Amor Líquido (Zygmunt Bauman)

sábado, 5 de agosto de 2017


Zygmunt Bauman é considerado um dos mais atentos observadores das condições do mundo atual. Nessa sequência e fruto das suas investigações, criou o conceito de «modernidade líquida» para a sociedade de hoje. Nada é para durar, aparentemente.
Nasceu na Polónia, em 1925, onde estudou Sociologia na Universidade de Varsóvia, ocupando a cátedra de Sociologia Geral.
 
«Amor Líquido», um dos mais aclamados livros do autor, foca as particularidades (atuais) do relacionamento humano cujos "personagens centrais são homens e mulheres (...) desesperados por terem sido abandonados aos seus próprios sentidos e sentimentos facilmente descartáveis."
 
A tendência dos dias de hoje, em matérias de amores e corações assolapados, é firmada por um receio generalizado. Receio de dar sem receber. Receio de se entregar na incerteza da vontade do outro. Atualmente, as relações amorosas e a criação de uma ligação duradoura é, cada vez mais, sentida como uma armadilha a ser evitada a qualquer custo.
 
Os porquês escondidos entre tanto receio é um dos grandes propósitos do autor.
A ideia de «viver junto» com alguém, dar de si sem arnês, parece cada vez mais uma utopia com sapatos de Cinderela à mistura. Sapatos que não nos permitem desbravar o caminho da intimidade. Em alternativa, caminha-se pelos trilhos de uma modernidade imposta, em grande parte, pelos avanços tecnológicos e as redes que se estabelecem no invisível, no fácil, no imediato. No entanto, mesmo as relações cada vez mais pautadas pelas teclas «enter» e «delete» não deixam, ironicamente, de contribuir para a ansiedade, a pressão e a necessidade de estar, sempre, presente.
 
Os dias de hoje são pautados pela desaprendizagem do amor, este, assente num novo status, muito mais reciclável. Num paralelismo extraordinário, o autor compara as relações pessoais às relações de consumo: vamos usar até deixar de fazer falta. Enquanto o produto está apto, cativante e capaz de nos realizar, pode manter-se ali. Quando deixar de obedecer à regra do bom uso, nada como uma tecla «delete».

Falemos em amores de bolso: são pequenos, capazes de se adaptarem rapidamente e, na mesma medida, capazes de desaparecerem na força da nossa própria vontade.
O que me dirá: interessante ou assustador?
 
Na mesma linha de pensamento de Lucano ao defender a ideia "É natureza do amor ser refém do destino", Bauman aponta-nos o dedo para afirmar que o amor exige a incompletude para encontrar o seu real significado. Talvez a crise de valores que se vive atualmente possa, de facto, ser explicada por dois pontos bem assentes nesta obra: a ausência de coragem e humildade.
 
Não acredite o leitor nessa capacidade tão instantânea de amar, como comida pré-feita. Não acredite o leitor nessa fusão de amor e desejo sendo que, na verdade, o último carece dramaticamente do primeiro, numa simbiose perigosa, mas necessária. Não acredite o leitor que faz parte de uma comunidade através de alertas, constantes, de mensagens soltas. Não acredite o leitor que tais conversas detêm significado. O paradoxo atual das redes sociais passa, essencialmente, por essa ilusão de pertença. A quem? A quê? E quando?
 
São muitas as questões a que Bauman o desafiará refletir.
Muitos outros pontos são abordados ao longo da sua investigação como, por exemplo, a globalização, as políticas e todo um conjunto avassalador de mudanças sociais que, aparentemente, justificam e fazem prevalecer a tendência ao isolamento como utopia de uma segurança vazia. Da construção de um amor-próprio, unilateral e doente à nascença.
 
Pessoalmente, a forma como os laços humanos tendem a afastar-se, cada vez mais, nada tem de interessante. O cenário assustador que Bauman nos revela, permite-nos perceber (mesmo que não queiramos) a constante conspiração contra a confiança.

Vamos pensar mais sobre isto.
 
Recomendo com ambas as mãos.

2 comentários:

Carlos Faria disse...

Nunca li nada dele, mas parece-me que é um tema perturbador...

Denise disse...

É um tema urgente, Carlos.
Infelizmente, pelos piores motivos.

Recomendo!

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