Estante de Serviço #8

quinta-feira, 23 de março de 2017

 
 
Crítico, ser
__________
 
Pobby e Dingan
Ben Rice
 
 
É tentador, especialmente na juventude, ter opiniões instantâneas e fortes sobre os outros. Julgar, criticar, rotular - estas coisas, para uma mente imatura, podem parecer sinónimos de força e confiança. Mas ter opiniões firmes nunca deve ser confundido com ser crítico - que é a tendência para julgar uma coisa um pessoa baseado apenas numa qualidade ou atributo. Uma pessoa crítica insistirá, por exemplo, que todos os criminosos são pessoas terríveis, que todos os niquentos com a comida são maus na cama (parti-me a rir com isto!), e que todos os adolescentes são ingénuos e críticos.
(...) o que pode levá-lo a abafar o seu fogo crítico, é o pequeno livro de estreia de Ben Rice, Pobby e Dingan. Kellyanne, a irmãzinha mais nova do narrador Ashmol, tem dois amigos imaginários, Pobby e Dingan. Como seria de esperar de qualquer respeitável irmão mais velho - em especial alguém que cresceu na dura comunidade mineira de opalas de Lightning Ridge, na Austrália - , Ashmol não tem tempo para coisas tão infantis. E você teria, depois de anos a dizerem-lhe para pôr dois lugares à mesa para Pobby e Dingan e de lhe dizerem que não podia ir à piscina porque, com Pobby e Dingan no banco de trás, já não há espaço suficiente para si no carro utilitário?
Lá para o fim do romance, sim. Porque quando Kellyanne anuncia que Pobby e Dingan morreram, e fica tão doente com o desgosto que acaba por ir para o hospital, Ashmol faz uma coisa maravilhosa: anda por todo o lado na cidade a pôr anúncios a oferecer uma recompensa a alguém que possa encontrar os amigos da irmã («Descrição: imaginários. Sossegados»). E a partir desse momento você também irá querer ficar do lado daqueles que entram na fantasia da menina e não daqueles que desdenham.
Permaneça aberto. Há bom, mau, loucura e tristeza em toda a gente e não tem de condenar ou de acreditar em todos os elementos para ser generoso com o pacote inteiro. Isto também se aplica a si mesmo. Se, quando luta com um nova aprendizagem, tende a descrever-se a si mesmo como um inútil em tudo (ver: autoestima, baixa), comece por praticar uma atitude não crítica para consigo mesmo.


Este é um dos livros que ficará comigo para sempre. Foi lido num momento muito especial da minha vida e, lindo como é, instalou-se com as bagagens de uma vida.
Recomendo com a maior intensidade que possa ser possível. Tenho a presunção de lhe dizer que não, não se vai arrepender. Nem um bocadinho.

Boas leituras.

 
Em:
 
 
Boas leituras,

2 comentários:

Anónimo disse...

Achei muito excessivo ter ganho o Somerset Maugham.

Os remédios literários foi para mim um falhanço.
Eu não leria Madame Bovary por causa das minhas hipotéticas dificuldades em ser fiel, valha-me Deus! nem me lembraria de O Jogador por causa de um hipotético vício do jogo. E se uma por outra vez as autoras entreabrem as portas a alguns comentários cómicos, fazem-no sem abandonar a seriedade literal do seu projecto.
A ideia que elas tiveram partiu de um livro (alheio) muito inteligente, o resultado não me satisfez e ainda bem que o requisitei.
Sim, devoram livros mas...?

Denise disse...

Olá!

Qual seria então a sugestão para um bom livro do género para o Anónimo? Aparenta tanto conhecimento, partilhe com todos. Será um prazer! :)
Boas leituras!

CopyRight © | Theme Designed By Hello Manhattan