Lembro-me da minha avó me dizer, tantas vezes, olha que os cães ladram e a caravana passa. Deixa lá isso, olha em frente. Eles ladram e a caravana passa.
Também nesta história de Patrick Modiano tudo passa. Por muito que se questione, grite ou ladre. Tudo passa num destino comum de duas personagens: o encontro em primeira linha com o amor. Jean, rapaz novo e perdido, Giséle, mulher conhecedora das artimanhas da vida, ambos, desejam encontrar o destino certo do amor. Do amor derradeiro, sem subterfúgios, mentiras ou esquemas ardilosos que os empurram em direções inesperadas.
Decorrido nos anos 60, nas ruas sombrias de Paris, «Um circo que passa», mostra-nos esse cenário de mistério, de obscuridade, e depois, esse amor ansiado.
Para o leitor mais impaciente, serão os momentos de desânimo a prevalecer. Tal acontecerá porque Patrick Modiano decide contar muito, com muito pouco. São pouco mais de 100 páginas de uma intriga que seduz, que nos agarra, que nos espera lá à frente para descobrirmos, então, um quase nada gritante.
Quem foi Giséle? O que traziam as malas que cautelosamente carregava? O que move Jean a seguir os passos de uma desconhecida, sem qualquer arnês? Quem são os homens que cospem tarefas perigosas num tom de voz que os hipnotiza?
E poderíamos continuar a questionar, sem parar. Como os cães, que ladram, e a caravana passa.
É assim neste circo. Questionemos, para se saber no que não se diz.
Resta-nos essa busca de um amor perdido. No final, é só isso que conta.
Seja feliz,
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