Verão sem homens (Siri Hustvedt)

domingo, 21 de janeiro de 2018

 
«Verão sem homens» de Siri Hustvedt relata-nos a história da poetisa Mia, personagem peculiar que após trinta anos de casamento, se vê confrontada com um pedido, por parte do marido, de uma pausa. De um interregno. De um "vamos ver como corre."
 
O cenário deste pequeno livro enfatiza a rejeição e abandono que Mia sente após o marido decidir envolver-se com uma mulher mais nova, colega de trabalho, francesa e com todo um conjunto de características que colocarão Mia, sempre, na dúvida das suas capacidades, das suas potencialidades enquanto mulher madura. Houve uma Pausa, os nomes não são necessários e é, precisamente, nessa pausa que tudo parece acontecer.
 
Mia decide ir viver para perto de sua mãe, alugando uma casa próxima, com o intuito de lecionar poesia a um grupo de sete menina púberes. Gradualmente, a sua vida começa a reinventar-se numa nova ordem: as aulas com as jovens meninas e, também, a aproximação ao grupo de amigas séniores de sua mãe.
 
É neste confronto de gerações que o leitor se conhecerá as profundas reflexões de uma personagem marcada pelo abandono inesperado (não o é sempre?) e a sua tentativa, ainda que sempre sentida como frustrada, de lhe escapar. De se superar a si mesma.
 
O livro de Siri Hustvedt fala-nos, abertamente, da diferenciação de género, colocando em opostos extremos o papel de cada um, homem e mulher, bem como a dor da perda, os amores e desamores, a família, e a estrutura abalada de um coração que se dispensa, de um momento para o outro.
"A loucura é um estado de profunda autoabsorção. É necessário um esforço extremo só para não perdermos o rasto ao nosso próprio eu, e a viragem para a cura acontece no momento em que permitimos a entrada a um pedaço do mundo exterior (...)." p.21
Com um humor contagiante, o discurso de Mia não nos deixa indiferentes. Tal acontece não necessariamente pela riqueza dos assuntos que expõe, nem tão pouco pela originalidade parca de um tema muito abordado mas, sobretudo, pela empatia que a personagem nos vende: o dramatismo, a sensibilidade e a necessidade de uma redescoberta em si mesma, obrigará o leitor a querer saber o desfecho de uma história tantas vezes repetida.
O final, esse, com contornos sempre diferentes pelo peso, também ele diferente, de uma traição.


Boas leituras e faça o favor de ser feliz,

2 comentários:

Carlos Faria disse...

De Siri Hustvedt li "Elegia para um Americano", novamente a relação homem mulher está presente com dúvidas, uma obra que gostei muito do modo de narrar e do tratamento dos sentimentos.

Denise disse...

Olá Carlos :)

Da autora já tinha lido «Mundo Ardente». O presente não superou, apesar de ter gostado. «Mundo Ardente» é um livro genial. Gostei imenso na altura. Deixo a recomendação.
Também tenho «Elegia para um americano», mas ainda não me aventurei.

Beijinhos e boas leituras!

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