Amy Bloom é uma escritora e psicoterapeuta americana, nascida em 1953. Em Portugal, temos editado o presente livro de que hoje vos falo. A autora lançou, recentemente, o seu quarto livro intitulado «White Houses» e que foi, inclusivamente, muito elogiado pela Joyce Carol Oates (uma das minhas escritoras de eleição).~
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"É sempre assim: as melhores cumplicidades estabelecem-se entre pessoas com problemas."
Nunca uma primeira frase de um livro fez tanto sentido na história como, inclusivamente, a consegue resumir (quase) na totalidade. Este é um livro amargo, de uma vida pautada por dificuldades e pelas cumplicidades que nascem desse ponto comum: o desamparo.
Lillian Leyb é a personagem desta incrível história de superação. Esta mulher, com 22 anos, é judia, nascida na Rússia e mãe da pequena Sophie. Vítima de um massacre (Rússia, 1924), que lhe mata a filha e todos os seus familiares, Lillian viaja para a América na tentativa de se salvar e esquecer o seu passado. É um recomeçar repleto de aventuras e desventuras, a maioria, quase inusitada. A autora retrata a complexidade humana e a moralidade de uma forma sublime. Há um momento na história que Lillian se verá confrontada com a prostituição como resposta a um conforto que sempre tardou na sua vida.
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"(...) e visto que Deus, na Sua infinita sabedoria, tinha permitido que estas coisas acontecessem, se esta particular cadeia de acontecimentos havia de levar a que ficasse dona de uma casa com dois quartos, lareira e janelas, quem era ela para se questionar sobre os Seus métodos?"
Foi a escrita de Amy Bloom que me conquistou. Foi a subtileza de quem escreve sobre comportamentos à partida condenáveis sem, no entanto, causar qualquer repulsa no leitor: Amy Bloom encharca o leitor com a empatia de quem consegue ver para lá do óbvio, do julgamento fácil.
Tudo parece ganhar uma normalidade na vida de Lillian, que esta suporta com a resignação de quem perdeu tudo, até ao dia em que é confrontada com a notícia de que Sophie pode estar viva, salva por uma família que a levara para a Sibéria.
A partir deste momento, uma nova viragem acontece na vida de Lillian. Larga tudo e parte em busca da sua filha. «Até ao fim do mundo» é um retrato forte e simultaneamente sensível sobre aquilo que representa ser mãe, sobre o poder interior e a esperança, que nunca morre.
O leitor acompanhará uma jornada pautada por muitas dificuldades, provações e constantes obstáculos de quem caminha, por esse mundo fora, completamente só. Mas voltemos à esperança, pois é dela, maioritariamente, que este livro é feito. São muitas as dificuldades, serão muitos os momentos em que a crueldade se instala e nos dita a certeza de um mundo podre, contudo, Lillian será igualmente confrontada com pequenas esperanças, feitas de gente, na prova viva de que, afinal, nem tudo está perdido.
Lembre-se, caro leitor, "as melhores cumplicidades estabelecem-se entre pessoas com problemas" e Amy Bloom, na pessoa da inesquecível Lillian, vem provar que é no desamparo que se conhecem os braços com dores comuns. Braços alinhados com o empurrão necessário para nos levar até ao fim do mundo.
Este é um livro que brinda a resiliência, a esperança e o amor em todas as suas vertentes. A somar a estas temáticas sempre urgentes, a escrita de Amy Bloom surge como a cereja no topo do bolo, fazendo deste livro uma espécie de exercício empático: até onde seremos capazes de ir por amor?
Leia!
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