São muitas as definições, umas mais científicas do que outras, sobre a fase da adolescência. Seja o sistema endócrino que acorda agitado e lança hormonas, maioritariamente zangadas ou, simplesmente, uma fase mais sensível do desenvolvimento humano. Seja como for, nada define melhor a adolescência como a época dos despertares.
A minha especialidade de formação académica (Psicologia Educacional) é a fase da adolescência. Foram muitos os miúdos que conheci/trabalhei e em todos eles (e elas) podia perceber um ponto comum: desamparo. São os pais que deixam de ser os ídolos a seguir para, também a seguir, passarem a bestas que os impedem de fazer aquilo que os corações - tão cheios de si - teimam como o irrevogavelmente certo. Há um mundo a salvar, ninguém o consegue entender. E isso é revoltante.
Todas as alterações físicas vividas na adolescência trazem, na mesma medida, novos processos ao nível do pensamento, novas aquisições que lhes permitem criar novos conceitos, mas acima de tudo, a capacidade de análise de uma determinada realidade sob inúmeras perspectivas (aquisição ao nível do pensamento abstrato).
Toda esta introdução, à qual não consegui abster-me, tem como propósito garantir-lhe, a si leitor, que a obra de que hoje lhe falo (uma graphic novel), não poderia descrever melhor essa conturbada fase que é a adolescência.
Craig Thompson inspirou-se na sua própria história para, magistralmente (e repito quantas vezes forem necessárias!), nos oferecer uma linda história sobre o primeiro amor e as aflições que se plantam, desde logo profundamente enraizadas, nos corações.
Por ser uma história comum, capaz de se rever em tantas outras, criamos à partida um elo de ligação a Craig e, no balanço, regredimos para aquele tempo adolescente em que as pernas e os braços não se adequavam ao resto do corpo, em que as borbulhas eram confrontos diretos a uma autoestima tão frágil, ao corpo que parecia inflamar-se contra a própria vontade. É assim, quase contra a própria vontade, que o autor nos desafia a isso mesmo, a regredir à nossa própria história para, em espelho, empatizarmos e torcermos (ferozmente!) por este ternurento jovem casal.
Poderia ser, apenas e só, mais uma história de amor mas, a verdade, é que em todas elas há o cunho da singularidade. Em «Blankets» percebemos a grande máxima do agora. Esta emocionante história vem provar verdades que nós, adultos complexos, tanto desejamos ignorar: a vida vale pelo momento pleno, por esse agora que em breve deixará de o ser. Só assim a vida faz real sentido, pelo presente que é, em todas as suas formas.
Se o amanhã lhe apresentar uma realidade diferente saberá, conscientemente, que soube viver cada minuto, cada hora, cada instante com a entrega que o amor sempre nos pede.
"How satisfying it is to leave a mark on a blank surface. To make a map of my movement - no matter how temporary."
Seja feliz,
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