Longe da multidão (Thomas Hardy)

sábado, 6 de junho de 2020


O livro de Thomas Hardy poderia ser sobre tantas e tantas coisas. Sobre amor, sobre trabalho, sobre resistência e resiliência. Poderia ser sobre tudo isto, que o é, mas sobretudo, é uma história que exalta grandemente o poder do destino.
Em «Longe da Multidão», um dos romances mais aclamados e conhecidos do autor, conheceremos a história do pastor Gabriel Oak e a paixão desmedida que nutriu durante toda a sua vida por Bathsheba Everdene, uma das personagens - na minha opinião - mais interessantes da literatura clássica (e não apenas a inglesa). Ela é enigmática, bela, conhecedora dessa mesma beleza que usa em proveito próprio, é astuta, determinada e consciente do poder que alastra por onde passa. É também a herdeira de uma vasta propriedade rural que rapidamente lhe calhará em gestão, fruto da morte de seu tio e dono daquela propriedade, agora plenamente sua.
Se Gabriel Oak se perde de amores, também o respeitável agricultor (mais velho) Boldwood se perderá. Como se não bastasse, o sargento Troy, recentemente de regresso a Weatherbury, desejará desposá-la. 
Se inicialmente o leitor será compelido a entender uma história de amor entre Bathsheba e Gabriel, que logo se apronta a lançar-lhe um inesperado pedido de casamento, muitas serão as voltas que o farão mudar de ideias. Afinal, Bathsheba parece antes apaixonada apenas por si mesma. Mais tarde, a mulher parece afinal ser capaz de desejar o desejo de um homem, brincando infantilmente com o coração de Boldwood nunca prevendo, na verdade, as consequências desastrosas que daí virão.
Mais tarde, o leitor pensará que Bathsheba se apaixonou de vez, pelo homem mais inesperado. Sentirá no coração o ímpeto exacerbado de a alertar. Bathsheba, não faça isso. Tenha tento na língua mas, mais ainda, cuidado com as ações desenfreadas que só as paixões tolas provocam.
Caro leitor, acredite-me: vai viver um alvoroço à medida que toda esta empolgante história é narrada. Vai sentir-se triste, nervoso, torcerá pelo amor tão visível a si, leitor atento, mas tão sombrio e despercebido aos olhos de todos. 
É isto que Thomas Hardy nos faz neste livro e cai-me a suspeita que assim será em todos os que escreveu: mergulha-nos à força no mundo que criou pelo seu próprio punho e faz-nos sentir a participação clara numa história frenética, magistralmente bem escrita e orientada numa catadupa de acontecimentos que o deixará quase à beira do desespero. Não estou a exagerar. Olhe que não estou mesmo a exagerar!

Lembra-se quando referi que, independentemente de todos os temas que o livro encerra, é sobre o poder do destino que se extrai toda a sua essência? Ah, pois. É que no meandro de tantos jogos levados a cabo pelo coração tumultuoso de Bathsheba, os dias aproximam-se, somam-se e ensinam-lhe que a dor sentida e o lamento da má sorte, tinham um propósito maior. A prova de que a dor e os problemas são portas que se fecham para abismos maiores. A dor como resposta necessária a quem, por fim, encontra a resposta certa, sempre ali tão à mão de semear.

"O afecto que os unia era aquele que nasce entre duas pessoas que começam por conhecer os piores aspectos da personalidade uma da outra e só ao fim de algum tempo descobrem os melhores, o romance crescendo nos interstícios de uma realidade muito prosaica. (...). Quando, porém, circunstâncias felizes permitem que se desenvolva, este sentimento duplo vem a revelar-se o único amor que é tão forte como a morte - esse amor que nenhum dilúvio saberia extinguir ou afogar, e ao lado do qual aquilo a que chamamos «paixão» é evanescente como o vapor."
💓

Adorei conhecer Thomas Hardy e estou plenamente certa do meu desejo em comprar cada livro seu e morrer para o mundo a partir do momento em que a primeira página se me afigure aos olhos.
Até agora, uma das descobertas mais felizes do ano.




Seja feliz,

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