Emma (Jane Austen)

quinta-feira, 1 de julho de 2021

É inegável, para os leitores de Jane Austen, a constatação da ironia subtil das suas histórias. Ironia essa apontada a uma sociedade estigmatizada e muito padronizada. Desde o lugar da mulher, o seu papel em detrimento à valorização, quase total, do homem, é outro aspecto inequívoco das suas obras. Em «Emma», não será diferente. E será ainda melhor.

Creio que «Emma» seja uma das personagens menos adoradas pela maioria dos leitores. No meu caso, posso dizer que Emma se tornou uma das minhas personagens preferidas de Austen, se não a preferida. Ainda estou a ponderar de coloco Elizabeth Bennet em segundo lugar. Tarefa árdua.

Nesta história acompanhamos Emma, uma jovem de boas famílias, com a ideia de estatuto social e a consciência de classe muito enraizada. É consciente das suas capacidades, a nível intelectual, mas sobretudo a nível emocional. Sem rodeios, Emma tem-se em grande, grande conta.

O leitor entra no mundo de Emma no momento em que Mrs Weston, até então a preceptora da jovem, sai daquela casa para se casar e criar a sua própria família. A solidão de Emma faz-se sentir de forma avassaladora pelo que, sem demoras, dedica-se a encontrar uma nova amizade, que lhe preencha o vazio dos dias. Conhece Harriet, jovem de um estatuto social inferior, mas cuja amizade tem tudo para proliferar: Emma orienta, Harriet segue-lhe os passos.

Jane Austen construíu uma bela história em torno das aventuras e desventuras de uma jovem rica, sem preocupações e cuja intenção, verdadeira, é provocar e criar os casamentos mais promissores da zona. Emma sente-se detentora de competências emocionais para lá do razoável, usando essas mesmas capacidades para, na sua ideia, tornar o (seu) mundo mais feliz, mais harmonioso. Contudo, há uma palavra que está sempre presente nesta que é a grande premissa do livro: equívoco.

A vaidade, o quase egocentrismo de Emma, vão dar origem a uma catadupa de mal entendidos, de muitos equívocos, transformando as personagens em peqenas marionetas conduzidas ao sabor da sua própria, e inocente, vontade. 

Quando refiro que a maioria dos leitores não gosta de Emma, creio que o mesmo se deva à sua intromissão, contudo, não consegui percecioná-la com má intenção nas suas acções. Emma deseja, profundamente, criar uma sociedade mais feliz e sente, genuinamente, que tal pode estar ao seu alcance. Os equívocos, contudo, vai surgindo um atrás do outro, dando origem a uma teia de histórias que se misturam, a segredos que podem mudar vidas e a muitas situações caricatas.  

De todas as personagens, Mr. Knightley é a que se assume como pêndulo de Emma. Na minha perspectiva, esta é uma história não só de apontar de dedos a uma sociedade muito tacanha, bem ao jeito de Jane Austen, como é também a história de uma jovem, a desenvolver-se emocionalmente ao encontro da sua verdadeira maturidade, que aprende com os seus erros, cresce e distancia-se daquilo que, outrora, vivia como dado adquirido. Encontra, através do caos dos outros, ecos de si mesma e, finalmente, o equilíbrio de que tanto precisa.

«Emma» é, assim, uma história de crescimento e de maturidade na sombra de uma sociedade tipicamente recheada de maus vícios. E todos nós sabemos que maus vícios, não nos levam a bons lugares. Não concorda?

Mais um clássico incontornável da literatura e que só vem reafirmar o quanto Jane Austen tinha para nos dizer à sombra das aparentemente "simples histórias de amor". 


 

Seja feliz,

 

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