Li Carol Shields pela primeira vez em 2019. Rapidamente se tornou um dos melhores livros lidos, somando também uma estima muito grande pela autora, que escreve daquela forma limpa, em que a simplicidade que impõe nas pequenas coisas da vida, as embeleza e engrandece de um modo singular. A autora, nesse jeito limpo e poético de escrever, atira-nos não areia, mas muita água límpida no rosto, faz-nos enxergar com os olhos de dentro. Carol Shields mostra a beleza das vidas simples, sempre tão cheias.
Essa essência de uma escrita bela em torno de uma história aparentemente simples volta a acontecer em «Unless». (Infelizmente, em Portugal, temos apenas editado «A Memória das Pedras», Editorial Presença.)
Esta é a história de uma mulher, editora, mãe de três filhas, um bom relacionamento com o companheiro, amor aos livros, ao seu trabalho na área da literatura e uma paixão tímida pela escrita. Passará a timidez e tornar-se-á uma escritora de relativo sucesso.
Até aqui a vida corria-lhe de feição, dias certos, algumas boas esperanças, a excitação do ofício que tanto gosta, cafés e conversas animadas com as amigas. E lá vai a vida, arrumada, numa orquestra ritmada, sem interferências.
Como todas as histórias, também a dela anunciou uma reviravolta. Se nos dizem que a felicidade não é um estado, mas sim um processo, Reta Winters está prestes a interiorizar a ideia que é, na mesma medida, o arnês que nos salva das sombras.
Sem nada prever, a sua filha mais velha, Norah, larga os estudos, o namorado, a sua casa, e decide viver nas ruas. Passa os dias sentada numa esquina fria com um cartaz na mão. O seu ato é simultaneamente de revolta e de sensibilização para o verdadeiro significado da bondade.
Para Reta, nada justifica o comportamento da filha e se, num primeiro momento, a negação toma lugar, rapidamente, a mãe começa a tentar compreender as motivações da filha, num paralelismo interessante com a própria obra que está a escrever.
Carol Shields escreveu um livro sobre mulheres, sobre a maternidade e num campo mais amplo, sobre o lugar confortável que só encontramos na família, nunca perfeita, mas sempre munida de novas possibilidades.
Ao som de: Angus & Julia Stone
Seja feliz,
1 comentário:
Acredito que seja um livro fascinante de ler
Cumprimentos
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