Escrito em 2008 e vencedor do Pulitzer Prize em 2009, «Olive Kitteridge» é, sem rodeios, um livro sobre a vida.
O leitor, ao longo dos treze contos narrados em Crosby, uma pacata povoação no Maine, conhecerá gentes comuns que, à laia dos lugares pequenos, todos se conhecem por pouco que seja. No meio está uma ilha de nome Olive Kitteridge. É assim que a vejo, uma personagem que parece estar em todos os lugares, de forma mais ou menos evidente, agitando a vida dos que passam por ela, igualmente solitários, igualmente perdidos.
É um livro sobre a vida e a vida tem sempre muito que contar, Olive sabe-o bem. Professora de Matemática, odiada por muitos, adorada por outros tantos, conheceremos num hiato de trinta anos aquela que foi a sua vida, bem como os anseios que o peso da idade vai trazendo e, num registo muito próprio, a sombra da solidão como o fim de tudo o que foi e a possibilidade do que poderia ter sido.
Todas as personagens vivem de uma dor que as sustenta. A ideia de que a felicidade mora ali ao lado e que nós, quanto mais apressados para a alcançar, mais perdemos, surge aqui numa evidência que nos convida, a todos nós, a fazer parte dessa ilha que é Olive e, no seu jeito desordenado, tantas vezes inconveniente, aprendermos com as palavras que vai largando, sempre certeiras.
Se há amor verdadeiro no casamento de Olive é precisamente pelas diferenças gritantes entre a sua brutalidade e a doçura de Henry. É essa disparidade que os une, assim como a maioria das personagens deste livro: serão sempre os detalhes pouco prováveis a dar sentido à complexidade disto que é viver.
É o amor aos filhos que facilmente esquecem o esforço dos pais e vão embora sem grandes explicações. Os amores da adolescência que ficam ali a ferver em banho-maria, a borbulhar um futuro destinado a não acontecer. É a esposa que decide não querer mais intimidade com o marido. É o marido que, após lutar com a sua afiada moralidade, aprende a amar fora de casa. São os adolescentes inexperientes que aprendem, tantas vezes, da maneira mais cruel. É todo o conjunto dessas dores que vão sustentando os dias e justificando uma vontade crescente de viver independentemente da equação que subtrai horas, soma agruras e, ainda assim, abençoados sejamos pelos dias novos que ainda nos esperam.
"Não tenham medo da vossa fome. Se tiverem medo da vossa fome, serão só mais uns patetas, como toda a gente."
Um belíssimo livro.
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2 comentários:
Bela resenha! Olive Kitteridge é realmente um livro sobre a vida, o envelhecimento, o amor, a empatia, a solidão... Cabem todos os sentimentos nestas treze histórias tão bem escritas e tão humanas.
Muito obrigada pelo seu comentário!
É de facto um daqueles livros que ficam para sempre.
Boas leituras!
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