Teoria Geral da Estupidez

domingo, 4 de outubro de 2015

Rodrigo Guedes de Carvalho é um dos jornalistas que mais admiro. Enquanto escritor tenho apenas um dos seus livros, «Canário», com leitura  adiada na estante. 
O presente artigo sobre os nossos jovens, cada vez mais estúpidos e imbecis, é absolutamente imperdível e, por isso mesmo, o partilho convosco.
 
 
"Numa altura em que tanto se fala da necessidade de melhorar o sistema educativo português, que sofre de tantas insuficiências, gostaria de dar o meu contributo para a riqueza curricular. Que tal pensar em leccionar, desde o primeiro ciclo, uma teoria geral da estupidez? Pelo que vejo, os nossos alunos têm necessidade urgente da matéria. Reparo que mesmo aqueles que passam anos e anos nas faculdades, e sobretudo esses, não dominam minimamente o conceito. Repare: um dos pilares mais básicos da aprendizagem humana é perceber que se pode (e deve) não só aprender a matéria positiva que nos dão, mas aprender com o erro. Dito de outra forma, e para que alguns dos nossos estudantes mais incapazes entendam: quando pomos a mão no fogo e nos queimamos, aprendemos que não devemos voltar a pôr lá a mão. Simples, não é? Dir-se-ia que qualquer criança o entende. Mas parece que não. Quando ainda hoje nos arrepiamos ao recordar o que ficou conhecido como Tragédia do Meco, eis que um grupelho das praxes pega nuns quantos caloiros e os leva...para onde? Para a praia, claro. Mas a coisa não fica por aqui. Enterra-se o caloiro na areia e obriga-se o moço ou moça a beber. Perdão, não simplesmente a beber. A beber, e beber, e beber, até à inconsciência. A jovem, repito, está enterrada, quase na totalidade, apenas a cabeça de fora, ou seja, incapaz de reagir. Ela e outros são insultados, de besta para baixo, pelos praxantes, esses duxes do não sei quê. Com toda a gente fora de si, toda a gente bêbeda, enterrada na areia perto do mar, eis um desastre à espera de acontecer. Pois, mas ninguém vai prever que aconteça, não é? Não, não é não. Repito: como se não bastasse o senso comum de uma inteligência mediana de perceber que a situação estúpida, violenta e humilhante, é já em si potencialmente perigosa, ainda há, repito e repito, a memória fresca do Meco. Aquela tragédia onde os praxantes, de norte a sul, se bem se lembram, nunca assumiram verdadeiramente culpas, nunca admitiram que se culpasse a praxe em si, escondendo-se, de forma indigna, cobarde e nojenta, atrás da teoria do acidente que pode acontecer a qualquer um.
Já me tinha parecido aberrante, na altura, que pouco depois da tragédia, tenha havido gozo com a tragédia, com uns tantos atrasados mentais a fazerem uma encenação teatral da tragédia que tirou a vida a jovens como eles. E agora isto: nos primeiros dias do novo ano lectivo que anda a fazer a estudantalha? A estudar, a ir às aulas, inteirar-se, interessar-se pelas matérias, fazer por merecer os cursinhos que os papás e o País andam a pagar? Qual quê, querem é o "rituais de integração", essa expressão absurda com que pretendem atirar-nos areia para os olhos. Expressão por expressão, respondo que são atrasados mentais, literalmente. Se não souberem o que significa, procurem as duas palavras no dicionário."
 
Nota: por vontade do autor, este texto não segue as regras do novo acordo ortográfico.
Artigo presente na Revista tvmais

2 comentários:

Luiz Santos-Roza disse...

Realmente, diz o essencial sobre este tema.

Denise disse...

Sim. Muito bom e com tudo o que mais importa para alertar um conjunto de condutas e mentalidades que entristecem. Que envergonham.

Obrigada pela visita :)

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