A Manhã do Mundo (Pedro Guilherme-Moreira)

domingo, 4 de janeiro de 2015


Há pessoas que não sabem nada. E por isso, abrem a boca para de lá saírem as maiores barbaridades do mundo, despojadas dos reais sentidos do coração, esse, adormecido numa imbecilidade que os dias vão cimentando e justificando. Quem sabe, à força da rotina martelada pelas horas certas, pelo alheamento fácil, sei lá eu, talvez pelo conforto da ignorância. Não sabendo, ou fazendo por isso, há uma certa legitimidade para corroborar teorias vazias de sentido. Um vazio cheio de coisas imbecis.
Parecem devaneios, os meus. Se calhar sim, se calhar não.
«A Manhã do Mundo» é um livro sobre o 11 de Setembro, dirigido a todos nós. Não apenas a quem sofreu de perto o maior atentado de sempre, mas para todos aqueles que permanecem um tanto enevoados pelas tragédias e pela boca facilmente aberta para tecer comentários fáceis.
A história enfatiza o pensamento de Ayda, que catalogou as vítimas que saltaram como cobardes, esses, que desistem assim de viver tão prontamente. Saltam. Voam. E acaba. Malditos! Disse ela.
E é então que a vida surpreende com essa coisa de universos paralelos. A grande questão - E SE? - com que tantas vezes somos confrontados, fazem-nos cair tantas iguais vezes num ridículo, mas essencial a vivermos um pouco mais. E se?
Quando damos por nós, há uma segunda vida, um segundo dia, uma segunda oportunidade a passar ali, bem à frente, como o filme que resolvemos ver outra vez no Domingo à tarde e agora - só agora - entendemos uma nova versão que estava tão escondida nos diálogos das personagens. Havia outro sentido. Poderia haver, afinal, outra interpretação. Outra liberdade de movimentos. Outro sentir. Diferente. Mas igualmente possível. E digno. Corajoso. Só capaz de quem voa sem asas.
 
 
"O homem olha sempre a morte dos outros com receio da sua." (p.177)
 
 
Um livro triste, mas real e pungente nessa arte de nos permitir olhar para dentro, e para fora. Sobretudo, para fora.
Apreciar, valorizar ao invés dessa boca grande ao criticar o que tantas vezes está fora do nosso alcance.
 
 
"Será preciso explicar a essa gente o mal que se está a fazer ao bem que se tenta proteger? A liberdade, ou, mais do que a liberdade, a memória dos livres? (...)
 
E, para que sejamos nobres no momento próprio, não podemos silenciar, esconder ou branquear." (p.203)
 
 
 
 
Ao som de: Gemma Hayes - Back Of My Hand
 
"Oh no no no no, I am not afraid to lose
Oh no no no no
Just gimme some time and I'll walk to a different groove"
 

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