Hoje venho falar-vos de um livro de Fannie Flagg, autora pela qual fui ganhando curiosidade pelas inúmeras vezes que ouvia falar. Aqui e ali.
«Ainda Sonho Contigo» é uma linda história de amor próprio, e resiliência, que o leitor terá a oportunidade de ver crescer, gradualmente, na personagem inesquecível de Maggie.
Maggie decidiu que estaria na hora de pôr termo à vida. Vida já cansada de ser, pelas agruras de um passado que fora tudo menos o suposto. O suposto de uma mulher que, no auge da sua juventude fora galardoada com a coroa de Miss Alabama, prémio que moldara a visão desta mulher para sempre. A beleza inegável, jurada a pés juntos por todos os conhecidos e desconhecidos, criaram nela a certeza de que teria, a bem ou mal, de singrar na vida. Independentemente dos sacrifícios a que para isso tivesse de se sujeitar. E foram muitos, ao longo de uma vida que, aos olhos desta mulher, pareceu voar e o tempo de parar e conquistar outras coroas, outras medalhas, excedeu a validade esperada.
Uma Miss que agora vende casas. Uma mulher que poderia ter casado. Mas não casou. Uma mulher que poderia ter sido mãe. Mas que não foi. Um conjunto pesado de somas que lhe subtraíram todos os sonhos que algum dia ousou ter.
Maggie, agora na casa dos sessenta anos, sente-se assim. Fora da validade. E se isso ao leitor menos experiente parecer uma espécie de cliché ou, quem sabe, uma história enfadonha de quem se procura e que sem nada encontrar, se esconde para sempre, engane-se.
Nesta pequena história, Fannie Flagg confrontará o leitor com uma mulher que através da sua própria perda, se encontrará. É precisamente quando sente que pode ir de vez, que percebe os motivos de sobra para ficar.
Num registo de seriedade, com laivos de comédia à mistura e de momentos verdadeiramente hilariantes, Flagg delicia o leitor menos emotivo ao transmitir uma mensagem que se quer ampla e sem preconceitos: a depressão é uma espécie de campainha avulsa, capaz de soar à porta de qualquer um. O segredo está em saber encarar. Cada um à sua maneira. Tal como Maggie, ou como você que acaba de me ler, agora mesmo.
À Editora Guerra & Paz deixo o meu enorme obrigada, que desde logo acedeu a este meu capricho.
Ao som de: Ben Howard "Promise"
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