Domenico Starnone é um dos mais aclamados escritores italianos da atualidade e com este «Laços», vem contar-nos, sem dó nem piedade, as consequências desastrosas de um adultério numa família.
Esta história de traição, estruturada em três partes, dará a oportunidade ao leitor de conhecer todos os prismas de uma família vitimizada pelas suas próprias escolhas.
Num primeiro momento conhecerá Vanda, através das cartas desesperadas endereçadas a Aldo. São cartas sofridas de uma mulher completamente desamparada, esgotada, com dois filhos a cargo e um homem que decidiu dar permissões ao coração, apaixonando-se por uma aluna, de nome Lidia.
Num segundo momento conhecerá Aldo, o homem que se apaixonou. Não uma mera paixão, amor de verdade. Amor como até então nunca conhecera. Um amor que o impeliu a abandonar a família, e os filhos, sem questionar.
Por último, conheceremos os filhos Ana e Sandro. Eles são o resultado gritante entre mágoas e ressentimentos dos tempos da infância, nunca resolvidos, nunca assassinados, na verdade, ressentimentos mais vivos do que nunca. Pais em forma de saco de boxe constante, o arremesso de todas as culpas.
Narrado em tempos distintos, o leitor conhecerá o momento da traição, o momento do aparente perdão, traduzido pelo regresso de Aldo a casa e toda uma jornada, quase quarenta anos depois, resultante de uma facada que por muito ignorada, os marcou a todos, sempre viva e a brotar impurezas.
Domenico Starnone é exímio na forma clara, limpa, por vezes cruel, como expõe as mágoas de uma família traída. Todos os elementos são considerados, as vozes distintas de cada um provam-nos o impacto das atitudes de um pai, que se apaixonou, de uma mãe, que foi abandonada, e depois os filhos, que não pediram nada a ninguém.
Dos inúmeros estudos científicos sobre a parentalidade, é prova dada que a maioria das crianças deseja que os seus pais fiquem juntos para sempre. É esse «não silencioso» das crianças que origina, muitas vezes, essa tendência de um casal se manter enlaçado em nós cegos.
Com «Laços», o autor obriga-nos a refletir profundamente sobre as escolhas, sobre o amor, sobre os compromissos, sobre a família em sentido lato. Haverá, num contexto familiar desavindo pelo adultério, uma única e correta direção? A quem culpar? Qual a necessidade de apontar dedos? O que fazer? Entre as duas respostas universais à ameaça, fugir ou lutar, alguma tem um lugar verdadeiramente adequado?
E eis que o desfecho hilariante desta história nos chega na forma de uma subtil resposta. Tal como os pais nos ensinam a enlaçar os atacadores dos sapatos, também os filhos aprendem pela arte da imitação, mais que não seja, forçada.
Recomendo-lhe, gritantemente, a leitura deste livro . Se, um dia o decidir ler, perceberá estas pontas soltas com que o autor nos provoca, tal como os sapatos que, se incorretamente enlaçados, nos farão tropeçar. Mais cedo ou mais tarde.
Dizem que, na vida, é tudo uma questão de escolha. Será assim?
Com o apoio:
Boas leituras,
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