Jogos de Raiva (R. Guedes de Carvalho)

terça-feira, 29 de maio de 2018

 
Eis a minha estreia na obra do autor e conhecido jornalista, Rodrigo Guedes de Carvalho.
«Jogos de Raiva» falo-nos sobre as redes sociais, mais especificamente, do Facebook e os resultados nocivos de um contágio estranho, muitas vezes inexplicável, que tal instrumento pode provocar no mais comum mortal.
 
A história inicia de um modo a que qualquer leitor já não pare, mesmo os menos pacientes. Há a dúvida, na primeira página, do que terá acontecido a uma família, aparentemente, estruturada.
 
Francisco Sereno é uma das personagens principais. Um sexagenário que se iniciou recentemente no mundo das redes sociais, em parte, impelido pela sua neta, Catarina. O choque desta entrada no mundo virtual passará, muito rapidamente, do limbo do encantamento à incredulidade.
 
Gradualmente, Francisco Sereno, eterno aspirante a escritor, começa a entrar numa espiral de quase autodestruição perante as tamanhas parvoíces com que se vai defrontando: insultos gratuitos, opiniões que ninguém pediu (será mesmo assim?), a exposição diária, a alegada privacidade que já conheceu melhores dias.
 
Mas depois. Eis que a espiral se condensa e ao perceber, mais claramente, o tal botão "gosto", eis que surge neste homem a ânsia dos números, dos likes, as confirmações dadas por desconhecidos perante uma publicação qualquer. Aqui entre nós, Francisco Sereno deseja igualmente esse mundo de adulação, só para ele.
 
"É tão difícil resistir quando nos elogiam, quando nos querem, tudo o que em nós é inteligente e desconfiado se verga por vezes à cauda do pavão."
 
Será esse fascínio pela atenção de desconhecidos (permita-me enfatizar: de desconhecidos) a incitar a vontade de mais ao Francisco Sereno. Essa vontade de mediatização será, pois então, traduzida num livro sobre o ridículo das redes sociais, sem filtros, sem pejo, sem nada: escreve um livro como quem lança postas de pescada. É assim que o livro intitulado "O Fantoche" nasce e prospera.
 
"O Fantoche, de Francisco Sereno, (...) só chegou ao altar do sucesso porque foi amplamente partilhado na internet."
 
Ficou famoso. Francisco Sereno, através de um livro que em nada lhe merece o nome, ficou famoso. Dessa fama, viria uma das suas maiores tragédias.
 
Rodrigo Guedes de Carvalho é incisivo no que diz, como o diz e na pretensão de quem deseja sublinhar a, cada vez maior, inaptidão das pessoas para se relacionarem, para comunicarem no verdadeiro sentido da palavra (abençoado sejas, meu Paul Watzlawick!), para o ridículo em que caem diariamente, inconscientes ou simplesmente induzidos no coma de quem tem de ser fixe.
 
Um livro que, apesar da escrita não convencer totalmente, se torna pertinente pela temática, que nos induz uma reflexão cuidada sobre uma nova era, em que a comunicação parece confortavelmente instalada entre teclados, ecrãs de computadores e afins.
Só por este ponto, acredito que o leitor não sairá defraudado desta leitura.
 
 
 
E você, quantos likes necessita para viver?
 
Seja feliz,

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