Berta Isla foi a mulher que viveu o amor na terceira, quarta e quinta pessoa. Uma mulher que viveu o amor de um homem dividido em mil outros homens, cada qual a carregar um segredo mais penoso do que o outro. Um livro sobre a conceção do amor, a sua maleabilidade e a coragem que invoca nuns, a cobardia noutros.
O livro de Javier Marías é uma pérola que nos bate, certeira, no meio da testa. É um livro que nos obriga a refletir na consistência de que um amor é feito mas, mais do que isso, na força da dedicação que o fará perdurar pela vida fora. Berta é a mulher que se dedica, cega, a um amor da adolescência, que lhe percorreu a vida toda, deambulante, ainda assim, vivido na primeira pessoa que só ela sabe ser.
Tomás é enigma. Tomás é fumo que passa. Conta-lhe metades de verdades encenadas à luz de uma profissão a que, também ele, se viu obrigado a viver numa espécie de segunda via. De quem não tem por onde fugir. Ficar-lhe-ia o amor de Berta, a única pessoa que ele escolheu de livre vontade. Também ele é prisioneiro de uma vida que decidiu, com arte sublime, passar-lhe a rasteira do mal entendido.
Berta e Tomás são a personificação de um amor imperfeito. Não serão assim todos os amores? Será esse o requisito escondido para que sobreviva? Ou a falta de coragem para o admitir?
Numa história cruel, ressentida e cansada, Javier Marías escreve-nos o amor, o casamento, a mulher, o homem, a família. E depois, a vida, que lhes troca as voltas das maneiras mais inesperadas. «Berta Isla» é a história de uma mulher que amou. É uma história para todos os que já amaram incondicionalmente, sem arnês, prontos para a guerra, prontos para a paz redentora, preparados para o que viesse. Não importa o fim, os ressentimentos ou o apontar de dedos. Creio que para Berta o mais importante foi que aconteceu. Aconteceu-lhe o amor. Torto, distorcido, enublado. Tantos que mais. Mas que importa?
Aconteceu-lhe.
Aconteceu-lhe o amor.
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