Onde a vida se perde (Paulo Ferreira)

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

«Onde a Vida se Perde» é o primeiro romance escrito por Paulo Ferreira.
A história vem contar-nos a vida de um homem, Pedro, a quem lhe ditaram apenas 6 meses de vida, na sequência de um tumor cerebral.
Aquilo que poderíamos considerar o início de uma história muito padronizada, acaba por nos dar a volta quando percebemos que Pedro, ao invés de correr e fazer tudo o que aquele prazo limitado lhe permitiria, decide antes reunir aquelas que sempre considerou como as quatro mulheres da sua vida: Mia, Carmen, Rita e Alice.
 
 
"Rita era a mulher instável e fútil; Carmen, a loucura e o regozijo do amor (substantivo que a magoava, mal de gramática); Alice, o sinal de que Pedro poderia tornar-se monogâmico (...).
Nesse tempo, Mia vivia numa espécie de limbo."
 
 
Cada uma destas mulheres tem uma história. A sua história individual e a história que se mistura, irrevogavelmente, com um homem estranho, sonhador, inseguro e atado às linhas menos previsíveis. É que Pedro parece ter amado todas elas, ao mesmo tempo, não amando nenhuma. Amando-se a si mesmo e a uma lamúria pertinente de que nada chega. De que nada lhe chega. De que tudo é demasiadamente passageiro, na vida, para se assentar na vida de alguém. Imiscuir-se. Envolver-se como as claras de um bolo, compactas e previstas na forma, sólida, de um bolo.
 
Ao longo do livro o leitor viverá aquela espécie de compaixão misturada com repúdio. É um homem com seis meses de vida, numa sala, com as quatro mulheres devotas aos amores mais tenros e maduros da sua vida. Se, por um lado, lhe deseja o melhor, por outro, fica o travo da incompreensão só capaz aos mais afoitos. Talvez. Até ao momento.
 
Chegará o momento, então, em que todas as inseguranças de um professor universitário, virado para o seu mundo de literatura, se dissolvem na certeza de um desejo comum, um lugar comum a todos nós: as ânsias de ser amado.
 
Percorremos, assim, a jornada de vida de um homem condenado pelo tempo, pelo corpo, pela vida. As decisões finais que encerram vontades de um princípio, atribulado, mas com um destino: encontrar em cada mulher que amou, o amor necessário para se saber ido, mas chegado de pedra e cal a um futuro sólido.
 
Há quem diga, e bem, que na memória jamais morremos.
Para Pedro será, sem dúvida, o seu último desejo.
 
 
Boas leituras.

4 comentários:

Carlos Faria disse...

Também nunca li esse autor, embora como sofre de fobia a cancro de forma exagerada, fujo a obras sobre o tema.

Denise disse...

Olá Carlos!
Compreendo. Uma temática que não é, de todo, fácil de lidar: a dor, o fim, a vida em si mesma.
Espero que um dia se aventure. Por vezes, também é bom esse confronto com os medos. A tendência é que diminuam pela proximidade. Uma espécie de paradoxo feliz :)

Beijinhos e ótimas leituras!

Anónimo disse...

O seu preço: livros de borla.
Deprimente.
Não há um que seja mau.

Denise disse...

O Sr./Sra. Anónimo(a) fica tão entusiasmado(a) com o meu blogue que nem se apercebe que o presente livro não é fruto de qualquer parceria :)
Reitero os meus agradecimentos por toda a atenção que me presta.

Cps,
Denise Rolo

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