palavra certa para definir aqueles pontos comuns que patrocinam toda e qualquer amizade. Os seis amigos parecem conhecer-se desde sempre, unidos pelas afinidades de todos, pelas suas diferenças, pela trajetória de vida com cada um deles na sombra do outro. 

São muitos os pontos comuns que ligam estas seis pessoas. E uma sétima que, com ela, traz um segredo a lume que todos, uns mais do que outros, desejariam apagar para sempre.

Andrea Camilleri oferece-nos uma história inicialmente conturbada. Imagine o leitor ser atirado ao mar sem saber nadar. O início desta história compara-se a essa sensação, de quem está perdido a tentar encontrar algumas pontas soltas. Na verdade, pontas soltas não faltam. Fica antes a vontade de encontrar o tal ponto comum que poderá resolver este (aparente) mistério.

Será só nas últimas páginas, em que o autor se dedica a contar-nos um pouco mais sobre cada um dos amigos, que o leitor sente ter encontrado novamente terra firme onde se apoiar. É nesse momento que percebemos realmente o quanto uma amizade carece de simetria, de pontos comuns que acalmam dores, igualmente, comuns.

Apesar de ser um livro pequeno, de leitura acessível, «um sábado com os amigos» é uma história bem construída sobre o poder da infância como preditor de futuros, da amizade como espelho e da vida que sempre arranja uma forma de saldar contas antigas.

Gostei muito!





Seja feliz, com muitos amigos.

Uma questão de tempo e...

terça-feira, 20 de agosto de 2019


... de prioridades.


Seja feliz, com meditação :)

O Corpo (Hanif Kureishi)

segunda-feira, 19 de agosto de 2019


Imagine-se idoso, caro leitor. Velho e cansado.
Imagine-se a viver num corpo que se tornou rebelde e desobediente, que não marcha como o desejado, não obedece como o desejado e, o pior, não ousa seguir-lhe os sonhos como outrora. Porque está cansado, descrente, um pouco arrogante até.

É assim que se encontra a personagem principal deste romance do conhecido autor britânico Hanif Kureishi. A premissa é esta: para todas as pessoas que vivem cansadas dos seus corpos, esticados pela idade, existe a possibilidade de o trocar, como quem vai ali aquela loja trocar uma camisa por umas calças.

Dá que pensar, não me dirá? 

Ao longo da jornada deste homem, serão muitas as vezes em que você se encontrará, eu diria, um pouco chocado. Vamos lá ver, não é todos os dias que nos acenam com a possibilidade de trocar de corpo quando a insatisfação impera. Diga-me lá que não pensa o mesmo?

É impossível não projetarmos as dores da personagem em nós mesmos. Sejamos mais velhos ou ainda jovens. Projetar o futuro no corpo que sempre nos acolheu. Como será? Corresponderá, sempre e metodicamente, aos comandos? E se assim não for, como lidar com isso? Com a amargura de um tempo que passa, que nos guarda fielmente memórias de tempos tão frescos, tão jovens para, de um momento para o outro, nos fazer sentir encarquilhados dentro de nós mesmos?

Foi neste embalo desamparado que a personagem de Kureishi encerrou uma aventura para a vida inteira. Numa conversa banal conhecerá o homem que lhe possibilitará mudar de corpo. Escolhe um corpo jovem, capaz, de pénis avantajado e segue a sua vida, numa experiência de pelo menos seis meses. Seis meses ricos em experiências e aparentes felicidades.

Lembra-se de lhe ter apontado a necessidade de, também nós, projetarmos as nossas necessidades quando o assunto é o declínio do corpo? É que ao longo de toda esta história o impacto da velhice e do avançar dos anos é retratado quase comicamente sem, no entanto, espreitar um pouco de mágoa pela inevitabilidada de vida.

A ter de escolher um conceito, ou uma definição que facilmente caracterize este livro seria, precisamente, essa dura temática que é a inevitabilidade das coisas, da vida em si mesma.

Não lhe vou contar o final desta história. Não só porque não gosto de coscuvilheiros literários com o gosto mórbido em estragar experiências leitoras, como também pelo facto - mais importante - de que quando o leitor lá chegar, a esse derradeiro final, também se sentirá velho, angustiado e talvez, um pouco perdido. E não, esse sentimento de confusão e incerteza não lhe imprimirá, de todo, a necessidade de um novo corpo.

💓

Uma história provocadora a inspirar em qualquer leitor uma máxima muito pertinente apesar de aparentemente óbvia:  nem só de um corpo se faz um homem. Concorda?

Recomendo que pegue neste livro agora mesmo e comece a pensar. Muito.


Seja feliz, na sua pele. Votos de uma boa semana.

Cai a noite em Caracas (Karina Sainz Borgo)

quinta-feira, 8 de agosto de 2019


O livro de estreia de Karina Sainz Borgo fala-nos sobre a crise atual que se vive na Venezuela. Precisamente por isso, há quem pondere que as luzes em torno da sua obra se foquem apenas e só na atualidade do tema, mas não é bem isso. Na verdade, a qualidade literária da autora suplanta qualquer pré julgamento que assuma o tema como a causa do sucesso que está a viver. É um sucesso merecido. Seja pelo tema, que obviamente assume aqui uma importância vital mas, também e muito importante, pela qualidade com que a autora expõe o tema, a cru, sem falsas modéstias.
 
É também um livro que nos toca particularmente por um assunto, provavelmente, esquecido em primeira mão: a culpa de quem se salva em prol dos que ficam na miséria. Mas não nos adiantemos.
 
«Cai a noite em Caracas» é um retrato ímpar das desgraças que nos chegam da Venezuela.Um governo a roçar similaridades com um comboio desgovernado que atropela tudo e todos, que traz fome, miséria, medo e muita solidão. É assim que vive a personagem principal desta história, Adelaida.
 
Após a morte da mãe, vítima de cancro, Adelaida perde todas as suas raízes. As memórias de um serviço de pratos debruados a vermelho,  algumas peças de roupa intocadas, os sapatos organizados da sua mãe, as memórias de um passarinho, resumiam o pequeno mundo daquela mulher, a mãe como o centro nevrálgico da família.  Estava só. Num mundo cão, esfomeado e perdido.
 
É esta a base de toda uma história de resiliência e superação. Perdida entre mortes, corpos desamparados na rua, fome, tráfico e a constatação do quanto podemos ser vis em prol da sua nossa própria vida, Adelaida percebe que chegou a hora de decidir entre as duas conhecidas respostas universais: lutar ou fugir. Será um acaso que lhe dita estar pronta para lutar.

"Regressei à sala e peguei na única carta por abrir que permanecia em cima da mesa. Era uma carta do consulado de Espanha, instalado na cidade. Tentei lê-la em contraluz, mas foi impossível. Voltei às cartas abertas. Uma, a factura da luz. A outra, também com o selo da bandeira vermelha e amarela, uma comunicação na qual o Estado espanhol solicitava uma prova de vida de Julia Peralta, a sua mãe, para receber a pensão. Tanto quanto eu sabia, aquela senhora morrera havia, pelo menos, cinco anos. Dobrei ao meio a carta do consulado espanhol e a solicitação da prova de vida e escondi-a nas calças, peguei nas chaves e fechei a porta.
Aurora Peralta estava morta, mas eu continuava viva." 
Desde então, moralismos à parte, Adelaida lutou para ser outra pessoa, para finalmente fugir de uma terra infértil. A jornada de fuga desta mulher assemelha-se às tão comentadas dores de parto, é como quem lhe arranca as entranhas nessa necessidade de fugir mas, na mesma medida, ladeada pela culpa e questionável cobardia.
 
"Era de noite e uma electricidade de miséria e beleza percorria a cidade. Caracas luzia acolhedora e, ao mesmo tempo, terrível, o ninho quente de um animal que ainda me olhava com olhos de cobra selvagem no meio da escuridão.
Apenas uma letra separa «partir» de «parir».

É de bravura que fala esta história. É, também, o jogo serpenteante de quem, para sobreviver, vai ao desencontro de si mesmo. Um desencontro que soma uma pesada culpa: se eu consegui escapar daquele lugar em que a noite nunca morre, o que faz isso de mim?

Após a leitura de «Cai a noite em Caracas», o leitor ver-se-á, num primeiro momento, compelido a escolher apenas um de dois lugares: a fraqueza ou a bravura. A autora deixa-nos esse rasto de anseios por uma resposta concreta em que apenas fica a certeza de que em ambientes inóspitos, nos lugares que desafiam a nossa própria vida, a incerteza das coisas é a certeza em si mesma. Fica-nos a consciência que ditará, esperançosamente, a melhor resposta.
 
"Viver, um milagre que ainda não consigo entender e que morde com a dentada da culpa. Sobreviver faz parte do horror que viaja com quem foge. Um animal daninho que procura derrotar-nos quando nos encontra de saúde, para nos fazer perceber que alguém merecia mais do que nós continuar com vida."
 

Com o apoio:
 
 

Seja feliz,

Tempo

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

 
Tempo, o ouro dos dias de hoje.
 
Seja feliz,

Até ao fim do mundo (Amy Bloom)

terça-feira, 6 de agosto de 2019


Amy Bloom é uma escritora e psicoterapeuta americana, nascida em 1953. Em Portugal, temos editado o presente livro de que hoje vos falo. A autora lançou, recentemente, o seu quarto livro intitulado «White Houses» e que foi, inclusivamente, muito elogiado pela Joyce Carol Oates (uma das minhas escritoras de eleição).~
 
    
"É sempre assim: as melhores cumplicidades estabelecem-se entre pessoas com problemas."

Nunca uma primeira frase de um livro fez tanto sentido na história como, inclusivamente, a consegue resumir (quase) na totalidade.  Este é um livro amargo, de uma vida pautada por dificuldades e pelas cumplicidades que nascem desse ponto comum: o desamparo.

Lillian Leyb é a personagem desta incrível história de superação. Esta mulher, com 22 anos, é judia, nascida na Rússia e mãe da pequena Sophie. Vítima de um massacre (Rússia, 1924), que lhe mata a filha e todos os seus familiares, Lillian viaja para a América na tentativa de se salvar e esquecer o seu passado. É um recomeçar repleto de aventuras e desventuras, a maioria, quase inusitada. A autora retrata a complexidade humana e a moralidade de uma forma sublime. Há um momento na história que Lillian se verá confrontada com a prostituição como resposta a um conforto que sempre tardou na sua vida.
     ❤
"(...) e visto que Deus, na Sua infinita sabedoria, tinha permitido que estas coisas acontecessem, se esta particular cadeia de acontecimentos havia de levar a que ficasse dona de uma casa com dois quartos, lareira e janelas, quem era ela para se questionar sobre os Seus métodos?"
Foi a escrita de Amy Bloom que me conquistou. Foi a subtileza de quem escreve sobre comportamentos à partida condenáveis sem, no entanto, causar qualquer repulsa no leitor: Amy Bloom encharca o leitor com a empatia de quem consegue ver para lá do óbvio, do julgamento fácil.
 
Tudo parece ganhar uma normalidade na vida de Lillian, que esta suporta com a resignação de quem perdeu tudo, até ao dia em que é confrontada com a notícia de que Sophie pode estar viva, salva por uma família que a levara para a Sibéria.
 
A partir deste momento, uma nova viragem acontece na vida de Lillian. Larga tudo e parte em busca da sua filha. «Até ao fim do mundo» é um retrato forte e simultaneamente sensível sobre aquilo que representa ser mãe, sobre o poder interior e a esperança, que nunca morre.
 
O leitor acompanhará uma jornada pautada por muitas dificuldades, provações e constantes obstáculos de quem caminha, por esse mundo fora, completamente só. Mas voltemos à esperança, pois é dela, maioritariamente, que este livro é feito. São muitas as dificuldades, serão muitos os momentos em que a crueldade se instala e nos dita a certeza de um mundo podre, contudo, Lillian será igualmente confrontada com pequenas esperanças, feitas de gente, na prova viva de que, afinal, nem tudo está perdido.
 
Lembre-se, caro leitor, "as melhores cumplicidades estabelecem-se entre pessoas com problemas" e Amy Bloom, na pessoa da inesquecível Lillian, vem provar que é no desamparo que se conhecem os braços com dores comuns. Braços alinhados com o empurrão necessário para nos levar até ao fim do mundo.
 
Este é um livro que brinda a resiliência, a esperança e o amor em todas as suas vertentes. A somar a estas temáticas sempre urgentes, a escrita de Amy Bloom surge como a cereja no topo do bolo, fazendo deste livro uma espécie de exercício empático: até onde seremos capazes de ir por amor?
 
 
Leia!
 
Mais sobre a autora, aqui:
 
 
 
Seja feliz,

Saberás quem sou (Megan Abbott)

segunda-feira, 5 de agosto de 2019


Megan Abbott foi uma verdadeira surpresa. Há momentos em que um bom thriller é a resposta certa aos anseios de leitor. Assim foi. «Saberás quem sou» garante-lhe momentos de adrenalina e curiosidade quase mórbida. A forma como a autora vai tecendo a história, sempre com fios soltos, ligados só lá mais à frente, conquista-nos. Essa conquista, devo frisar, não acontece apenas por nos comprar a curiosidade: estamos perante uma história sólida, bem escrita e com uma mensagem importante.

Até onde somos capazes de ir para realizar um sonho?

É esta pergunta que está na origem da história protagonizada por Katie e pela sua filha adolescente, Devon, uma ginasta-prodígio cheia de sonhos. A capacidade da jovem origina nos pais um desejo incansável de a levar, sempre, mais além. Um desejo partilhado por todos, um desejo que acaba por se tornar o elo de toda a família. O sucesso de Devon determina a solidez do casal, uma espécie de confirmação à família que, forçosamente, acabaram por criar.
 
No momento em que a rotina parecia continuar instalada na vida de cada um, um rapaz morre atropelado, sem motivo aparente, envolto num cenário repleto de questões soltas. O crime abalará toda a comunidade, e todos os pais das ginastas, uma vez que o rapaz em questão trabalhava naquele ginásio.
 
Imagine o leitor o que se seguirá: o que aconteceu ao jovem? Atropelamento e fuga? Mas porquê fugir se não foi intencional? Se foi intencional, quem está por detrás disto? E porquê?
 
Katie deseja numa força demolidora ignorar o crime que abalou emocionalmente Devon. O desejo perpétuo é o de se focar nas necessidade da filha e promover-lhe tudo o que é possível para chegar aos ambicionados Jogos Olímpicos.
 
Conseguirá alhear-se e esquecer o jovem sensível e romântico, morto num atropelamento cruel?
 
A história de Megan Abbott é um chamariz sobre os sacrifícios parentais, o quanto um pai e uma mãe estão dispostos a ir, a dar e a ceder pelos seus filhos. A questão que nos fica a pairar no ar é: quão longe poderá ir um pai e quais as consequências dessa bravura?

Uma leitura frenética, não vai querer parar de ler até descobrir o que realmente ali aconteceu. Acredite caro leitor, vai ser surpreendido.

Leia. Leia agora.


Com o apoio:
 


 

Seja feliz,

É sempre assim

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Arietty | Studios Ghibli


"É sempre assim: as melhores cumplicidades estabelecem-se entre pessoas com problemas."

Amy Bloom em «Até ao fim do mundo»


Seja feliz,
 
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