O ridículo da morte não é a morte. O ridículo da morte acontece quando
se está no cemitério, no aconchego da saudade dos que foram, e um bando de
corvos com uma rata histérica entre as pernas decide, junto da campa ainda
fresca, tirar fotografias para a prosperidade. «Até a avó gostou da foto, Manuela. Tira outra!»
«Pronto, vamos lá embora, e tu pede
por nós, vá». Pois no que a mim me diz respeito, se fosse ao morto acabado
de chegar, pediria uma casca de banana em que todas elas caíssem, umas em cima
das outras, corvos doentes, e sim, que caíssem em covas à antiga: de terra
enlameada pela chuva e por ali pernoitassem no medo de quem, há pouco, iria
pedir por elas.
O ridículo da morte é feito pelos vivos. A vergonha de quem não semeou
o coração no lado certo.
DR
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