"Maya Angelou (1928-2014) é uma autora afro-americana com considerável influência em várias áreas da cultura contemporânea dos Estados Unidos da América. Marguerite Annie Johnson nasceu em St. Louis, Missouri, e até à adolescência viveu em diversos lugares, começando a construir uma experiência invulgar e tocante pela coragem e paixão criativa. Embora as primeiras décadas da sua vida tivessem sido marcadas pela deslocação, pela precariedade e pela dupla opressão de género e raça, Angelou acabou por granjear reconhecimento e admiração nas diversas áreas em que interveio. O seu impacto atravessa barreiras raciais e políticas, sendo de particular relevância na escrita das mulheres afro-americanas."
«Sei porque canta o pássaro na gaiola» é um livro autobiográfico, abrangendo a infância e princípio da adolescência de Maya.
Não é um livro fácil e dele pouco se pode dizer sem antever o que irão ler, se eventualmente, se aventurarem a conhecer a sua vida. É que merece ser conhecida, de facto. A Maya Angelou é daquelas mulheres resolvidas, independentemente das agruras da sua vida. Foram várias, penosas, difíceis de superar e capazes de modelar a vida, naquele registo, para sempre. Mas ela decidiu que não seria assim.
A autora foi violada com apenas 8 anos de idade. Acredito que esta é uma das passagens mais vivas, cruéis e intensas ao longo de todo o livro. Apesar dessa dificuldade, prima também pela poesia de que a sua escrita é feita: consegue transformar um pesadelo impondo-lhe um traço, aqui e ali, de uma beleza inocente, a inocência das crianças, explicando um amor que à partida, e ao olho crítico do adulto, jamais poderia sequer ser invocado. Mas ela invocou. Sem qualquer pudor.
Um livro que merece leitura nua, leitura sem arnês, sem grandes apontamentos. Não leia esta biografia certo de saber já muitas coisas sobre esta peculiar e especial mulher. Ela cresceu com os pais ausentes, perdidos também eles nas suas vidas boémias e livres. Viveu a maior parte do tempo com a sua avó, dona de uma mercearia. Ali decorreram a maioria das aventuras de Maya. As brincadeiras. Os doces. A primeira amiga. A preparação para uma vida repleta de surpresas e, nem sempre, vistas da melhor perspectiva. Mas ela viu. Ela tirou o melhor partido em tudo o que viveu. Chamam-lhe resiliência. Uma força interior que é dom, o brinde de nascença apenas e só de alguns: os dotados de um coração maleável, elástico que estica até aos confins de um sonho.
Um testemunho que deveria ser um alerta para todos aqueles com a tendência, tão fácil, à vitimização. A todos nos é dada essa possibilidade, a de nos deixar cair, a desistir, a encostar o corpo cansado como desculpa. Temos, do outro lado, a possibilidade de - mais recuperados - ver o lado bom das sombras. Nada mais é do que a luz que nos entra janela adentro. Deixe. Deixe entrar essa luz.
Maya Angelou vai mostrar-lhe isso mesmo neste que é um livro que recomendo com ambas as mãos.
Seja feliz,
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